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'Não há elementos concretos para redução de investimentos', diz presidente do IBP

Ex-conselheira da Petrobrás diz que a abertura do setor de gás no Brasil não tem volta; apesar da crise trazida pelo coronavírus, ela diz que investimentos em energia renovável também já fazem parte da estratégia das empresas

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - Em sua primeira entrevista à frente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), a ex-conselheira da Petrobrás e fundadora da consultoria Catavento, Clarissa Lins, avalia que as petroleiras já estavam preparadas para a queda do petróleo desde a redução de preços, em 2014, quando o barril caiu para US$ 30 e as jogou em um novo cenário de redução de custos e maior eficiência. Para ela, a situação atual é passageira e no médio prazo voltará a se ajustar, fazendo com que os investimentos na indústria tenham continuidade, apesar de admitir que eventualmente alguns podem ser postergados.

Clarissa Lins, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP) Foto: André Luis Mello/IBP

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Para ela, a abertura do setor de gás no Brasil não tem volta, e apesar da crise trazida pelo coronavírus, investimentos em energia renovável também já fazem parte da estratégia das empresas, indicando que também devem prosseguir. Já o shale gas norte-americano pode sofrer com a queda da commodity, que voltou recentemente ao patamar de US$ 30/barril, por não ter preços competitivos e ter sido pego em um momento em que as empresas do setor se encontram muito endividadas.

A economista considera cedo para dizer se o Brasil deve realizar novos leilões de petróleo no País este ano, afirmando que outros fatores estão envolvidos nessa decisão, e que a abertura do mercado de refino será muito saudável para o País.

Leia a entrevista na íntegra:

A pandemia do coronavírus reduziu a demanda mundial e provocou uma guerra de preços entre Rússia e Opep, o que afetou severamente a indústria do petróleo. O que essa queda de preço da commodity pode provocar no mercado brasileiro de petróleo e gás natural? Poderá haver queda de investimentos este ano? Isso compromete as projeções futuras?

RIO - Ainda é muito cedo para traçar um diagnóstico específico para o contexto do COVID-19 no segmento de óleo e gás brasileiro. Entretanto, as empresas já ajustaram suas estruturas desde 2014, quando o barril atingiu níveis abaixo de US$ 30. Houve um aprendizado no sentido de cortar custos e operar com mais eficiência, o que certamente é positivo na situação atual. Espera-se que a combinação de redução de demanda - em função do coronavírus - com excesso de oferta diante da falta de entendimento entre a Rússia e a Arábia Saudita seja passageira e que as cotações se recuperem à medida que passe o momento mais agudo da crise. Trata-se, assim, de uma situação conjuntural que tende a se ajustar no médio prazo. No tocante aos investimentos previstos, ainda não há elementos concretos que apontem para uma revisão dos mesmos, embora a sinalização seja de cautela e prudência. A indústria de O&G é de longo prazo, o que significa trabalhar com investimentos de longa maturação.

A queda de preço do petróleo pegou o Brasil em plena abertura de fato, com a volta dos leilões, principalmente das cobiçadas áreas do pré-sal. Havia expectativa de mais vendas este ano? A senhora crê que as rodadas serão realizadas? Vale a pena?

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Entendemos ser prematuro discutir eventual cancelamento ou adiamento dos bids (leilões) previstos para o final de 2020 e para o próximo ano. No momento, o mais prudente a fazer é aguardar os desdobramentos da crise e seus reflexos sobre as condições de mercado. O apetite das empresas que operam no Brasil depende de uma série de fatores, sempre levando em conta, por um lado, a alocação de risco e retorno das áreas licitadas, bem como a disponibilidade de recursos para investir.

Como as empresas de petróleo associadas do IBP estão enfrentando a queda de preços? É possível ver empresas deixando o Brasil? Quais os setores mais impactados nessa hora?

O momento requer serenidade, para que se possa fazer uma avaliação adequada da crise atual e de seus impactos no ambiente de negócios. Por se tratar de uma indústria de longo prazo, o setor de O&G está acostumado a lidar com volatilidade de preço e as empresas aqui instaladas dificilmente tomam decisões precipitadas em função de alterações conjunturais. Dito isso, também cabe reconhecer que o cenário é desafiador e que os projetos de custo menor tendem a ser priorizados, tanto no Brasil como em outros países. Alguns investimentos podem eventualmente vir a ser postergados, a depender da disponibilidade de caixa ou de acesso a financiamento adequado. No contexto global da indústria, o setor de shale norte-americano parece ser o mais afetado, por não ser competitivo ao nível corrente de preços e por depender de empresas muito endividadas.

A abertura do mercado de gás natural, que estava em plena atividade, poderá ser afetada? Venda de gasodutos e distribuidoras estavam na pauta da indústria. Será possível dar continuidade a esses processos?

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A abertura do mercado de gás natural é um projeto estruturante e de longo prazo, que conta com o engajamento do governo federal e de alguns Estados que já se mobilizam para abrir seus mercados e atraírem investimentos, emprego e renda. Desta forma, não há motivos para pensar que ela seja revista. Quanto à venda de ativos, o IBP entende que isso seja uma decisão de cada empresa ao fazer sua gestão de portfólio.

Ativos na área de refino também podem ter impacto? Como a indústria vê a relação das vendas das refinarias da Petrobrás com o momento atual? É possível ou recomendável adiar as vendas? O preço dos ativos de refino pode cair também em função do novo patamar da commodity?

O IBP, por representar diversas empresas da indústria, tem por hábito não comentar a decisão individual de uma associada. Apenas reafirma que a abertura do setor é saudável para o Brasil.

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O que o IBP pode fazer ou já está fazendo para enfrentar esse momento e evitar que o setor encolha junto com a crise?

O IBP acompanha a situação e reforça, cada vez mais, sua atuação para contribuir com os avanços no campo fiscal e regulatório, que se tornam ainda mais urgentes neste momento de choque de preços e redução da demanda por petróleo. Adicionalmente, o Instituto atua no monitoramento da gestão de crise, estando em contato permanente com as células de crise das diferentes empresas associadas e colocando-se à disposição do governo com informações adequadas e capacidade de mobilização.

Como a queda do preço do petróleo pode afetar a energia renovável, uma aposta da maioria das petroleiras? Projetos podem ser suspensos?

Os investimentos em projetos renováveis estão na estratégia de longo prazo das companhias, especialmente as europeias. Já as norte-americanas investem mais em tecnologia para redução de emissões. O movimento de descarbonização é global e não há evidências de retrocesso nessas iniciativas que são de longo prazo.

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