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Mudanças climáticas alertam para impacto de investimentos, diz executiva do UBS

Executiva do banco suíço assessora clientes de altíssima renda que querem definir aplicações com base em conceitos ligados à sustentabilidade

Por Karla Spotorno (Broadcast)
Atualização:

Os impactos das mudanças climáticas, assim como ações educacionais, ajudam na missão de conscientizar investidores sobre a necessidade de alterar o processo de alocação de recursos e possibilidade de investir através dos critérios conhecidos como ASG (ambiental, de sustentabilidade e governança). A avaliação é do banco suíço UBS, que começou a implantar neste ano na Europa e na Ásia um programa de assessoria a clientes de altíssima renda.

A ideia é que o investidor defina em que área a carteira de ativos sustentáveis vai gerar impacto. "Carteiras temáticas" fazem sentido pois famílias têm diferentes valores que desejam ver refletidos em suas escolhas e ações, diz a executiva responsável por Finanças Sustentáveis do banco, Rina Kupferschmid-Rojas, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

A executiva responsável por Finanças Sustentáveis do banco suíço UBS, Rina Kupferschmid-Rojas. Foto: Amanda Gentile/ ADG Photography

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Segundo ela, porém, o crescimento dos investimentos sustentáveis tem travas importantes, como a falta de dados padronizados. O UBS tinha, globalmente, US$ 3,6 trilhões no fim de 2019 distribuídos entre diferentes áreas de atuação, entre elas a gestão de patrimônio, responsável por US$ 2,6 trilhões. Desse subtotal, aproximadamente 10% estavam em ativos selecionados por uma abordagem ASG.

Na semana passada, Rina esteve no Brasil para falar com clientes do UBS - reuniu-se com 15 famílias - e também para participar da conferência Converge Capital no Rio de Janeiro, onde falou a investidores de grande patrimônio e agentes de finanças sustentáveis. A seguir os principais trechos da entrevista.

No dia 10 de fevereiro, a cidade de São Paulo viveu o caos com fortes chuvas e alagamentos, uma consequência das mudanças climáticas. Esse tipo de evento é necessário para o investidor entender que precisa agir e priorizar investimentos segundo critérios ASG?

Esses eventos naturais são uma chamada à razão. Geralmente, você não acredita em algo até que veja acontecendo. Então, quando uma tragédia assim acontece, as pessoas começam a se questionar sobre o que realmente está motivando tudo isso. Nosso trabalho é gerar consciência sobre as mudanças climáticas e divulgar como o UBS responde a essa questão. Acredito que dar atenção a esse tema pode acontecer da forma dramática, quando algo acontece, ou da forma que trabalhamos, que é educando o investidor. De uma perspectiva dos investimentos, há riscos tanto negativos quanto positivos associados às mudanças climáticas. Quem optar por investir em novas tecnologias, por exemplo, estará fazendo parte da solução. Não deveríamos esperar os desastres para começar a agir.

Do total sob gestão na área de gestão de patrimônio do UBS, quanto está alocado sob critérios sustentáveis?

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Os números atualizados serão divulgados em março. Mas no fim de 2018 o UBS tinha US$ 313 bilhões ou, aproximadamente, 10% do total seguem esses critérios. São ativos que empregam uma abordagem abrangente de sustentabilidade - conhecida como ativos principais investidos de forma sustentável. Por exemplo, integram uma ampla gama de considerações de sustentabilidade em todo o processo de investimento, ou se concentram tematicamente em uma ou mais considerações centrais de sustentabilidade, ou excluem determinados setores por razões de sustentabilidade ou constituem investimentos de impacto.

Como convencer o investidor a descartar a forma antiga de investir se a rentabilidade é alta e, eventualmente, superior à do investimento sustentável? Na Bolsa brasileira, o retorno do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) está menor que o do Ibovespa em diferentes intervalos de tempo.

Uma das coisas que temos feito é usar mais os dados para dar maior transparência na escolha das empresas. Não posso comentar os índices daqui, mas globalmente, o que observamos, é que as empresas em que investimos sob o filtro da sustentabilidade proporcionam retornos melhores.

O UBS lançou neste ano um programa de assessoria para montagem de carteiras sustentáveis, depois de ter feito um piloto em 2019, que atraiu US$ 800 milhões de ativos de clientes. Como funciona esse programa?

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Estamos implementando o programa na Europa e na Ásia. Nele, o cliente pode montar uma carteira de acordo com seus objetivo. O portfólio pode ser mais focado em gerar impacto para o setor de educação ou conservação da água, por exemplo.

Por que é importante oferecer esse filtro temático?

Vimos que os clientes têm seus próprios valores, que desejam ver refletidos em todos espectros de sua vida, inclusive nos investimentos. Há famílias que se importam mais com questões filantrópicas, outras mais com educação. Também observamos que herdeiros em algumas famílias se preocupam mais com questões sociais, ambientais, o que exige essa adequação do processo de investir. Além disso, numa pesquisa, perguntamos como as mulheres preferem investir. A resposta foi que 88% querem ter investimentos sustentáveis com impacto positivo, social.

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O UBS identificou quatro grandes travas para a expansão do investimentos ASG: questões regulatórias, imperfeições nas informações, tendência das mudanças climáticas no longo prazo e restrições de produtos e serviços financeiros. Qual a trava mais difícil de desfazer?

No curto prazo, diria que é a falta de dados padronizados nas questões ASG, o que limita a criação de produtos e serviços. Por isso priorizamos um esforço colaborativo em busca de informação e também questionamos as empresas. Buscamos colaborações com instituições como a americana SASB (Sustainability Accounting Standards Board), que busca criar padrões contábeis de sustentabilidade mundiais. Porque hoje há várias formas de relatar, o que dificulta a comparação entre empresas e setores, e também o dia a dia das empresas.

Dentro da abordagem de investimento ambientalmente responsável, o UBS recomenda não investir em alguns setores, por exemplo, mineração?

A exclusão de um setor ou não na carteira é feita sempre de acordo com o perfil, o desejo, o objetivo de longo prazo do cliente. Vou dar um exemplo. Um cliente pode dizer que quer investir em uma empresa de óleo e gás mas que está preocupado com os impactos naturais desse setor. Bem, muitas empresas de óleo e gás são as melhores empregadoras da população LGBTI+. Então, se o cliente está olhando por uma perspectiva social, o melhor pode ser investir em uma companhia de óleo e gás por causa da diversidade, da inclusão social. Se o cliente está olhando do ponto de vista ambiental, o melhor pode ser excluir esse setor do universo de investimentos.

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