Publicidade

Mudança em política de preços dos combustíveis afeta ações da Petrobrás na Bolsa

Depois de subirem cerca de 4%, papéis fecharam o dia com variação de 0,69% (PN) e 1,4% (ON); empresa confirmou ter alterado, ainda em 2020, fórmula de cálculo de valores

Por e Renato Carvalho
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - Após serem destaque do dia na Bolsa brasileira, com alta de cerca de 4% em reação à coletiva de imprensa em que o presidente Jair Bolsonaro acenou a caminhoneiros com mudanças nos impostos de combustíveis e reafirmou a independência da Petrobrás para tomar decisões sem interferência do governo, as ações da petroleira perderam fôlego e fecharam o dia com alta bem reduzida, de 1,40% (ON) e 0,69% (PN).

PUBLICIDADE

O humor do mercado mudou após notícias de que a Petrobrás ampliou recentemente, de três meses para um ano, o período para calcular a paridade internacional de preços dos combustíveis que vende. A informação foi dada pela agência Reuters, citando fontes com conhecimento do assunto.

Em fato relevante, a Petrobrás informou ter alterado no primeiro semestre do ano passado o período limite de reajuste dos combustíveis para até 12 meses. E que, portanto, a alteraçãonada tem a ver com a atual polêmica em torno do valor do diesel nas bombas. 

Ações caíram com informação de que aPetrobrás mudou a fórmula de cálculo do preço dos combustíveis. Foto: Sérgio Moraes/Reuters

Questionada pelo Estadão sobre se essa informação havia sido tornada pública na época da mudança, a estatal não se manifestou. Em busca no site da empresa, o último comunicado sobre o tema havia saído no dia 3 de janeiro de 2020, quando a empresa informou que “não há periodicidade pré-definida para a aplicação de reajustes” e que iria decidir “oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços”.

O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, afirma que esse tipo de “ruído” distancia a companhia “do sucesso em sua trajetória” e também das grandes companhias petrolíferas com atuação global. “Enxergamos que a extensão do prazo para cálculo de paridade, assim como qualquer ruído que faz referência à extensão do lag (intervalo do repasse) entre os preços praticados internacionalmente e os da companhia, como negativo”.

Para o coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão, o aumento recente dos preços dos combustíveis nas refinarias tem colocado em questão a transparência da política da Petrobrás. Mas, em sua opinião, esse não é o motivo da crise. 

Leão argumenta que várias empresas não detalham ao mercado suas fórmulas de reajuste. “A questão não é, portanto, a transparência, mas os parâmetros utilizados pela estatal nos reajustes dos derivados", afirma. 

Publicidade

A companhia utiliza o método de paridade internacional, no qual os preços internos têm como referência as cotações do petróleo no mercado externo. Apesar de a paridade internacional ser uma prática comum entre as empresas petrolíferas, o repasse ao consumidor não acontece da mesma forma em todos os países. 

Segundo o Ineep, que utilizou estudo de universidades americanas para avaliar o mercado de 157 países, os preços dos combustíveis são reajustados com menos frequência onde há expressiva produção de petróleo. As empresas petrolíferas desses países, principalmente as estatais, administram suas políticas de preços de olho na paridade internacional num longo prazo. Ou seja, não costumam repassar para o consumidor final volatilidades externas momentâneas. 

Esse é o caso, por exemplo, do Reino Unido, que, desde outubro do ano passado, quando o barril do petróleo começou a subir, reajustou o preço do diesel na bomba em 4%. Na Rússia, a alta foi de 1,5%. Enquanto, no Brasil, o preço no posto subiu 7,5%, de acordo com dados da consultoria Global Petrol Prices.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.