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Não há nexo entre desenvolvimento e inflação alta, dizem economistas

Por Agencia Estado
Atualização:

O dilema entre inflação alta e crescimento econômico alto ou inflação baixa e crescimento econômico também baixo não existe para a economia brasileira. Esta é a constatação de três economistas do Ibmec Business School que conduziram uma pesquisa envolvendo 150 anos de economia brasileira, de 1850 a 2000. Isso significa que o País pode retomar o crescimento econômico sem precisar de inflação alta, ao contrário do que sustentam alguns economistas ?erradamente?, na opinião dos professores Eurilton Araújo e Alexandre Cunha. Sem correlação Na análise que fizeram, os pesquisadores não encontraram correlação significativa entre inflação e aumento do Produto Interno Bruto (PIB). ?Se não há correlação, é muito difícil que haja causalidade, ou seja, que mais inflação possa gerar um PIB maior?, complementa Araújo. Usando um software especializado para o tratamento estatístico, o Matlab, os pesquisadores encontraram essa correlação entre inflação e PIB ?próxima a zero?, ou estatisticamente insignificante. Estatística Mesmo ressalvando que os dados ?podem não ser perfeitos?, visto as estatísticas até a Segunda Guerra Mundial serem imprecisas, eles estão convencidos de que a conclusão do trabalho é consistente. Os dados do período de 1850 a 1901 foram extraídos do trabalho de Raymond Goldsmith, e para o período de 1901 a 1947 são utilizadas estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo vinculado ao Ministério do Planejamento. Período JK Desde então foram utilizados dados oficiais (Fundação Getúlio Vargas até 1980 e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desde então). Eles admitem que em períodos curtos, como durante o governo JK, na década de 1950, isso pode ter ocorrido, ou seja, a correlação entre mais inflação e PIB maior. Só que o aumento do PIB não pode ser atribuído apenas ao aumento da inflação. ?Há outros fatores que precisam ser considerados, como a política econômica adotada e até os choques externos?, complementam os economistas. ?Além do que o período considerado é muito curto e não é coerente com a série de longo prazo?, complementam. ?Leitura errada? A afirmação de que inflação e aumento do PIB são variáveis conflitantes resulta de uma ?leitura errada? do trabalho do economista inglês Alban Phillips, que teria criado a famosa ?curva de Phillips?, em que mais PIB (emprego) resulta em mais inflação. Araújo e Cunha sustentam que essa teoria, que utilizou dados referentes à economia inglesa de 1862 a 1957, já foi contestada no exterior por pelo menos dois economistas que ganharam o Nobel de economia: Milton Friedman, em 1968, e Robert Lucas, em 1972. E eles desconhecem trabalhos específicos sobre a economia brasileira para sustentar a ?curva de Phillips?. Perda de dinamismo ?Na verdade, observamos que há muito poucos trabalhos sérios sobre aspectos mais relevantes da economia brasileira?, criticam os professores do Ibmec. No trabalho que desenvolveram, os economistas constatam a perda de dinamismo da economia brasileira nos últimos vinte anos. No período de 80 anos, de 1901 a 1980, o Brasil foi um dos países com maior crescimento mundial, mas desde então perdeu o ritmo. E se o País tivesse conseguido manter o mesmo ritmo dos primeiros oitenta anos do século XX, ou mesmo de 1945 a 1980, quando atingiu a média anual de 4,4%, o Brasil teria uma renda per capita 121% superior à atual. Isso significa que, em vez de um PIB per capita de US$ 2,9 mil em 2000, a renda do brasileiro seria de US$ 6,4 mil. Agora, para atingir esse patamar, o Brasil terá de crescer pelo menos 4,4% durante duas décadas. Só assim conseguirá atingir o PIB de 6,8 mil em 2020. Se mantiver o ritmo dos últimos vinte anos, o PIB per capita atingirá US$ 3,1 mil naquele ano.

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