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Nacionalização da YPF gera crítica externa e aprovação doméstica

O analista Victor Bronstein, por exemplo, defende o argumento de que a YPF não tem investido na Argentina, transformando o país em importador de combustíveis

Por Marina Guimarães e correspondente
Atualização:

 

População se manifesta em favor da nacionalização da YPF, hoje controlada pela Espanhola Repsol

 

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BUENOS AIRES - A decisão do governo argentino de expropriar a YPF gerou críticas internacionais, mas certa aprovação doméstica. Analistas externos questionam o risco de ineficiências associadas com a criação de uma empresa controlada pelo Estado, a falta de detalhes sobre o preço a ser pago pela empresa e a piora no clima de negócios. Internamente, entretanto, alguns analistas defendem a medida. "Ela tem sentido porque a Repsol usava os lucros obtidos com sua filial na Argentina para expandir-se em outros países, como na Venezuela e no Brasil", defende o analista Victor Bronstein. Ele sustenta o argumento da presidente Cristina Kirchner de que a YPF não tem investido na Argentina, transformando o país em importador de combustíveis.

Outro analista ouvido pela AE, mas que prefere não ser identificado, também defende a iniciativa da Casa Rosada. "Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que o Estado não está propondo uma expropriação sem remuneração. Pelo contrário, fixa um organismo para definir o valor e deixa claro que pagará por estas ações", afirmou a fonte. Em segundo lugar, continuou, as ações estarão em mãos do Estado e das províncias, uma fórmula que vai beneficiar as produtoras. "O tema agora é chegar a um acordo sobre o valor das ações que o Estado e as províncias vão comprar", ressaltou. No início do ano, o valor de mercado estabelecia uma cotação de US$ 16 bilhões. Três meses depois da cruzada iniciada pelo Executivo e pelas províncias contra a YPF, esse valor caiu para US$ 8,6 bilhões.

O analista opinou que esse valor poderia ser menor porque as companhias petrolíferas "valem por suas reservas e a YPF tem menos reservas do que quando os espanhóis compraram a empresa". A fonte também destacou que YPF possui 60% das áreas de exploração da Argentina, mas nos últimos anos só produz 30% do petróleo produzido por todas as petrolíferas. Para a fonte, "é correto que o governo detenha o controle da maior petrolífera do país porque nenhum país privatiza seus recursos, menos ainda o petróleo e gás".

O analista do setor energético, Eduardo Fernández, por sua vez, disse que a mudança no controle da empresa não vai se traduzir em mais investimentos e aumento da produção de combustíveis. Segundo ele, isso só ocorrerá no longo prazo, mediante políticas focalizadas para estimular investimentos. Os analistas internacionais também criticam a medida e afirmam que o clima de negócios no país vai piorar e afugentar os investidores.

Para o banco de investimentos Goldman Sachs, a evolução do conflito é negativa. "Esperamos ver um maior investimento e produção de petróleo no curto prazo, mas no médio prazo haverá o custo de prováveis ineficiências associadas com a criação de outra empresa controlada pelo Estado", disse em relatório enviado aos clientes. Além disso, o Goldman Sachs afirma que pagar pelas ações, significa onerar a carga fiscal para o país que não tem acesso às fontes de financiamento externo. O BNP Paribas, por sua vez, chamou a atenção para a falta de detalhes sobre o preço a ser pago ou a fonte dos fundos para essa remuneração.

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