BRASÍLIA - O diretor-executivo do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado, Felipe Salto, afirmou ao Estadão/Broadcast que o governo deveria lançar mão das flexibilidades já previstas em regras fiscais para alterar a meta de resultado primário deste ano e abrir espaço para gastos com o combate ao novo coronavírus no País.
“Alterar a meta de primário não é nenhum pecado mortal se você mostrar que fez isso de maneira consciente”, disse Salto. Para ele, seria compreensível neste momento prever um rombo maior nas contas se a justificativa for aumento em gastos com saúde.
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Como antecipou o Estadão/Broadcast, a equipe econômica poderá reavaliar a meta de resultado primário de 2020 caso seja necessário diante do avanço do novo coronavírus no Brasil. A medida seria adotada em caso de necessidade para garantir os recursos demandados, sobretudo pelo Ministério da Saúde, e evitar uma paralisia do governo num momento crítico para o País.
A meta fiscal permite hoje um déficit de até R$ 124,1 bilhões nas contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central. No entanto, a perda de arrecadação com a desaceleração da economia aponta hoje para um cenário de contingenciamento, como já admitiu o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.
Salto calcula que o governo precisaria bloquear R$ 37 bilhões para assegurar o cumprimento da meta atual, num espaço estimado em R$ 100 bilhões de despesas discricionárias, que incluem custeio da máquina e investimentos. Em sua avaliação, um corte desse tamanho imporia dificuldades à máquina pública.
Ele lembrou ainda que o crédito extraordinário de R$ 5 bilhões que será aberto para auxiliar o Ministério da Saúde, embora fique fora do alcance do teto de gastos (que limita o avanço das despesas ao resultado da inflação do ano anterior), tem impacto sobre o resultado primário. Por isso, não revisar a meta agora poderia limitar as ações de combate à infecção.
“O governo tem de fazer o que precisa ser feito, respeitando as regras fiscais”, disse Salto, lembrando que elas são flexíveis justamente para momentos de crise como o atual.
Segundo o diretor-executivo da IFI, o governo tem um espaço de aproximadamente R$ 26 bilhões no teto de gastos, mas a queda nas receitas e a necessidade de cumprir uma meta fiscal mais restritiva podem limitar o uso dessa margem no limite de despesas. “É preciso e é possível reagir”, afirmou.
Ele defendeu ainda que o governo eleve a Cide sobre combustíveis para evitar um dano maior nas contas de Estados e municípios num momento de queda do preço do barril de petróleo. Na quinta-feira, 12,a Petrobrás já anunciou redução no preço da gasolina e do diesel nas refinarias. Muitos governos estaduais dependem fortemente das receitas cobradas sobre combustíveis.
O presidente Jair Bolsonaro já descartou aumentos na Cide por resistência à elevação de qualquer tributo. Salto, no entanto, explica que esse é um “momento de exceção” e que a medida poderia ajudar não só Estados e municípios, mas também o setor de etanol.