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Na OMC, brasileiro evita criticar Trump e diz que está 'pronto' para conversa

Diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo, evitou tecer qualquer tipo de crítica em relação ao americano

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:
Azevedo alertou quesentimento anti-globalização pode ser perigoso Foto: Edgar Su/Reuters

GENEBRA - "Especulação". É assim que o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo, qualifica por enquanto as informações de que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, estaria disposto a adotar amplas medidas protecionistas. Numa coletiva de imprensa nesta quinta-feira, Azevedo evitou tecer qualquer tipo de crítica em relação ao americano. Mas deixou claro que o uso do sentimento anti-globalização pode ser perigoso e "sair de controle". 

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Nos últimos dias, diversos parceiros comerciais dos EUA tem se mostrado preocupados com anúncios como o de que Trump irá retirar seu país do Tratado Trans-Pacífico e de que quer renegociar o Nafta. Durante a campanha, o então candidato ainda ameaçou abandonar a OMC e disse que as importações chinesas estavam "estuprando" a economia americana. 

Mas Azevedo insiste que ele é "uma pessoa objetiva". "Trabalho com fatos. Até la, vou dar créditos a governos que querem melhor para seus cidadãos", disse. Ele ainda afirmou que "não aceita" a ideia de que os votos foram decididos pelo discurso anti-globalização, apontando que outros candidatos também usaram da mesma retórica. 

Candidato à reeleição para mais quatro anos no comando da OMC, o brasileiro afirmou que está "pronto para falar" com Trump e que já fez chegar à sua equipe uma mensagem de que quer conversar. Mas insiste que "não recebeu nenhuma indicação" de que o novo governo queira sair da OMC. "Queremos aprofundar nossas relações com os EUA", disse.

Bombardeado por perguntas de jornalistas de todo o mundo sobre o que pensava sobre Trump e suas promessas, Azevedo foi cauteloso. "Temos que ver. Como um negociador e depois como diretor da OMC, sempre sou cateloso ao analisar situações com base em manchetes ", disse. "Temos de ver o que é feito, os detalhes. Haverá renegociação? Haverá outra iniciativa?", questionou. 

Para ele, "é muito cedo" para definir quais são as implicações das promessas de Trump. "Temos de responsavelmente esperar e ver qual o efeito de qualquer decisão. Temos de ver qual será a estratégia da política comercial", disse. "Eu não sei quais são suas políticas. Ouvi frases", disse. 

"Vamos dar uma chance de que sentem, olhem de uma forma mais ampla e num ambiente em que outros componentes - além de votos - e ver o que será feito", afirmou. Questionado se não estava preocupado com os comentários de Trump, Azevedo desconversou: "estou sempre preocupado, desde o primeiro dia no cargo".

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Sentimento - Apesar de evitar criticar Trump, Azevedo deixa claro que um "protecionismo horizontal normalmente não é positivo para a economia". Mas ele alerta que os desafios para o mercado de trabalho não vem do comércio. "A resposta não é o protecionismo. Mas educação, treinamento e maior apoio para uma transição", disse. 

Em sua opinião, o comércio não pode ser considerado como o responsável por problemas enfrentados por alguns setores. Ele admite que impactos existem. Mas alerta que é mais fácil culpar a importação que fatores domésticos por uma eventual crise. 

"Dito isso, existem preocupações com a globalização", disse. "Isso é evidente em muitas sociedades desenvolvidas e temos de tomar cuidado. Estão errando no diagnóstico do problema", afirmou.

Para Azevedo, o que se percebe é que onde existe um sentimento indiscriminado contra a globalização também há intolerância, medo do estrangeiro. "Isso pode sair do controle e escalar rapidamente", disse. "A história mostra que temos de ficar de olho se falarmos da globalização dessa maneira", alertou.

Para 2016, sua estimativa é de que o comércio internacional terá uma expansão de apenas 1,7%. Para 2017, a previsão é de que um desempenho que iria variar entre 1,8% e 3,1%. "Se houver uma recuperação, vemos que será modesta a moderada", completou. 

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