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'Mudança busca tornar gestão da Gol mais ágil'

Executivo diz que sai da presidência para acompanhar a empresa por 'outro plano'; ele será presidente do conselho

Por Silvana Mautone
Atualização:

O fundador da Gol, Constantino de Oliveira Junior, deixará a presidência executiva da companhia aérea no dia 2 de julho, mas pretende permanecer no dia a dia, como presidente do conselho de administração. "Eu não estou me desligando da empresa e, sim, acompanhando-a de outro plano", afirmou, mais de uma vez, durante entrevista à Agência Estado. "Continuo contribuindo, colocando à disposição do (Paulo Sérgio) Kakinoff e da gestão da empresa a experiência que eu acumulei nesses 12 anos, trazendo a companhia do marco zero até os dias de hoje", disse Constantino.

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Na segunda-feira, a Gol anunciou que o atual presidente da Audi, Paulo Sérgio Kakinoff, assumirá a presidência executiva da companhia aérea. Há cerca de três anos o executivo já integra o conselho de administração da Gol. Constantino conta que a mudança começou a ser discutida nos últimos dois meses, período em que a Gol anunciou um plano de reestruturação para reverter os resultados negativos que vem registrando nos últimos trimestres. Só no ano passado, a empresa acumulou um prejuízo de mais de R$ 750 milhões. Neste ano, a companhia aérea já cortou mais de 300 pilotos e comissários e cerca de 100 voos diários.

De acordo com Constantino, com a chegada de Kakinoff à presidência da Gol, a reestruturação que está em curso deve ganhar mais "agilidade". A seguir, a entrevista do empresário:

Quando o sr. começou a discutir sua saída da presidência executiva da Gol?

Como presidente executivo, eu acumulava também a função de um dos principais controladores da empresa. De um tempo para cá, o lado controlador percebeu uma oportunidade, através de conversas com o próprio Kakinoff, de encontrar um substituto para o presidente executivo. Eu estou aqui quase como o Edson do Nascimento falando do Pelé... (risos) Percebi a oportunidade de trazer um executivo da envergadura do Kakinoff para a companhia. Isso vai me permitir atingir o objetivo, que, como controlador, é o que a gente sempre busca, de ter uma gestão profissional alinhada e que entende quais são as virtudes da companhia. Após algumas conversas com o Kakinoff, essa possibilidade se tornou real. Não era um plano de anos nem estávamos esperando o momento certo.

Mas pode-se então dizer que isso passou a ser discutido nos últimos dois meses?

Sim, foi mais ou menos nos últimos dois meses.

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Com as mudanças anunciadas na segunda-feira, como fica o conselho de administração?

O conselho continuará com as mesmas pessoas. Haverá apenas mudanças nas posições. Elas se restringem à saída do Kakinoff do conselho, que assumirá o cargo de presidente da companhia. Eu sigo agora como presidente do conselho, cumprindo uma função mais próxima da gestão da empresa, um pouco mais executiva do que a exercida pelo presidente atual, Álvaro de Souza, que permanece como conselheiro. Continuaremos tendo no mínimo 30% dos conselheiros independentes.

Quais as principais características do novo presidente que fizeram com que ele fosse escolhido para o cargo?

Primeiro, ele faz parte do conselho de administração da empresa há quase três anos. Ele conhece os desafios da indústria, nos conhece pessoalmente, a gente tem uma química boa, se dá muito bem. Como executivo, ele tem uma carreira brilhante, é um excelente gestor. Eu acredito que essa característica, a possibilidade de manter o foco na gestão do dia a dia da empresa, no aprimoramento dos processos, vai nos trazer agilidade para fazer frente à volatilidade que o mercado enfrenta, que é uma característica do setor de aviação. Adiciona-se a isso o fato de que eu não estou me desligando da empresa e, sim, acompanhando de outro plano. Continuo contribuindo, colocando à disposição do Kakinoff e da gestão da empresa a experiência que eu acumulei nesses 12 anos, trazendo a companhia do marco zero até os dias de hoje.

Como o sr. vê a questão de a Gol se definir como de baixa tarifa e baixo custo e o novo presidente vir da Audi, uma marca de automóveis de luxo? Não é contraditório?

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O Kakinoff acredita nas forças da Gol e compreende bem o modelo de negócio. Acho que uma gestão eficiente faz a diferença tanto numa empresa com modelo de baixo custo quanto em uma que comercializa automóveis de luxo. Com relação ao posicionamento de marca, que pode ser uma das preocupações, o Kakinoff tem conhecimento e experiência suficientes para entender a diferença de uma coisa e outra. A experiência dele como diretor do grupo Volkswagen inclui também o segmento de carros populares. Ele exerceu influência em outras marcas até chegar à presidência da Audi. Assim como eu, ele acredita que a melhor forma de manter uma marca conceituada e saudável na indústria de aviação é prestando bom serviço: buscando a pontualidade dos voos, rapidez na entrega da bagagem, cada vez mais conveniência para acumular e resgatar milhas no programa de relacionamento. Ele compartilha comigo a opinião de que o modelo da Gol é o de baixo custo e baixa tarifa e assim deve continuar sendo.

Como está o mercado neste segundo trimestre? Continua o processo de recuperação dos yields (índice que mede os preços no setor aéreo)?

Tradicionalmente, o segundo trimestre é o mais fraco do ano e é justamente onde estamos realizando todo o processo de racionalização, de ajuste da oferta e de redução na força de trabalho e das despesas fixas. Considerando a Gol e a Webjet, esperamos enxergar durante o segundo trimestre um aumento de demanda significativamente maior do que o aumento da oferta em relação ao ano passado. Quando isso vai trazer o resultado da empresa para o nível que nós gostaríamos é difícil prever. Mas o fato é que esse movimento começa a mostrar resultado e reverter a situação a partir do terceiro trimestre. O segundo trimestre ainda é de ajustes. Vamos perseguir um aumento da receita através de uma taxa de ocupação maior e, dentro do que o mercado permitir, também através do aumento do yield, mas sem perder de vista o modelo de baixo custo e baixa tarifa, até porque a baixa tarifa é que tem permitido o crescimento do mercado.

A Gol estuda a implantação de outros ajustes ou o objetivo agora é focar nos já anunciados?

O objetivo é concluir o que já foi anunciado. Não pretendemos promover outras modificações. A vinda do Kakinoff não altera o nosso planejamento estratégico. Ela pretende trazer mais agilidade à gestão da empresa. De novo: eu não estou deixando a Gol. Estarei na posição de presidente do conselho e vou compartilhar com ele a minha experiência. Eu sou o maior interessado para que tudo continue dando certo e a gente continue atingindo os objetivos da empresa. A mudança visa isso: agilidade sem perder de vista a experiência que acumulamos nesses 12 anos.

A diretoria da Gol deve sofrer ajustes com a chegada do Kakinoff?

Não pretendemos ter ajustes. Naturalmente, ele vai introduzir o estilo dele, vai gerir da forma dele, mas, nas nossas conversas, não está prevista nenhuma alteração. Ele não deve trazer equipe própria, por exemplo. Não é uma intervenção na gestão da empresa. É uma mudança no posto de presidente executivo.

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