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Mudança do discurso é o grande desafio

Por Marco Antonio Rocha
Atualização:

A entrada da Rede Sustentabilidade e de Marina Silva no páreo político-eleitoral, por meio do PSB, de Eduardo Campos, pode ser chuva de granizo - passa logo! É o que gostariam de pensar e dizer os fãs de Dilma Rousseff e do PT.Não sabemos.Sabemos, todavia, que: 1) ficou mais premente, para o governo, uma retomada da economia, a queda da inflação e a melhoria do emprego, pois os fornos do PIB vêm perdendo calor e passaram a bruxulear desde o final do mandato Lula; 2) a novidade quebra a hegemonia PT/PSDB e lança uma terceira opção na vida política brasileira; e 3) muda também o discurso pré-eleitoral, que tende a se transferir do passado para o futuro.Vejamos a terceira mudança: PT e PSDB têm folha corrida de governo para ser criticada e acusada de erros e falhas. Esse tem sido o mote da dupla Dilma/Lula e das lideranças do PSDB - recriminações mútuas sobre o que fizeram ou deixaram de fazer no passado recente ou remoto. A dupla Campos/Marina, o PSB e a Rede obrigam a que o discurso político eleitoral vá para o futuro. O slogan "nunca antes na história deste país" enfrentará o desafio do slogan "o que fazer deste país". Campos, Marina e o PSB nunca mandaram no Brasil, como o PT e o PSDB mandaram. Não têm passivo político-administrativo para ser cobrado. Acusações contra o que representaram ou fizeram no passado caem no vazio. Caberão acusações e críticas ao que representam e ao que prometem fazer. Por isso, caso se firmem como opção política, o discurso e o debate passam a ser sobre as promessas e propostas para o futuro do País, que é o que mais interessa aos eleitores.A segunda mudança, a quebra da hegemonia PT/PSDB na vida política, era já mais do que necessária e indiretamente demandada pelo eleitorado. Temos na acanhada atmosfera brasileira, creio eu, um inegável cansaço em relação aos dois discursos principais. Oito anos de PSDB e dez de PT foram suficientes para mostrar que ambos nada mais têm a oferecer além do bate-boca usual sobre qual dos dois já fez, na sua vez, mais e melhor para o País. Oferecem ao público obra feita e, em muitos pontos, mal feita. Não passaram esses anos sem esgarçar e empobrecer o falatório de ambas agremiações e das suas lideranças. Foi isso que a chamada "voz das ruas" começou a gritar desde as manifestações de junho: chega de enrolação!Ainda não deu para perceber com clareza o que é que o falatório da dupla Campos-Marina traz exatamente de novo ou de animador para o público. Mas há algo no ar, e é evidente, pelo menos neste momento, que o público está mais curioso e mais atento ao que essa nova dupla diz do que à ladainha cediça do Aécio, do Serra, da Dilma, do Lula e das bandas de música que os acompanham.É um momento, portanto, muito importante para a nova dupla, assim como para seus adversários, no governo e na oposição. Um momento de ajuste de discursos e de propostas. Ajuste olhando para o futuro, não para o passado. A sintonia entre esse ajuste e a voz das ruas é que pode dar numa virada. Em política se sabe que as tais das "favas contadas" mudam de repente de lado. Fernando Collor se beneficiou desse fenômeno e jogou fora a chance que a história lhe deu. Antes dele, o vendaval Jânio Quadros quebrou a mística PTB/PSD de quase duas décadas - mas também não entendeu o que a voz das ruas lhe impunha.Marina já deu um toque sobre o que pretende debater ao defender "a volta do tripé". O que é isso? É a economia, stupid! - diria um ex-presidente americano. Ou seja, é discutir como administrar a economia tornando-a mais sustentável e estável. A economia de FHC melhorou as finanças públicas. A de Lula/Dilma vem melhorando a vida do povo em geral. Mas nenhuma assegurou um horizonte de desenvolvimento social, político, cultural e econômico condigno - uma melhoria contínua do nosso IDH.*Marco Antonio Rocha é jornalista. E-mail: marcoantonio.rocha@estadao.com

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