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MPF envia relatório sobre a Parmalat para procurador suíço

Segundo o documento, empresa enviou irregularmente US$ 803 milhões a uma empresa do grupo no Uruguai

Foto do author Marcelo Godoy
Por Marcelo Godoy e Rodrigo Pereira
Atualização:

O Ministério Público Federal (MPF) enviou à Suíça um relatório detalhado sobre as movimentações bancárias da Parmalat a fim de demonstrar que a empresa lavou dinheiro de fraude financeira em suas operações no Brasil. O documento acusa o grupo de enviar US$ 803 milhões à Wishaw Trading, uma empresa do grupo com sede em Montevidéu, no Uruguai, "empresa que recolhia o dinheiro necessário para manter a operação da Parmalat na América do Sul". As transferências ocorreram entre 1997 e 2003. As informações sobre essas operações foram requisitadas pelo procurador federal de Lugano (Suíça), Pierluigi Pasi, como condição para que a Justiça daquele País autorize o envio de dados bancários sobre as operações da Parmalat e de seus executivos na Suíça. O alvo principal do MPF é Gianni Grisendi, ex-presidente da Parmalat do Brasil. Ele foi denunciado sob as acusações de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e de induzir os sócios e investidores da companhia a erro (balanço falso), que contribuíram para a crise que quase provocou a falência do grupo no Brasil. Grisendi nega tudo. Seu advogado no Brasil, Luiz Fernando Pacheco, não quis se manifestar. "Em respeito às autoridades de lá, que preservam rigorosamente o sigilo, eu não vou me manifestar sobre o procedimentos em Lugano e na Suíça." A procuradoria da República havia pedido à Suíça a quebra de sigilo, que havia sido deferida, mas a decisão foi impugnada pela defesa de Grisendi. Por causa disso, a Justiça suíça decidiu suspender o envio das informações bancárias ao Brasil até que novas informações mais detalhadas sobre o caso lhe fossem fornecidas. Uma dessas informações é a explicação sobre operações financeiras feitas em dezembro de 1999, quando a Wishaw recebeu cerca de US$ 300 milhões da Parmalat do Brasil. Por coincidência, segundo o MPF, Isso ocorreu após a empresa anunciar um aumento de capital de US$ 300 milhões da Parmalat do Brasil. Para justificar esse aumento, a empresa alegava ter recebido US$ 150 milhões de investidores americanos coordenados pelo Bank of America e US$ 150 milhões por meio da empresa Food Holding Ltd. Localizada na Ilhas Cayman, a Food pertencia à Parmalat. No fim de dezembro, cerca de US$ 288 milhões foram depositados na conta corrente 273-99020 da Wishaw no BankBoston de São Paulo. Para o MPF, a movimentação mostra que o aumento de capital foi uma forma de enganar sócios e investidores da companhia. No documento, a procuradoria lembra que, em 18 e 22 de dezembro de 1999, a Parmalat do Brasil anunciou ao mercado que estava aumentando "o seu capital e que abria a sociedade a um grupo de investidores americanos coordenador pelo Bank of America". Os novos acionistas passariam a "ter uma participação pouco superior a 18% da empresa". Na realidade, acusa o MPF, a operação esconderia um empréstimo feito pelo Bank of America à Parmalat. Os novos acionistas eram duas sociedades anônimas com sede nas Ilhas Cayman - a Food e a Dairy Holdings Ltd -, ambas pertencentes ao Grupo Parmalat. "A Operação apresenta elementos dolosos de tal modo que, aumentando consistentemente o endividamento do grupo, concorreram para causar o estado de insolvência da Parmalat do Brasil e da Parmalat Financeira." Outras transferências da Parmalat à Wishaw foram registradas nos anos seguintes. Em 2003, a Parmalat enviou US$ 213 milhões à Wishaw. O MPF explicou ainda à Justiça suíça que a Wishaw repassou recursos a outra empresa com sede no Uruguai, a Acquasparta. Também houve pagamentos à Rushmore Holding, com sede na Ilhas Virgens Britânicas. Parte desse dinheiro foi registrado como empréstimos a residentes no exterior.

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