Publicidade

Na hora do voto, gregos pesam consequências do 'sim' e do 'não'

Embora a pergunta feita no plebiscito seja sobre as negociações com a UE, a própria permanência no bloco pode estar em jogo

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

ATENAS - Os gregos foram às urnas neste domingo, 5, para decidir se concordavam ou não com as regras nas negociações do pacote de ajuda da União Europeia. Nos últimos cinco anos, apesar da grande quantidade de injeção de capital, a economia grega sofreu uma prolongada recessão. Na hora do voto, os partidários do "sim" e do "não" estão escolhendo se é hora de romper ou não com a estratégia adotada até agora.   Do lado do "sim", predomina a vontade de mostrar vontade de colaborar com a União Europeia, que, afinal, tem estendido a mão ao país nos momentos de dificuldade. Em uma seção eleitoral do centro de Atenas, o Estado conversou com Ioannis Lyras, 52 anos, cirurgião plástico que é cônsul honorário do Brasil em Atenas. "Acho que o voto no 'sim' representa uma uniformização da política econômica europeia, uma boa vontade em relação ao acordo."

Ioannis Lyras: voto no 'sim' é sinal de boa vontade com credores Foto: Fernando Scheller/Estadão

  No entanto, o médico - que votou no início da tarde, horário local, com a esposa - afirma que a Grécia, em suas atuais condições financeiras, será obrigada a buscar a paz com a União Europeia mesmo que o "não" saia vencedor nas urnas. "De um jeito ou de outro, haverá um acordo. Sem acordo, o país não tem futuro."   Outro defensor do "sim" é o professor universitário Vassilis Pesmazoglou, 62 anos, que votou na mesma seção eleitoral de Lyras. Ele afirma que o primeiro-ministro convocou o plebiscito - desnecessário, em sua opinião - porque não conseguiu costurar o apoio necessário em seu partido (a legenda de extrema esquerda Syriza) para acertar os termos sozinho.   "Eu não gosto do humor do país e me desagrada também o fato de que a questão é muito obscura. Na verdade, ninguém pode entendê-la de verdade. Além do mais, o 'não' vem antes do 'sim" na cédula eleitoral. Em grego, nem em ordem alfabética isso faz sentido, já que 'nai' teria de vir antes de 'oxi'."   Para o professor, Tsipras não se enquadra como um político de esquerda. "A posição dele, de negar os termos do acordo, é compartilhada até mesmo pela extrema direita grega. Então, não haveria jeito de eu concordar com isso. O voto no 'não' é completamente irracional."  Cansaço. Os que advogam pelo voto contra as condições impostas pela União Europeia se dizem cansados de esperar por uma promessa de desenvolvimento que nunca se concretiza. É o caso de Thanassis Negas, 60 anos, que trabalha com importação e exportação de tecidos. "Eu não me enquadro na categoria 'desempregado' para o governo, mas essa é a minha real situação. Eu ganho muito pouco, menos do que o suficiente para me sustentar."

Thassanis Negas: modelo econômico não prioriza os mais pobres Foto: Fernando Scheller/Estadão

  Para Negas, que pertence ao movimento Enam (uma espécie de resposta grega ao espanhol Podemos), o voto no 'não' é uma alternativa para priorizar as pessoas em detrimento do capital. "Em toda a Europa, mesmo na Alemanha, há informações de que as camadas mais pobres da sociedade estão sofrendo. Está claro que a receita econômica atual está trazendo só pobreza, e não desenvolvimento."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.