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Morre o economista e ex-ministro do Trabalho Walter Barelli

Aos 80 anos, ele estava em coma havia três meses; comandou o Dieese, quando a entidade se tornou referência, e deputado federal pelo PSDB

Foto do author Cristiane Barbieri
Por Cristiane Barbieri (Broadcast)
Atualização:

Morreu nesta quinta-feira, 18, o ex-ministro do Trabalho Walter Barelli. Aos 80 anos de idade, ele estava em coma havia três meses, depois de bater a cabeça numa queda, na escadaria do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Ele estava internado no hospital Sírio Libanês e morreu de falência de múltiplos órgãos, ao lado da família.

Foi casado com Lourdes Barelli. Deixa os filhos Suzana, Pedro e Paulo Barelli, e cinco netos. Nascido em São Paulo, ele será enterrado no cemitério Gethsêmani Anhanguera no sábado, 20, e o velório acontecerá nesta sexta-feira, 19, na cripta da Catedral da Sé, a partir das 15 horas. Ele completaria 81 anos no próximo dia 25.

O economista e ex-ministro do Trabalho Walter Barelli. Foto: Jonne Roriz/Estadão - 15/1/2019

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Ministro do governo Itamar Franco, ele também foi secretário de Emprego e Relações do Trabalho dos governos Mário Covas e Geraldo Alckmin e deputado federal pelo PSDB. Ex-seminarista, não perdia as missas dominicais nem os jogos do Corinthians. Segundo familiares, Barelli vinha tendo uma vida plena, antes do acidente, participando como voluntário em várias atividades, principalmente na Cúria, na produção de artigos e no convívio com filhos e netos.

Graduado em Economia pela FEA e pós-graduado em Sociologia do Desenvolvimento também pela USP, ele era doutor em Economia e professor da Unicamp. 

Barelli começou sua carreira no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no qual trabalhou entre 1966 e 1990 e se tornou diretor-técnico. Em plena ditadura, o Dieese ganhou destaque pela elaboração de índices econômicos sem manipulação feita pelo governo, à época. “Quando o Banco Mundial publicou algumas tabelas dizendo: ‘para 1973 não usamos os dados oficiais, mas, uma estimativa que é a mais correta (elaborada pelo Dieese)” foi a glória”, escreveu Barelli em seu site pessoal.

No auge do movimento sindical, os cálculos da entidade passaram a ganhar peso e importância nas negociações salariais. Por anos, o Estado usou o índice do custo de vida do Dieese. Assim, a entidade tornou-se referência e ganhou proximidade sobretudo de sindicatos emovimentos de esquerda.

Em 1979, durante o governo João Figueiredo, a prisão de Barelli pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) gerou comoção. Os então deputados Almir Pazzianoto e Eduardo Suplicy e vários líderes sindicais, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva, foram ao prédio do Dops e à sede do Dieese, onde fizeram uma “vigília cívica”. Barelli acabou sendo solto, com o diretor do Dops à época, Romeu Tuma, dizendo que havia sido “um grande engano”. 

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A importância, o apartidarismo do Dieese e a proximidade de Barelli com movimentos sindicais de tendências variadas foram alguns dos motivos que causaram estranheza quando ele aceitou o convite para o Ministério do Trabalho, no governo Itamar Franco e, posteriormente, filiou-se ao PSDB, em 1994. 

Sua indicação para a pasta encontrou a oposição dos líderes industriais, que o identificaram com as propostas à esquerda. Barelli costumava dizer que o Brasil precisava mais de um Ministério do Emprego do que um Ministério do Trabalho. Elaborou programas de geração de empregos, enfatizando a recuperação econômica de setores empregadores de mão de obra intensiva, como construção naval, agroindústria e automobilístico.

Deixou o governo para disputar a candidatura a vice-governador de São Paulo na chapa encabeçada por Mário Covas, mas o escolhido foi Geraldo Alckmin, então presidente do PSDB de São Paulo. Participou da elaboração do programa do candidato de seu partido à presidência da República, Fernando Henrique Cardoso, no tocante à geração de empregos, que considerava prioridade do PSDB.

