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Movimentos sociais apóiam ONU

Documento condena uso da terra para biocombustíveis

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

Numa reunião prévia à Conferência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) que serviu de palco para o duro discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos críticos do etanol, representantes dos movimentos sociais aprovaram um documento condenando o uso de terras para a produção de biocombustíveis. O texto apóia o relator das ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, para quem o uso de terras agricultáveis para a produção de combustíveis é um "crime contra a humanidade". Em outro ponto, se coloca contra a criminalização do cultivo de folhas de coca, pois esta faz parte do patrimônio cultural dos "povos indígenas dos Andes". O documento, chamado "Declaração da Conferência Especial para a Soberania Alimentar, pelos Direitos e a Vida", foi elaborado durante um encontro que reuniu 120 representantes de movimentos sociais, entre eles agricultores familiares, pescadores e índios de 20 países da América Latina e Caribe. A declaração é um conjunto de recomendações desse grupo para a conferência da FAO. "Os representantes (dos movimentos sociais) expressam seu mais enérgico rechaço à geração, desenvolvimento e uso de agrocombustíveis e toda a geração de energia através da biomassa", diz a declaração. "Fazemos nosso o chamado urgente do relator das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, para que os governos declarem uma moratória internacional sobre todos os incentivos à produção e comércio dos agrocombustíveis." O porta-voz da conferência dos movimentos sociais, o chileno Mario Almada, explicou que a "moratória" defendida no documento significa suspender qualquer forma de incentivo para produzir biocombustíveis. Os movimentos sociais são "especialmente" contra a produção de biodiesel com matérias-primas produzidas pela agricultura familiar. "Isso poderia aumentar a renda do produtor por um ou dois anos, mas o uso de pesticidas tornaria a terra improdutiva após esse período", disse Almada. Informado que o programa brasileiro prevê o uso de plantas nativas, como a mamona, ele não deu o braço a torcer. "O pequeno produtor não pode se transformar em um monocultor." O biodiesel de mamona, dendê e outras sementes de fácil cultivo é a menina-dos-olhos de Lula. Ele vê no programa a oportunidade para gerar renda nas áreas mais empobrecidas do Brasil e também em países da África e da América Latina onde a tecnologia agrícola é pouco desenvolvida. "O presidente Lula está equivocado se acha que vai gerar desenvolvimento dessa maneira", disse Almada.

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