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‘Não se tira o Brasil da situação em que está sem sacrifício’

Executivo defende pacto capaz de reduzir ‘atoleiro’ em que o País está; para ele, governo atual tem condições de propor isso

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Atualização:
Projeto de longo prazo contaria com a adesão da população, diz Wongtschowski Foto: Nilton Fukuda|Estadão

Presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que reúne vários dos maiores industriais do País, Pedro Wongtschowski defende um pacto entre governo, Congresso e Senado para tentar tirar a economia brasileira do “atoleiro”. Embora considere possível um entendimento envolvendo a gestão Dilma Rousseff, o executivo, que também é conselheiro do grupo Ultra, acredita que “um novo governo, mesmo que em 2018, vai ter evidentemente condição mais favorável de propor um novo pacto de crescimento do País”. Confira os principais trechos da entrevista.

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Qual a saída para a economia?

O governo deveria formular uma proposta de políticas que enderecem adequadamente os problemas da economia. Se fizesse isso, bem feito, poderia conquistar a adesão da sociedade, que está ansiosa por uma solução, mesmo que de longo prazo e que implique em sacrifícios. Acho que tanto pessoas quanto empresas estão dispostas a fazer sacrifícios desde que entendam ser parte de um caminho necessário para a melhoria de longo prazo.

De que forma pode ser feito?

Há um movimento no Senado e na Câmara nesse sentido. O presidente do Senado (Renan Calheiros) anunciou que pretende pautar as grandes questões econômicas do País: déficit fiscal, Previdência, reforma fiscal. O governo não dispõe de maioria no Parlamento. Ainda assim, acho que a própria oposição atualmente está disposta a apoiar um conjunto de medidas que façam sentido para o Brasil.

Há condição política para isso?

Elas estão prejudicadas. Acho difícil, mas possível.

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Quem tem de abrir mão de que?

Não se tira um país da situação em que o Brasil está sem sacrifícios. De um lado, as pessoas não gostam de se sacrificarem, mas, do outro, os brasileiros estão numa situação em que aceitariam sacrifícios em troca de um projeto de longo prazo positivo e favorável.

Que tipo de sacrifícios?

Perda de privilégios, de certas garantias de estabilidade, mudanças nas regras da Previdência, redução do número de desonerações fiscais. Tudo isso é passível de mudança.

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Que medidas são necessárias na sua opinião?

O Brasil evidentemente tem uma crise fiscal. O déficit fiscal se deve, por exemplo, ao volume grande de despesas do governo e ao fato de que 90% do orçamento da União não pode ser contingenciado. Tem a questão da Previdência, que é uma bomba relógio. As saídas vão passar por medidas que, a médio e longo prazo, reduzam o déficit fiscal, fomentem investimentos privados em infraestrutura, energia elétrica e petróleo e sustentem a exportação. Elas dependem em grande parte do câmbio e se ele continuar numa faixa próxima ao nível atual e o setor tiver confiança de que vai se manter durante algum tempo, acho que começaremos a ver investimentos em projetos de exportação. Acredito que o governo ainda tem muitas alavancas para melhorar a situação econômica. Não as tem usado por falta de coordenação interna e de base parlamentar.

Caminharia mais rápido se fosse com um novo governo?

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Um novo governo vai ter, evidentemente, condição mais favorável de propor um pacto de crescimento do País. Agora, se esse governo vem antes ou em 2018 é uma decisão basicamente da classe política. Acho que esse governo pode conquistar condições para isso, mas sempre com um novo governo é mais fácil, embora não seja condição necessária.

Qual a participação da indústria nesse processo?

Quem gera emprego, imposto, crescimento, exportação é especialmente o setor industrial. Em 2012, a indústria de transformação, especificamente, representava 12% do PIB, 16% dos empregos formais e 30% da arrecadação de tributos. Entre 1980 e 2014, praticamente em todos os anos em que a indústria cresceu, o Brasil cresceu. O salário médio da indústria é 72% superior ao de todos os outros setores da economia. Essa relevância tem escapado do governo federal, com exceção do ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro que, por ser da área, tem feito um trabalho nessa direção, porém solitário.

Os investimentos vão continuar em queda neste ano?

O investimento é o que liga o presente de uma economia ao seu futuro. Por isso, é muito suscetível às expectativas de retorno e à maior confiança com que os empresários veem o cenário futuro da economia. Custo a crer que voltemos a ter em 2016 queda tão dramática quanto a de 2015, de 14,1%, mas teremos mais um ano de redução do investimento se não mudarmos a perspectiva de podermos sair da crise. Isso exigirá reformas e medidas de profundidade que, por enquanto, não estão no radar.

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