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Morre o fundador da Gurgel Motores

O engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel estava internado havia cinco dias

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Por Redação
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O dono da extinta Gurgel Motores, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, morreu sexta-feira, em São Paulo, aos 83 anos. Engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo e aficionado por tecnologia automobilística, ele sofria do mal de Alzheimer há oito anos e estava internado no Hospital São Luiz desde o início da semana passada. Sua história sempre foi marcada pelo empreendedorismo e pelas ideias inovadoras. Depois de terminar a faculdade na capital paulista, Gurgel seguiu rumo aos Estados Unidos, onde fez pós-graduação e trabalhou como estagiário na Buick Motor Corporation e na General Motors Truck and Coach Corporation. De volta ao País, passou por algumas montadoras multinacionais e depois abriu sua própria empresa, uma fábrica de luminosos de plástico. Com o lucro, fabricava karts de competição. Mais tarde se desligou da companhia e criou uma concessionária de veículos, onde continuou fabricando karts e também lançou os minicarros para crianças. Eram mini-Mustangs e mini-Karmann Ghias, com motores de 3 cavalos. Seu maior sonho, no entanto, apenas se tornou realidade em 1969. Gurgel vendeu a concessionária ao empresário Sílvio Santos e, com o dinheiro, fundou a Gurgel Motores, uma montadora genuinamente brasileira. Já no primeiro ano de existência, a empresa lançou o Ipanema, um buggy fabricado sobre a plataforma da Volkswagen. O carro caiu nas graças especialmente de fazendeiros como substituto do Jeep. Foi aí que decidiu criar seus próprios utilitários, com chassi diferenciado e carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro (característica marcante dos veículos da Gurgel). Em 1973, a empresa lançou o jipe Xavante, o primeiro sucesso de venda da Gurgel. O carro logo agradou ao público, por sair da concepção tradicional do buggy, e ao Exército brasileiro, que fez grande encomenda. No ano seguinte, quando a febre da energia limpa nem passava pela cabeça das pessoas, a Gurgel apresentou o Itaipu, um projeto pioneiro de carro elétrico. No final da década de 70, a empresa conseguiu exportar parte de sua produção, composta por dez modelos diferentes, para países como Arábia Saudita e Bolívia. Nos anos 80, surgiu um dos veículos mais conhecidos, o BR-800. Quase todos os carros eram abastecidos tanto com gasolina como álcool, apesar de Gurgel não ser um dos grandes admiradores do combustível produzido a partir da cana-de-açúcar. Na década de 90, com o novo governo de Fernando Collor de Mello e a liberação das importações, a Gurgel sucumbiu à concorrência das multinacionais. Afundada em dívidas e enfraquecida no mercado, a empresa pediu concordata em junho de 1993. Ao longo de 25 anos, a montadora brasileira produziu 40 mil veículos. Alguns deles ainda podem ser vistos em cidades do interior, em sítios e fazendas, a pleno vapor.

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