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Nakano quer ousadia do BC na política cambial

Por Agencia Estado
Atualização:

Ex-secretário estadual da Fazenda do governo Mário Covas, o economista Yoshiaki Nakano, professor da FGV-SP, considera que o Brasil, no momento, deve dar toda prioridade às exportações, o que exige mais ousadia do Banco Central na depreciação do real frente ao dólar e ao euro. Em entrevista ao programa Conta Corrente, da Globo News, ele lembrou que, quando se olha para o mercado interno, a indústria brasileira, desde 1980, cresceu apenas 0,8% ao ano. Ou seja, há um problema interno de demanda, o que explica o crescimento do desemprego e o aumento da tributação. A saída natural, segundo disse, é pelo aumento das exportações, através do câmbio, como fazem os países asiáticos. "Nós devemos ter uma moeda um pouco mais desvalorizada e o sinal sobre a melhor taxa de câmbio é quando os empresários passarem a investir para valer no setor exportador." Volta à euforia Para Nakano, isso seria repetir o que tivemos num momento do governo FHC, quando ocorreu um grande volume de investimentos no País. "Acho perfeitamente possível criar uma euforia desse tipo, também no setor industrial, com um câmbio mais estimulante. Se você dá um câmbio um pouco melhor, o investimento é praticamente auto-financiado. Se você dá um câmbio melhor, a lucratividade do setor industrial vai aumentar. E, na medida em que se investe, estarão sendo gerados recursos próprios para financiar os investimentos." O exemplo asiático Segundo o economista este é o caminho natural para o Brasil, idêntico ao percorrido por todos os países asiáticos, especialmente a China e a Índia. "Se olharmos um pouco para trás, países destruídos na guerra e que se reconstruíram, seguiram exatamente este caminho, como no Japão e na Europa, que desvalorizaram suas moedas, adotaram uma política fiscal rigorosa, com juros baixos e crédito abundante." O medo da inflação Sobre se o governo Lula estaria disposto a adotar este caminho, Yoshiaki Nakano disse que existe um temor muito grande por parte da equipe econômica do retorno do processo inflacionário. Para ele, é certo que a depreciação do real provocará um aumento nos produtos importados. "Mas, no IPC, o impacto é muito pequeno e temporário." Nakano admitiu, porém, que o momento não é favorável para se falar em desvalorização cambial. "Temos de falar numa política de longo prazo, que você irá fazer por tentativa e erro. No momento em que o câmbio subiu para quatro (reais), todo mundo ficou assustado. Quando caiu para 3,6, 3,5, e ficou num período relativamente longo, todo mundo se acomodou. Naquele momento, era não deixar cair muito." A parte do governo Em sua avaliação, o ex-secretário estadual da Fazenda de São Paulo disse que, a longo prazo, se o governo tivesse sinalizado que o câmbio seria mais elevado, hoje o País já estaria vendo o início dos investimentos no setor exportador, "ao invés deste marasmo e desânimo que estamos vendo junto aos empresários." E receitou: "É óbvio que o governo tem aí de fazer sua parte. Além do ajuste que está sendo feito, o governo tem de mudar a natureza desse ajuste. Tem de cortar gastos correntes para gerar recursos para investimentos. Se o governo concretamente não sinalizar para estes investimentos em infraestrutura - portos, estradas, abertura para o Pacífico - o empresariado continuará reticente."

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