
08 de junho de 2020 | 05h00
Embora as incertezas sobre a pandemia coloquem as empresas em alerta, não há como preparar um manual único para o mundo corporativo. “Todos estão buscando um norte para orientar a retomada ao trabalho. É uma fase de aprendizado. Não há uma regra comum para todos ”, explica o médico infectologista Sérgio Cimerman, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
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Para Cimerman, a regra geral é a informação. “Parece óbvio, mas é importante que cada colaborador entenda que a higienização das mãos, uso do álcool em gel e máscara, além do distanciamento, é o caminho para evitar o contágio.”
Nem todas as empresas comportam um ambulatório em suas instalações, segundo Cimerman. “E isso, por si só, não resolveria a questão.”
Desde o início do isolamento, grupos empresariais tentam se adequar à nova realidade. Empresas como Bradesco e o Iguatemi, por exemplo, contrataram o laboratório Fleury para fazer testes de diagnósticos de covid-19 em seus funcionários, além de oferecer consultas virtuais. Segundo Carlos Marinelli, presidente do Fleury, a área de novos negócios do laboratório não deve acabar após a pandemia. “A telemedicina veio para ficar. A pandemia acelerou o nosso processo de digitalização”, disse.
No Bradesco, o serviço de testagem é oferecido aos funcionários das agências, que não pararam por ser uma atividade essencial. O banco está fazendo rodízio entre os funcionários de agências que trabalham de segunda à sexta-feira. No fim de semana, o local é higienizado para que a outra turma possa assumir o posto na semana seguinte. O banco busca fazer o mapeamento para achatar a curva do coronavírus. Os testes não são obrigatórios e o nome do funcionário fica em sigilo.
Para Fernando Guinato Filho, diretor-geral do Sheraton WTC, dificilmente os protocolos de saúde do grupo vão recuar, mesmo após a pandemia. “Esta é uma crise que vai deixar marcas profundas em todos os setores.”
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08 de junho de 2020 | 05h00
Empresas de grande porte contrataram a assessoria de hospitais, laboratórios e infectologistas renomados para organizar, aos poucos, a volta de seus funcionários ao trabalho. Com a flexibilização das regras de isolamento em São Paulo, grupos empresariais buscaram nos especialistas de hospitais, como Albert Einstein e Sírio-Libanês, e infectologistas protocolos de saúde para tornar o retorno menos dramático.
Da entrada ao prédio ao tradicional cafezinho, nada vai mais ser como antes. “A palavra mágica é distanciamento social e máscara”, diz o médico Sérgio Cimerman, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia. Disputas acaloradas para entrar no elevador na hora de rush também estão descartadas. Tudo vai ser monitorado.
Evitar o abre-e-fecha
Uma das maiores construtoras do País, a Even está concluindo a reforma de seu escritório em São Paulo e já tem em mãos o plano de retorno. O novo mandamento corporativo vai muito além das regras de distanciamento e higienização. Nas áreas de descanso e copa, por exemplo, os cuidados terão de ser redobrados. “Áreas de descanso e de alimentação são locais onde as pessoas baixam a guarda. E é aí que mora o perigo”, alerta o médico infectologista Adauto Castelo Filho, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, que está auxiliando a construtora nesta retomada. “Latino é muito caloroso. Quando se encontra, quer abraçar e dar tapinhas nas costas. Não dá mais.”
À espera da autorização da prefeitura de São Paulo, a Even se prepara, mas não tem pressa para a volta dos funcionários aos escritórios e estandes de venda. “Ninguém vai ser obrigado a voltar se não se sentir seguro. A retomada, quando autorizada, vai ser por etapa”, diz Daniel Matone, diretor administrativo e financeiro da construtora. Desde março, os 450 funcionários do grupo em São Paulo e do Rio de Janeiro estão casa. “Somente as obras estão operação porque são considerados serviços essenciais”, afirma.
Nas últimas semanas, aumentaram os pedidos de consultoria aos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês. “Estamos trabalhando no plano de retomada para vários setores”, diz Rafael Saad, gerente de consultoria do Sírio Libanês. Segundo Saad, o trabalho de consultoria do hospital existe há 7 anos, mas era voltado ao apoio de redes de saúde públicas e privadas. A pandemia mudou a cara do negócio.
“Temos uma equipe de saúde e engenheiros que fazem o plano de ação e identifica riscos de contágio nas empresas. Temos de quatro a cinco pessoas dedicadas a cada projeto”, explica Saad. O hospital organizou recentemente todo o projeto da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), que reúne 577 estabelecimentos no País. O plano de ação não inclui protocolos somente aos consumidores, mas aos funcionários que trabalham no entorno dos shoppings e escritórios.
As indústrias de alimentos foram as primeiras que começaram a procurar ajuda, afirma Anarita Buffe, diretora de desenvolvimento de projetos e consultoria do Albert Einstein. Nesta primeira onda da pandemia, as companhias buscaram auxílio para manter os serviços essenciais e fazer controle de contágio. Junto com o médico infectologista Adauto Castelo Filho, o Einstein preparou os protocolos de trabalho para as fábricas da JBS no Brasil.
“Mapeamos toda a jornada do trabalhador para reduzir o risco de contágio”, diz Castelo. Nas fábricas da JBS, foi criada a figura do “monitor do covid”, cuja função é vigiar os funcionários com máscaras e saber se estão obedecendo os protocolos.
Agora, a demanda das empresas é preparar a volta após o fim do isolamento. “Temos entre 40 a 45 companhias em consultorias, que vão de construtoras, empresas de entretenimento, como cinemas, a escolas”, diz Anarita, do Einstein.
No complexo WTC, que reúne quatro negócios – as torres de escritórios, o shopping D&D, o hotel Sheraton e o centro de convenções, o desafio foi validar os diversos protocolos que atendam a todos os setores. “A palavra de ordem é segurança”, diz Fernando Guinato Filho, diretor-geral do Sheraton São Paulo WTC e do WTC Events Center. Dos negócios que ele administra, o centro de convenções será o último a retomar as atividades.
“Nosso teatro, com espaço para mais de 500 pessoas, só voltará com no máximo 80 pessoas no local. Estamos com 15% a 20% do nosso efetivo no hotel, que está com bares e restaurantes fechados e baixa ocupação”, diz Guinato.
Já as torres de escritórios estão prontas para a retomada. “Mas muitas empresas, mesmo podendo ocupar a área, não voltaram ainda.” Guinato não tem dúvida: a volta vai ser lenta e gradual. “E nem tudo será igual como antes.”
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