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Mudança no BC não estressa DI, mas corrobora inclinação

Por Paula Laier
Atualização:

A mudança na diretoria de Política Monetária do Banco Central teve impacto ameno sobre as projeções de juros, segmento do mercado que reflete justamente as expectativas de investidores sobre as atribuições da instituição. A saída de Mario Torós foi anunciada na noite de segunda-feira pelo BC, que indicou o ex-executivo do Banco do Brasil Aldo Luiz Mendes para substituí-lo. A intenção de Torós de deixar o BC já circulava no mercado, mas o processo foi acelerado após entrevista ao jornal Valor Econômico em que detalhou os bastidores da crise global no país. Tanto a oscilação das taxas de DI como o volume e a liquidez nos negócios nesta terça-feira corroboram a interpretação de que a credibilidade do BC não está ligada ao nome de um único diretor --o que seria diferente no caso de mudança do presidente da instituição, Henrique Meirelles. "Não acredito (que a mudança) faça tanta diferença. O que faz é o Meirelles. A equipe mais forte do BC, inclusive, já havia saído. E o substituto não foi indicação de Mantega (Guido Mantega, ministro da Fazenda), o que é positivo", avalia o sócio de uma asset em São Paulo, que preferiu não ser identificado. Em relatório, o Credit Suisse analisou a substituição como uma "rotina", que não representa mudança importante na maneira como a política monetária está sendo conduzida. Entre as responsabilidades do diretor da pasta está justamente o gerenciamento do uso dos instrumentos de política monetária e a alocação das reservas, além de compra e venda de ouro e moedas pelo BC nos mercados local e internacional. Arthur Carvalho Filho, economista-chefe da corretora Ativa, contudo, avalia a mudança como mais um capítulo no aumento das incertezas sobre a força do BC para ser de fato independente --uma vez que o quadro de diretores ficará desbalanceado, entre profissionais do setor público e privado. "Principalmente diante da possibilidade de saída de Meirelles", acrescentou. BC MAIS TOLERANTE À INFLAÇÃO? É justamente a avaliação de desequilíbrio no perfil do quadro de diretores que formam o Comitê de Política Monetária (Copom) o que gera desconforto entre alguns agentes e endossa a inclinação positiva da curva de DI. "Aldo tende a ser visto como um diretor de perfil menos ortodoxo que Torós, ou seja, um pouco mais tolerante em relação à inflação, em função de sua visão contrária à independência do BC e, de certa forma, devido à sua carreira em banco estatal", observa a equipe de economistas do Banco Santander no Brasil, chefiada pelo ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman. "Ao mesmo tempo, não é possível associá-lo diretamente ao pensamento heterodoxo, à linha do Ministério da Fazenda ou a qualquer partido político", pondera o relatório, citando que o BC conseguiu levar ao Copom alguém com perfil que pode ser considerado neutro. Do quadro que permanece, entre os diretores de maior visibilidade, Mário Mesquita (Política Econômica) é um dos mais identificados com uma postura de extrema aversão à inflação e pensamento liberal, enquanto Alexandre Tombini (Normas) destaca-se na ala um pouco mais heterodoxa. Mesquita, assim como o diretor de Liquidações e Controle de Operações do Crédito Rural, Antonio Gustavo Matos do Vale, também estaria com intenção de deixar o BC, conforme informações que circulam no mercado. Para o economista de uma corretorra no Rio de Janeiro, há chance de que Mesquita adie sua saída com a partida de Torós. De acordo com o profissional da área de DI de um banco de investimentos em São Paulo, que pediu anonimato, o risco implícito de um Copom mais "dovish", contudo, se refletiu na curva de DI, mesmo que de forma amena, e tende a manter a inclinação. "O mercado trabalha com probabilidades, e o perfil do nome indicado é 'dovish' e sua presença no Copom sinaliza um BC um pouco menos agressivo em termos de ações de juro para conter a inflação." Para o profissional, isso leva à interpretação de que o BC não subirá a Selic tão cedo, em um momento no qual se inicia um processo de retirada de estímulos econômicos que incluem ações de política monetária frouxa, que poderia gerar um descontrole de inflação e exigir uma alta mais agressiva depois. "Por isso o mercado vende taxa de DI curto e compra as taxas mais longas, o que inclina a curva para cima." Ainda não se sabe quem participará da última reunião do Copom de 2009, que acontece dias 8 e 9 de dezembro, uma vez que a presença e voto de Aldo Mendes dependerá de sua aprovação pelo Congresso Nacional. Torós deve seguir no cargo durante a transição, até ser exonerado pelo presidente da República. De acordo com a assessoria de imprensa do BC, não há previsão no momento de datas e quando existirem as definições, elas serão anunciadas.

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