Em janeiro de 1995, Barelli assumiu a Secretaria de Emprego e das Relações de Trabalho de São Paulo, compondo a equipe do governador Mário Covas. Criou o Banco do Povo, que fornecia financiamentos para microempresários e o Programa Emergencial de Auxílio-Desemprego, com o objetivo de possibilitar a recolocação no mercado de trabalho de cerca de 50 mil desempregados através das “frentes de trabalho”. 

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Entre outras, publicou as seguintes obras: Pesquisa de cargos e funções (1974), Dez anos de política salarial (em coautoria com César Concone, 1975), Distribuição funcional dos bancos comerciais (1979), Crise econômica de alimentação do trabalhador (1984), Le côut social de la modernisation conservatrice (1990), O futuro do sindicalismo (1992) e O Futuro do Emprego (2002).

FHC lamenta morte

Em nota, Fernando Henrique Cardoso lamentou a morte. “Walter Barelli não apenas foi um economista competente como um cidadão valoroso. Dirigiu o Dieese e lhe deu qualidade. Ocupou posições importantes na cena política brasileira. Sempre teve lado: o dos assalariados. Deixa marcas no País e saudades nos amigos.”

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O presidente do diretório do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, também divulgou nota: "O Diretório Estadual do PSDB-SP lamenta profundamente o falecimento do ex-ministro, economista e professor Walter Barelli. Sua atuação à frente do Dieese, do Ministério do Trabalho e como secretário de Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo deixaram um legado de avanços e qualidade técnica ímpar. O Brasil perde um cidadão valoroso. Aos familiares e amigos, nossos mais profundos sentimentos".

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Abaixo, a nota do Dieese:

"Barelli, sentiremos muito a sua falta! O DIEESE e as entidades que representam os trabalhadores em todo o Brasil estão de luto de hoje. Em nome de todos, o DIEESE manifesta pesar pelo falecimento de Walter Barelli, economista e ex-diretor técnico da instituição, ontem em São Paulo. Barelli trabalhou no DIEESE entre 1965 e 1990. De 1968 até deixar a instituição, representou o principal nome do órgão, atuando como diretor técnico. Durante a campanha para a eleição presidencial de 1989, ficou responsável pela área de economia do então candidato e hoje ex-presidente Lula, e depois atuou como coordenador do governo paralelo, para propor alternativas ao governo Collor. Entre 1992 e 1994, esteve à frente do Ministério do Trabalho no governo de Itamar Franco, mais tarde, elegeu-se deputado federal e foi secretário do trabalho em gestões de Mário Covas e Geraldo Alckmin no governo do estado de São Paulo. Também foi professor na Unicamp, PUC SP e Fundação Getúlio Vargas. Militante na Universidade de São Paulo, onde cursou Economia, na Juventude Universitária Católica (JUC), no Sindicato dos Bancários de São Paulo, como funcionário do Banco do Brasil, ele ingressou no DIEESE em um dos momentos mais conturbados da história do país, quando o movimento sindical era fortemente perseguido. A competência na condução dos trabalhos, a combatividade, o espírito agregador e a habilidade política foram fundamentais para a consolidação do DIEESE como órgão de assessoria e pesquisa, com reconhecimento em toda a sociedade, e a contribuição expressiva da instituição no fortalecimento dos sindicatos em plena ditadura militar. Nascido em 25 de julho de 1938, era filho de um mecânico de manutenção e de uma tecelã, viúvo, pai de Suzana, Paulo e Pedro, corintiano, além de dieeseano, economista, professor, militante, político. Deixa uma lacuna gigante. Muito da história de Barelli está contado no site de memória do DIEESE: www.memoria.dieese.org.br. O falecimento de Barelli ocorre uma semana antes de ele completar 81 anos. Ele estava internado há três meses, depois de sofrer uma queda. Os funcionários do DIEESE lamentam profundamente a perda e, como não poderia deixar de ser, seguem carregando as bandeiras defendidas por Barelli durante a vida toda: o fim da desigualdade, a distribuição da renda e o emprego de qualidade. Barelli! Presente!"

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