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Mudanças em tributação de investimentos propostas pelo governo azedam humor da Faria Lima

Entre as mudanças sugeridas, a mais ruidosa foi a tributação em 15%, já a partir de 2022, dos rendimentos dos fundos de investimento imobiliário para pessoa física; antes, valores eram isentos

Foto do author Adriana Fernandes
Por Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - A Faria Lima, reduto do mercado financeiro em São Paulo, desaprovou a reforma no Imposto de Renda proposta pelo governo federal nesta sexta-feira, 25. Embora o projeto reduza a tributação de algumas modalidades de negociação em Bolsa ou fundos de investimento, a retirada da isenção dos rendimentos dos fundos imobiliários para pessoas físicas e a tributação de lucros e dividendos azedaram o humor do mercado. Como reflexo disso, a Bolsa caiu 1,74%, no maior recuo desde 12 de maio, e o dólar subiu 0,67%, cotado a R$ 4,9377.

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Uma das mudanças mais ruidosas foi a dos fundos de investimento imobiliário (FII), que terão os rendimentos à pessoa física tributados em 15% a partir de 2022. Hoje, esses valores são isentos de Imposto de Renda. Para os demais cotistas, a alíquota vai cair de 20% para 15%.

“Essa proposta da reforma tributária acaba com a indústria de fundos imobiliários, que tem carregado nas costas a construção civil. Somente ano passado (foram) cerca de R$ 30 bilhões em emissões de cotas. Espero que o Congresso tenha noção que existirão impactos no setor da construção”, escreveu no Twitter o fundador da consultoria de investimentos Suno Research, Tiago Reis. O IFIX, principal índice dos fundos imobiliários, também caiu refletindo a expectativa da tributação.

Proposta de reforma assustou o mercado, que precificou hoje o aumento da tributação dos fundos. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O governo ainda propôs mudanças na tributação das operações em Bolsa de Valores. Hoje, a apuração é mensal, e há duas alíquotas, de 15% e 20% a depender da aplicação (com compensações de prejuízos limitadas às operações com alíquota igual). Agora, a cobrança será única para todos os mercados, em 15%, e possibilidade de compensação entre todas as operações.

Para o governo, a simplificação vai facilitar o acesso ao mercado, num momento em que cada vez mais brasileiros já têm ingressado na Bolsa em busca de retornos mais polpudos. Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, no entanto, a mudança “assusta e afasta o mercado, pois já é elevada”. "Vemos que o (ministro da Economia, Paulo) Guedes, de liberal, não tem mais nada. Está literalmente apertando todos os lados, até o mercado, para pagar as contas do governo", disse Laatus.

Em audiência no Senado, Guedes defendeu as medidas e disse que os países maiores tributam o mercado acionário e que “não há nada de errado nisso”.

A equipe econômica ainda propôs a unificação da alíquota cobrada sobre os rendimentos com ativos de renda fixa, como Tesouro Direto e CDBs. Hoje, quanto mais cedo o investidor resgata os recursos, maior é a cobrança do Imposto de Renda, o que acaba penalizando pequenos investidores na avaliação do governo, enquanto pessoas mais ricas (que podem deixar o dinheiro parado mais tempo) são beneficiadas. Agora, a alíquota da renda fixa também será única, em 15%.

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Fundos de investimento

O governo também propôs mudanças na tributação de fundos de investimento em suas diversas modalidades: abertos, fechados e exclusivos (estes usados pelos ‘super-ricos’ para investir sem maiores cobranças do Fisco).

Nos fundos abertos e fechados, a alíquota será unificada em 15%, e o chamado “come-cotas”, cobrança de imposto sobre os rendimentos auferidos no período, passará de semestral a anual. Segundo o governo, a medida ampliará o retorno ao investidor, pois o recurso ficará capitalizado mais tempo antes da incidência do imposto.

Nos fundos exclusivos, a mudança será substancial. Hoje, esses investimentos ficam anos a fio sem terem seus rendimentos alvo do Fisco, pois não têm o chamado “come-cota”. Pela proposta do governo, eles passarão a ter. Uma primeira cobrança sobre o saldo dos rendimentos já obtidos até hoje poderá render uma arrecadação de R$ 14,47 bilhões ao governo só em 2022. A partir daí, haverá a cobrança anual de IR sobre os rendimentos.

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O economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito, avalia que as mudanças não foram ruins, mas a primeira reação do mercado vem de uma “análise meio rápida”. Para ele, pode haver alguma correção à medida que os investidores analisem melhor as propostas. “Não acho que é o fim do mundo”, diz. Para ele, vários pontos criticados pelo mercado são elogiados pela sociedade.

“Por exemplo, lucros e dividendos. Por mais que eu seja do mercado de capitais, é uma discussão que tem que ter. Essa discussão vai ser mantida no Congresso. Cabe aos parlamentares evoluírem. Foi muito importante o que o Ministério da Economia fez de colocar os termos”, diz Perfeito. /COLABORARAM MARIA REGINA SILVA, LORENNA RODRIGUES E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS

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