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Mudança de ares no INDG

Fundador da maior consultoria de gestão do País, Vicente Falconi rebatiza a empresa com seu sobrenome e prepara sua saída

Por Marina Gazzoni , Catia Luz e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - O consultor Vicente Falconi tem um quê de celebridade. Assim que o primeiro dia da convenção anual do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG) se encerrou, ele foi cercado por alguns dos mil trabalhadores da consultoria que fundou em 2002 para tirar fotos. "Viemos aqui só pra ouvir o professor. Ele é nosso guru", disse uma funcionária. A "tietagem" durou pelo menos uma hora e meia.

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O grupo de fãs de Falconi vai além dos funcionários. Empresários e executivos de peso participaram da convenção, realizada na última quinta-feira, em São Paulo. Estiveram por lá os presidentes da Ambev, João Castro Neves; da Amil, Edson Bueno; e do conselho da Gerdau, Jorge Gerdau. Os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco, e o publicitário Nizan Guanaes também foram ao evento para falar da experiência de trabalhar com Falconi.

O consultor foi o conselheiro desses "figurões" em momentos de grande expansão ou crises pronunciadas. Por isso, eles vieram prestigiar o velho amigo no dia em que a consultoria anunciou mudanças significativas. A empresa decidiu mudar o nome, a gestão e a estrutura societária. Também partirá para a internacionalização para atingir a meta de ser uma das dez maiores consultorias do mundo e competir globalmente com nomes como McKinsey, Bain & Company e Booz & Co.

O primeiro passo da transformação do INDG foi passar a se chamar Falconi Consultores de Resultado. A mudança de marca ficou a cargo da Asia Branding, uma das empresas de Nizan Guanaes, também seguidor do método de Falconi. Foi o consultor quem fez a reestruturação do grupo ABC. "Ninguém sabia o que era o INDG. Todo mundo o conhecia como ‘a empresa do Falconi’. Eles assumem isso agora", disse o diretor geral da Asia Branding, Romulo Pinheiro.

Batizar o INDG com o nome de Falconi é uma forma de perenizar a figura do consultor e, ao mesmo tempo, de preparar sua saída. A companhia quer seguir o exemplo de grandes consultorias internacionais, como a McKinsey: deixar de ser uma sociedade anônima (S/A) e se tornar uma partnership, ou seja, uma empresa que tem os consultores como donos e onde todos os funcionários são treinados para pensar e agir como sócios. A nova regra prevê que os sócios com mais de 55 anos vendam aos poucos suas ações, que serão distribuídas aos consultores mais novos.

Dentro do novo desenho, a empresa tem a pressão de aumentar - e muito - sua receita. O faturamento do INDG somou R$ 300 milhões em 2011. "Quando vejo o crescimento dos balanços do INDG, fico decepcionado. E vossa excelência sabe disso", afirmou Bueno, presidente da Amil e conselheiro da consultoria, a Falconi durante a convenção.

A missão de tornar a recém-batizada Falconi relevante mundialmente será de Mateus Bandeira, que assumiu a presidência da consultoria em janeiro de 2011. Falconi, de 72 anos, aos poucos está se afastando da empresa. Ele já não tem função executiva e passou o controle da empresa ao Conselho. "Não tenho nem sala. Vou ao escritório quando me chamam", disse. A saída definitiva já tem data: fevereiro de 2019. "Minha participação no capital da empresa será zero."

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Falconi se afasta do dia a dia, mas deixa um discurso afiado sobre seu método. Defende que as empresas desenvolvam formas de mensurar tudo que for possível, estabelecendo metas claras de melhoria. "Tudo pode ser medido e gerenciado", diz o presidente da Ambev, João Castro Neves.

Falconi é consultor da cervejaria desde 1991, quando foi contratado para participar da reestruturação da Brahma. Em 1997, foi convidado por Marcel Telles, um dos controladores, para ser conselheiro da empresa, cargo que ocupa até hoje. Toda a cultura da Ambev, famosa pela obsessão com resultados, foi moldada em parceria com Falconi. Hoje, os 30 mil funcionários no Brasil precisam colaborar de alguma forma para as metas de suas divisões.

O consultor atualmente desenvolve projetos para aumentar a eficiência da cervejaria. O alvo atual é a redução da rotatividade na fábrica do Rio de Janeiro. "Ando pela fábrica apontando os erros", diz Falconi. "O diferencial é esse. As outras consultorias fazem um relatório de problemas e soluções, entregam aos clientes e vão embora. Nós nos envolvemos na execução dos projetos."

Governo. Grandes empresários que se aproximaram do governo levaram o método de Falconi ao setor público. O primeiro projeto veio de uma recomendação do ex-ministro Pedro Parente, em 2001. Falconi foi convidado a participar do grupo que discutiu soluções para o apagão de energia. "Eu que inventei as metas por família para o racionamento de energia", lembra o consultor.

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Dois anos depois, foi convocado para auxiliar o chamado "choque de gestão" do governo de Aécio Neves em Minas Gerais. Na época, o sindicato dos fiscais do Estado acusou o INDG de repassar dados sigilosos a seus clientes, e a consultoria foi investigada pelo Ministério Público. Nada foi provado. Apesar da polêmica, o contrato abriu portas para parcerias com governos de São Paulo, Rio, Alagoas e Rio Grande do Sul.

Recentemente, a consultoria ganhou um "embaixador" no governo federal: Jorge Gerdau, escolhido pela presidente Dilma Rousseff para comandar uma câmara de gestão e competitividade do governo. A Falconi está envolvida em projetos na Infraero e nos ministério da Saúde e da Justiça.

Gerdau e Falconi se conhecem há cerca de 30 anos, quando o guru ainda era professor da UFMG. "Na Gerdau aplicamos juntos um sistema de eficiência industrial baseado em benchmarking internacionais", disse Gerdau. A tentativa do empresário é usar esse método para melhorar a competitividade do País. "É possível e necessário fazer isso", disse.

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Enquanto a aproximação de seus clientes com o governo favorece os projetos com o setor público, a internacionalização das empresas brasileiras abre caminho para a Falconi no exterior. Só na Gerdau, a consultoria tem projetos em 49 usinas espalhadas pelo mundo. Mas, para entrar no rol das grandes, os consultores estão dispostos a fincar de vez o pé no exterior. A empresa abriu neste ano um escritório em Nova York e planeja ter um endereço na Europa e na Ásia em 2013, disse Bandeira. "Queremos ser uma McKinsey brasileira."

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