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Nakano defende queda do juro para controle da entrada de dólares

O economista ligado a Alckmin defendeu ainda o controle da entrada de capitais de curto prazo, por meio de tributação; e corte dos gastos

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos formuladores do programa econômico do candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB), o economista Yoshiaki Nakano, defendeu nesta terça-feira o equilíbrio entre o juro interno e as taxas externas; um câmbio flutuante, porém administrado; o controle de capitais de curto prazo; e o corte nas despesas correntes, para zerar o déficit fiscal, que no ano passado foi 3,4% do PIB. Pouco mais tarde, Alckmin desautorizou suas declarações. Enquanto isso, economistas já criticavam suas propostas (veja nos links ao lado). Ressaltando que a proposta era "pessoal", ele defendeu o uso da política monetária para o equilíbrio da conta de capitais. Ou seja, Nakano prevê que a queda do juro interno, em equilíbrio com as taxas externas, reduziria a entrada de dólares no País. Hoje as taxas externas são mais baixas que as externas. O investidor traz recursos para o mercado interno, o que provoca a valorização do real frente ao dólar. Ele explicou que, para a queda das taxas, é necessário uma seqüência nas medidas e o primeiro passo "é um ajuste fiscal significativo". Ele avalia que hoje o governo é o grande tomador de recursos e é isso que impede a queda dos juros. "Se o governo não ficar capturando poupança privada, os juros caem sozinhos". Segundo Nakano, o governo fica hoje com cerca de 48% do PIB, sendo 37,4% de carga tributária, 3,4% de déficit fiscal e mais 4% de outras receitas, como os lucros da Petrobras. Controle de capital Para controlar o equilíbrio entre a entrada e saída de dólares no País, Nakano disse que a política econômica "precisa de instrumentos adicionais transitórios para controle de capitais de curto prazo". Esses instrumentos seriam "ou tributação ou alguma coisa", disse ele. Nakano explicou que tais instrumentos fariam parte de um combate à inflação, "se o País estiver em situação, que não é permanente, de demanda crescendo e pressionado a inflação". De acordo com ele, "em toda a economia em crescimento, a capacidade produtiva anda na frente da demanda". Ele deu como exemplo disso a economia chinesa. Intervenção no câmbio Ele defendeu ainda uma política cambial em que o real pode se desvalorizar, mas não se valorizar, o que sinaliza um controle do mercado de câmbio. "Se sinalizar para o mercado que o governo não vai deixar o câmbio apreciar, o mercado não vai apostar pela apreciação. Mas se apostar, o governo intervém", disse. Ele afirmou que, atualmente, as intervenções do Banco Central no mercado de câmbio não funcionam porque a diferença entre a taxa de juros doméstica e a internacional traz mais capital para o Brasil. De acordo com ele, na sua proposta de política econômica, a intervenção no câmbio funcionaria porque o juro estaria equilibrado com a taxas externas. Nesta política, o economista defendendo um câmbio flutuante, porém administrado. "Estou sugerindo montar um sistema de câmbio que tenha condição de administrar a taxa de câmbio", disse. Ele defendeu a criação de um fundo de estabilização cambial na secretaria do Tesouro Nacional. De acordo com ele, nos EUA existe um fundo semelhante. "O sistema não vai permitir a valorização do câmbio, nem grande volatilidade", afirmou. Nakano informou também que o sistema idealizado não explicitaria a taxa de câmbio e nem quando o governo iria intervir. Segundo o economista, é fundamental não criar a expectativa de valorização do real, "nem deixar ter apreciação cambial". Ele argumentou que a expectativa de valorização da moeda nacional "é uma profecia auto-cumprida e gera apostas, até quebrar o País". O câmbio pode ser usado para reduzir o risco e também para ser "um instrumento de crescimento e emprego", disse o economista. Segundo Nakano, após a desvalorização do câmbio, as exportações cresceriam e, junto com este movimento, se deve fazer um ajuste fiscal, cortando despesa corrente. "De um lado, (o ajuste fiscal) faz pressão muito forte do próprio mercado para a taxa de juros cair, pela trajetória declinante da dívida. Se faz um Banco Central normal, a taxa de juros cai", disse. De acordo com ele, a queda da taxa de juros vai fazer acontecer "um boom de investimentos privados". Por outro lado, disse, o ajuste fiscal abre espaço para investimento público. A idéia, afirmou, "é fazer a dívida cair em 10 anos para 30% do PIB e botar um teto nisso". Ajuste fiscal e corte de gastos O economista disse, sobre o ajuste fiscal que defende, que "tem muito a ser feito sem mexer com o direito de ninguém, sem ficar mudando leis, sem desvincular, sem nada". Nakano afirmou que "dá para fazer muita coisa simplesmente, desde que haja um grupo de pessoas dispostas a botar um mínimo de ordem, de eficiência na máquina pública". Ele usou sua experiência como secretário de Fazenda de São Paulo para justificar sua opinião. "Um item muito grande de despesa é a contratação de serviços de terceiros. Em seis anos que fiquei na secretaria de Fazenda, o valor desses contratos de terceiros caiu 37% em termos reais", disse. Segundo Nakano, "a lógica do modelo brasileiro é de transferência". Em entrevista, ele declarou que falava de "transferência de tudo" inclusive para Estados e municípios, Nakano não quis detalhar, porém se defendia alguma mudança em relação às transferências de renda, como as do programa Bolsa Família. Compulsório O economista disse que o BC brasileiro tem "resquícios da hiperinflação, entre as quais a (taxa básica de juros) Selic". Ele criticou também a política de depósitos compulsórios (altos) das instituições financeiras no BC. "O compulsório que nós temos não faz sentido", afirmou. De acordo com o economista, questões operacionais do BC fazem com que os juros no Brasil "tenham de ser elevados uma barbaridade para fazer efeito". Ele disse também que a Selic não deveria ser usada para títulos de longo prazo. De acordo com Nakano, para evitar essa utilização da Selic, é necessário o ajuste fiscal. Para Nakano, "banco central normal" é o dos países desenvolvidos". Matéria alterada às 19h03 para acréscimo de informações

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