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Mercado de moto elétrica vive ‘boom’ e fila de espera por produto passa de 1 ano

Referência no setor, pernambucana Voltz não deu conta da demanda; agora, vai abrir uma nova fábrica em Manaus

Por Lucas Agrela
Atualização:
Victor Coelho esperou 15 meses por uma moto elétrica Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Entusiasta de novas tecnologias, o jornalista Victor Coelho, de 35 anos, viu na motocicleta elétrica da empresa brasileira Voltz uma forma de reduzir seu custo de deslocamento diário para o trabalho. Com o litro da gasolina vendido em São Paulo atualmente a quase R$ 7, o gasto para abastecer uma moto com tanque de 16 litros chega a R$ 116. Já o custo para um carregamento completo para a versão com duas baterias da moto elétrica EVS, da Voltz, sai por volta de R$ 2. 

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O caminho do jornalista até essa economia, no entanto, foi longo. Entre a compra da motocicleta e a entrega pela montadora, Coelho esperou 1 ano e 3 meses pelo veículo. E precisou ter paciência para relevar vários adiamentos. Enquanto isso, foi obrigado a manter sua motocicleta a combustão, tendo de renovar o seguro dela na virada de 2021 para 2022.

 “Fiquei extremamente chateado com toda essa situação, porque realmente acreditava na empresa. Havia comprado mais do que uma moto, era uma crença em um projeto – tanto que também adquiri um capacete para vestir a marca por aí. Eu perdi totalmente essa paixão e entendo quem desistiu da compra e pediu ressarcimento”, afirma Coelho. De acordo com a Voltz, empresa criada em Recife, problemas como o de Coelho ocorreram porque a empresa foi surpreendida com um grande interesse dos consumidores. Na pré-venda, iniciada em 2020, foram vendidas 2 mil motos em 15 dias. 

Renato Villar, presindente da Voltz, que fabrica motos elétricas e registrou forte aumento da procura Foto: CARLOS EZEQUIEL/ESTADÃO

Porém, a demanda e a oferta não estavam alinhadas. Então, os atrasos começaram. “Tivemos problemas como falta de matéria-prima, frete marítimo, entre outros desafios”, informou a empresa em e-mail enviado à reportagem.  Para amenizar os problemas, a companhia ofereceu “vouchers” de desconto em aplicativos de transporte para quem tinha comprado uma moto EVS.

Além da falta de peças e desafios produtivos, o preço das motos elétricas ainda é mais alto do que o de motos a combustão – elas chegam a custar o dobro, ou cerca de R$ 25 mil. Fora isso, há o tempo necessário para recarregar as baterias, de cerca de cinco horas.

A autonomia da moto elétrica também é menor do que a de uma moto a combustão, 180 km ante 640 km, mas o preço final ainda é mais baixo para o consumidor. Em um trajeto de 20 km, o gasto com combustível é de R$ 3,63 ante R$ 0,30 em uma elétrica – uma diferença de 1.000%. 

O Estadão apurou que a empresa vendeu mais motocicletas do que teve capacidade de entregar aos consumidores. Entre outros componentes, a Voltz lida com escassez das baterias para as motos. Em grupos no aplicativo de mensagens Telegram, as críticas aos atrasos nas entregas são constantes em todas as publicações da empresa neste ano.

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Mais capacidade

 A companhia trabalha para ampliar a capacidade produtiva. Com uma nova fábrica em Manaus, a empresa planeja produzir, com montagem em dois turnos por dia, 2 mil motos ao mês. A fábrica deve começar a funcionar nos próximos dias. A Voltz recebeu um aporte de R$ 100 milhões no ano passado para ampliar seus negócios no País. Além de ser voltada para consumidores finais, a startup vende os veículos em parceria com aplicativos de delivery, como o iFood. Outras companhias de entregas, como Loggi e Shippify, também estão no radar para novas parcerias.

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