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Nada a comemorar

Mesmo com o PIB positivo, o País ainda está longe de recuperar todas as perdas acumuladas

Por Silvia Matos
Atualização:

Depois de um começo de ano razoável em termos de crescimento econômico, as previsões do Ibre indicavam um segundo trimestre um pouco melhor que o primeiro. De fato, o mês de abril não decepcionou: a indústria cresceu 0,9% em relação ao mês de março, o varejo ampliado 1,7% e foram criados 40 mil empregos formais no mês, já excluindo os efeitos sazonais.

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Com a greve dos caminhoneiros em maio, o cenário mudou. Mesmo com a recuperação de parte das perdas em junho, o crescimento econômico recuou. Desde julho, as previsões do Ibre já apontavam para um crescimento baixo, mas positivo para o trimestre.

Mesmo sendo positivo, não podemos comemorar. Após o PIB recuar mais de 8% na última recessão ainda estamos longe de recuperar todas as perdas acumuladas. Após a saída da recessão conseguimos crescer, em média, 0,4% por trimestre. Mantido esse ritmo, só em 2021 o País conseguirá recuperar tudo o que foi perdido. O que seria inédito em nossa história. Em todas as recessões que o País passou desde 1980, de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos (Codace), todas as perdas já haviam sido recuperadas, no máximo, em sete trimestres após o fim da recessão.

Para piorar, o investimento contraiu quase 2% neste segundo trimestre, o que é um péssimo resultado. Após recuar quase 30% na última recessão, houve um crescimento acumulado de apenas 2% até o segundo trimestre deste ano, muito distante de recuperar tudo o que perdemos. 

Para o segundo semestre ainda há muita incerteza com relação às previsões. Por enquanto, nossas projeções apontam para um crescimento do PIB de 0,9% no terceiro trimestre em relação ao segundo. Esse número mais elevado decorre em parte do fraco resultado do trimestre anterior. E para o ano fechado esperamos um crescimento de 1,5%.

Para 2019, os prognósticos ficam difíceis, pois qualquer previsão vai depender do resultado das eleições. Caso vença um governo que seja capaz de fazer as reformas de que o País precisa, podemos crescer mais que este ano. Mas, sem dúvida, o desafio do próximo governo será hercúleo. Sem reformas fiscais profundas, não vamos conseguir reequilibrar as contas públicas e estabilizar a dívida pública. Também precisamos continuar avançando nas reformas microeconômicas para aumentar a produtividade, tão crucial para elevar o crescimento potencial.

*Economista e pesquisadora da Economia Aplicada do FGV IBRE

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Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV

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