O senador Aloisio Mercadante (PT-SP) considera "uma vitória do Brasil e dos países em desenvolvimento" a disposição do FMI de rever a metodologia de cálculo do superávit primário, excluindo do cálculo os investimentos em infra-estrutura. "É uma vitória do Brasil porque o presidente Lula enviou cartas aos dirigentes de países com influência no FMI e também porque o Brasil liderou o conjunto de países, no encontro anual do BID, em Lima, no Peru, para pressionar essa mudança", disse Mercadante. Ele acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita à fabrica da DaimlerCrysler - Mercedes-Benz -, em São Bernardo do Campo. De acordo com o senador, os países em desenvolvimento passam, de agora em diante, a estabelecer uma nova agenda de negociação com o FMI, baseada em aspectos técnicos e que estabelecerá a nova metodologia de cálculo do superávit. Ele lembrou que mesmo sendo um projeto piloto do FMI, o estabelecimento do método de cálculo definirá os efeitos práticos de uma possível mudança. "Vamos avaliar como será calculado o superávit, a flexibilidade sobre as contas das estatais, sua contabilização no balanço das empresas e nas contas do governo, principalmente porque parte dos investimentos retorna na geração de impostos.? Segundo Mercadante, na Europa, o FMI contabiliza o superávit pela depreciação anual dos ativos investidos, enquanto que no Brasil traz todos os investimentos para o valor presente, ?o que inviabiliza esses investimentos", argumentou. Ele disse ainda que o Brasil terá espaço para investir mais do que os R$ 12 bilhões programados para este ano. ?Se usarmos a metodologia européia, já resolveríamos o grosso dos nossos problemas", complementou. ?Superávit primário costuma ser maior no início do ano? O superávit primário recorde de março, anunciado na última sexta-feira, e que elevou o resultado do trimestre para 5,41% do PIB, foi "uma pequena mágica deste início de ano, que será diluída até o final do ano", disse o senador. Mercadante classificou de "movimento cíclico" o superávit contabilizado, justificando: "O superávit sempre é maior no começo do ano e diminui no final, primeiro porque o cronograma de obras exige mais pagamento no término do ano e porque há também o pagamento do 13º salário do funcionalismo. Por isso, vamos fechar o ano dentro da meta de superávit primário, de 4,25% do PIB", afirmou. Mercadante voltou a defender a proposta de meta de inflação para 2005 em 5,5%, acima da meta fixada pelo CMN para o ano, de 4,5%. "Com essa nova meta e a redução dos juros, aliadas ao novo cálculo do superávit primário, poderíamos maximizar o crescimento da economia", argumentou. Ele insistiu que uma meta de 5,5% ainda é "ambiciosa, mas realista" para os padrões brasileiros. "Só tivemos uma inflação dessas em 1947 e em 1998", observou. Sobre o esperado aumento do juro básico dos EUA, Mercadante disse que sua expectativa é de alta de 1 ponto porcentual, e só para o período seguinte às eleições presidenciais norte-americanas. "Estamos preparados para este impacto, porque temos hoje menor indexação da dívida pública em moeda estrangeira, além de termos aumentado substancialmente nossas exportações."