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Na Dinamarca, poucos reclamam dos impostos

Metade do salário do trabalhador vai para o governo. Mas ninguém paga por educação e saúde

Por Copenhague
Atualização:

Um cidadão dinamarquês entrega ao seu governo, em média, a metade do salário anual em imposto de renda. Pouco se ouve, porém, de reclamação dura sobre excesso de impostos ou promessas de campanha para diminuir as taxas. Exemplo acabado do chamado Estado do Bem-Estar Social, o terceiro país da agenda de visitas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma taxa de 3,3% de desemprego, cria mais empregos do que perde e não tem medo da globalização. A receita do sucesso, segundo os dinamarqueses, está na educação. "Eu diria que a educação é a metade do nosso capital social", afirma Marie-Louise Knuppert, secretária internacional da Confederação Dinamarquesa dos Sindicatos. "Nossa segurança está na educação, não no emprego." Hoje, a Dinamarca perde, a cada ano, cerca de 250 mil empregos para países mais pobres, especialmente Ásia e Europa do Leste. Mas pelo menos 30% da população têm um pouco de medo da globalização. Isso porque o país cria, a cada ano, cerca de 270 mil empregos com salários mais altos e maior exigência tecnológica. "Os novos empregos pedem qualificação mais alta. A demanda por trabalhadores sem qualificação está indo embora. Se não tivermos uma população com alto nível de educação, não teremos empregos", explica Torben Klein, diretor-geral do Cirius, autarquia do Ministério da Educação que desenvolve e planeja a educação do País. A Dinamarca investe hoje 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, sem contar os recursos direcionados para pesquisa. São dois pontos porcentuais mais que o Brasil, apesar de o País precisar de mais recursos para resgatar anos de atraso que os dinamarqueses não têm. A educação na Dinamarca é completamente gratuita, da pré-escola ao doutorado. Mais do que isso, o governo dinamarquês paga ao estudante universitário uma bolsa de pouco menos de US$ 1000, durante o tempo de formação. São poucos os dinamarqueses que não têm pelo menos o equivalente ao ensino médio completo. A maioria têm pelo menos dois anos de ensino técnico, além do médio. Quase a metade tem mestrado. Os acordos coletivos de trabalho incluem sempre treinamento no local de trabalho e, o mais recente assinado pelas empresas e o sindicato, determina que os trabalhadores tenham direito a duas semanas de estudo por ano em qualquer área, escolhida por eles, pagas pela empresa. Em casos em que uma empresa fecha e não há mais empregos em uma determinada área, o sindicato treina os trabalhadores em uma nova área. Os altos impostos dinamarqueses, no entanto, não são investidos apenas em educação. Saúde totalmente gratuita e, principalmente, um sistema caro, mas eficiente, de seguro desemprego, ajudam. O governo e o sindicato bancam por até um ano o mesmo salário recebido pelo empregado no antigo emprego, enquanto um sistema de ajuda na busca de novas colocações praticamente obriga o trabalhador a procurar um novo emprego. Com regras simples para demissão e contratação, a rotatividade é alta e o desemprego, baixo. "Nossos trabalhadores, nos últimos cinco ou seis anos, não tem medo de perder seus empregos. Cerca de 700 mil pessoas trocam de emprego todo ano na Dinamarca", diz Marie-Louise. A repórter Lisandra Paraguassú viajou a convite do governo da Dinamarca

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