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Não se pode abandonar a linha de ortodoxia fiscal

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Por Redação
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O governo está enfrentando, sem dúvida, um momento delicado na condução da política econômica. Está para rever o modelo de crescimento via consumo para dar impulso aos investimentos e enfrenta reivindicações de várias direções, cuja consequência será a elevação dos gastos de custeio. Por isso, deve prestar atenção ao drama vivido pelos países da zona do euro para não cair em crise semelhante.Enquanto sua opção por uma política anticíclica tem como efeito uma queda de receitas, que só poderá se acentuar com as medidas visando a reduzir o "custo Brasil" - uma opção que merece apoio e que é potencializada por uma atividade em marcha lenta -, está enfrentando a pressão do funcionalismo público para um reajuste salarial que não se justifica globalmente, diante de outras vantagens que essa categoria acumulou.Neste mesmo momento, o governo sofre pressão, altamente justificada, para assegurar um crescimento sustentável e por realizar mais investimentos na infraestrutura do País.Diante desse quadro, a tentação de fugir da ortodoxia desponta com força: de um lado, reduzir a meta de superávit primário em algo como 3% do PIB, que permitiria dispor de cerca de R$ 200 bilhões; de outro lado, ir ao mercado financeiro, nacional e internacional, para levantar recursos capazes de levar adiante novos investimentos cujos financiamentos se justifiquem. Ora, todas as crises que o Brasil enfrentou no passado tiveram sua origem num excesso de endividamento, especialmente no mercado financeiro internacional, cujo efeito foi o de travar o crescimento de nossa economia. Ao contrário, desde o Plano Real, e a instituição de mecanismos como o da Lei de Responsabilidade Fiscal, o Brasil tem servido como modelo para outros países e é altamente respeitado.Se acrescentamos as despesas de pessoal a outros gastos de custeio, temos, para o ano passado, 75% das despesas do Tesouro. É nesses itens que é preciso haver cortes, além de utilizar melhor esses gastos. A meta do superávit primário deve ser mantida, pois serve para pagar uma parte dos juros, enquanto a outra parte obriga o Tesouro a emitir títulos da dívida pública federal, isto é, contribui para aumentar a dívida.Não se pode sonhar em reduzir a zero os gastos de custeio, que atingem R$ 345 bilhões, mas é possível cortar cerca de R$ 50 bilhões para financiar investimentos, contribuindo com um crescimento saudável.

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