Publicidade

Motoristas de app dizem que fusão Localiza e Unidas prejudica categoria

Representantes de condutores de serviços como Uber e 99 estão preocupados com o impacto para a categoria

Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Lorenna Rodrigues (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - Uma das fusões mais importantes em análise pelas autoridades concorrenciais neste ano, a união das locadoras de veículos Localiza e Unidas ganhou, além da oposição dos competidores, novos antagonistas: motoristas de aplicativos. 

O temor é que a fusão diminua a concorrência e aumente o preço da locação para os motoristas Foto: Daniel Teixeira/Estadão

PUBLICIDADE

Representantes de condutores de serviços como Uber e 99 estão preocupados com o impacto para a categoria. De acordo com a Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp), 25% dos motoristas dirigem carros alugados no Estado. O temor é que a fusão diminua a concorrência e aumente o preço da locação para os motoristas, reduzindo a oferta de transporte ou encarecendo o valor da corrida para os usuários.

“Já vimos uma disparada nos preços dos carros alugados desde que a fusão foi anunciada. Com a falta de concorrência no mercado, eles colocam o valor que eles querem”, afirma o presidente da AMASP, Eduardo Lima de Souza.

Fundada pelo ex-secretário de Desestatizações do Ministério da Economia, Salim Mattar, a Localiza anunciou a fusão com a Unidas em setembro do ano passado, o que criaria uma empresa com valor de mercado consolidado de R$ 48 bilhões. O negócio, porém, só pode ser concretizado após a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), onde está sob análise.

O vereador de São Paulo Marlon Luz, conhecido como “Marlon do Uber” - que foi motorista de aplicativo e se elegeu como representante da categoria -diz que, desde novembro, houve aumento de 15% a 20% no preço do aluguel de carros.

Segundo Marlon, com a pandemia e o crescimento do desemprego, cresceu o número de motoristas de aplicativos. Muitos, porém, não têm carros que cumprem as exigências das empresas nem capital ou acesso a financiamento para comprá-los e, por isso, acabam optando pelo aluguel mensal do veículo.

“Quanto menos concorrência tiver, mais alto vai ficar o preço. A tendência com essa fusão é que esses motoristas que alugam carro desistam. Vão sair do negócio e aí terão menos carros de aplicativo servindo os passageiros, maior demora e preços das passagens aumentando”, afirmou.

Publicidade

Ele disse estar em contato com deputados federais para levar a insatisfação da categoria até o Cade.

Questionamentos

No processo no Cade, a locadora de veículos Movida, que tem 15% de participação de mercado, e empresas menores, como Ouro Verde Locação e Porto Seguro Carro Fácil, manifestaram-se contra a fusão. A Movida e a Ouro Verde questionam o market share (participação de mercado) informado pela Localiza ao notificar o negócio ao conselho, que seria, somado à da Unidas, de 40% da frota nacional de carros para aluguel.

“Em apresentações anteriores feitas a investidores, a Localiza falava que tinha mais de 50% e, a Unidas, mais de 17%. Juntas, as duas empresas têm quase 70% do mercado”, afirma o consultor Juan Ferrés, contratado pela Movida para apresentar um parecer ao Cade em que analisa a operação.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Ferrés afirma que a média de preços cobrados em carros de entrada é na casa de R$ 200 reais a diária em municípios em que só a Localiza atua e cerca de R$ 100 onde há também a Unidas ou a Movida. “Essa operação tem que ser reprovada. A assimetria é tão grande, que não há remédio (ações adotadas pelo Cade para contornar fusões que prejudicam a concorrência, como a exigência venda de participação)”, completou.

A reportagem procurou a Localiza e a Unidas e questionou as empresas sobre as preocupações dos motoristas de aplicativo e os argumentos apresentados pela Movida. A Localiza respondeu que a companhia, “seguindo suas reconhecidas práticas de governança corporativa e transparência”, apresentou ao Cade informações sobre o negócio e estudos sobre a dinâmica do setor.

“Eventuais esclarecimentos sobre a operação estão sendo discutidos com a autarquia”, completou. A Unidas disse que prefere não se manifestar sobre o tema neste momento.

Publicidade

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa os aplicativos de transportes de passageiros, preferiu não comentar o caso. A Uber não se manifestou.

Cade

Em setembro do ano passado, logo após o anúncio do negócio, reportagem do Estadão mostrou que fontes do Cade consideravam a operação “preocupante” pela concentração de mercado gerada.

O negócio só foi notificado ao Cade em janeiro deste ano. Por lei, o órgão tem até 240 dias após ser comunicado para julgar o negócio, prazo que pode ser prorrogado por mais 90 dias, o que pode levar a análise até o fim deste ano.

A fusão Localiza/Unidas deve ser analisada não só levando em consideração o mercado nacional, mas também a concentração gerada nos principais municípios brasileiros e também em aeroportos, como ocorreu no julgamento da compra da Hertz pela Localiza, anunciada em 2016.

Na época, a operação foi aprovada pelo Cade sem restrições porque o entendimento foi que havia outras concorrentes para fazer frente à líder de mercado Localiza, entre elas a Unidas, comprada agora pela empresa. O Cade avaliou não só o negócio de locação de veículos, como o de terceirização de frotas e de venda de veículos usados, que também serão considerados na operação com a Unidas.

Caso o negócio seja aprovado, os acionistas da Localiza deterão aproximadamente 76,8% do capital social total e votante da nova empresa e os acionistas da Unidas passariam a ser donos, em conjunto, de cerca de 23,15%. 

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.