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Na Ásia, a maior baixa em cinco meses

Nem mesmo a alta do PIB japonês amenizou mau humor do mercado

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

As bolsas asiáticas registraram ontem a maior queda em cinco meses, apesar de o Japão ter anunciado crescimento no segundo trimestre e o fim da mais longa recessão desde a 2ª Guerra Mundial. O movimento foi liderado pela Bolsa de Xangai, que registrou retração de 5,8% por causa da percepção do mercado de que as ações chinesas estão sobrevalorizadas. O ceticismo em relação à sustentabilidade da recuperação mundial levou investidores na região a se desfazerem de ativos de risco. O índice Nikkei (Tóquio) recuou 3,1%, ofuscando a divulgação de expansão anualizada do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,7%. Também houve quedas significativas nas Bolsas de Hong Kong (-3,62%), Cingapura (-2,8%) e Índia (-3%). A divulgação de resultados decepcionantes por duas grandes empresas chinesas - a seguradora Ping Ang e a mineradora Yuann Copper - reforçou o sentimento dos investidores de que o mercado local está sobrevalorizado, depois de alta de 65% no ano. Na opinião de analistas, é inevitável uma correção que aproxime os valores da bolsa local aos praticados na região. Relatório do Credit Suisse aponta que a relação entre preço das ações e lucro das empresas é de 29 vezes na Bolsa de Xangai, comparada a uma média de 17 vezes na região (excluindo o Japão). Mas o nível ainda está distante do que poderia ser classificado de "bolha" que, em casos recentes, se caracterizou por relações entre preço e lucro próximas do patamar de 70 vezes, afirmam os analistas do Credit Suisse. A desvalorização das ações na Bolsa de Xangai também foi influenciada pelo anúncio de queda de 35,7% no volume de investimento estrangeiro direto recebido pela China, no 10º mês consecutivo de retração. Em junho, a redução havia sido de apenas 6,8% em relação a igual período do ano passado. No período janeiro a julho, a China recebeu US$ 48,3 bilhões em investimentos estrangeiros, 20,3% a menos que nos primeiros sete meses de 2008. O aumento das exportações, principalmente para a China, foi uma das principais razões da recuperação japonesa no período de abril a junho. As vendas da segunda maior economia do mundo a outros países tiveram alta de 6,3%, após cinco trimestres consecutivos de retração. A alta do PIB do Japão já era esperada pelo mercado, que tem dúvidas sobre quanto tempo ela poderá se manter. A maior preocupação diz respeito ao consumo, que responde por 55% do PIB do país. Dados recentes mostram que a média dos salários dos trabalhadores japoneses teve queda recorde de 7,1% em junho, enquanto o desemprego atingiu 5,4%, índice próximo dos 5,5% registrados no pós-guerra. O consumo privado teve alta de 0,8% no segundo trimestre, impulsionado por subsídios à compra de carros que usam pouca energia e aparelhos eletrodomésticos. Os analistas duvidam que essas compras se mantenham quando os incentivos oficiais acabarem.

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