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Nas favelas, 94% dos que solicitaram o auxílio emergencial vão usar benefício para comprar comida

Segundo levantamento do Instituto Locomotiva e da (Cufa), dado sugere aumento da fome; no ano passado, 82% responderam que usariam o dinheiro na compra de alimentos

Por Fabrício de Castro
Atualização:

BRASÍLIA - Os moradores das favelas brasileiras usarão o dinheiro do novo auxílio emergencial, que começou a ser pago em abril pelo governo federal, principalmente para a compra de alimentos. Pesquisa do Instituto Locomotiva e da Central Única de Favelas (Cufa), obtida com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, mostra que 9,9 milhões de adultos que moram em favelas solicitaram o benefício. Desse total, 9,3 milhões de pessoas - ou 94% - querem os recursos para comprar comida.

Os dados sugerem um aumento da urgência, entre as famílias que moram nessas áreas, de recebimento de recursos, diante da segunda onda da pandemia. O governo federal pagará quatro parcelas mensais nos valores de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375, dependendo do perfil do beneficiário. No ano passado, durante a primeira onda, 82% das pessoas nas favelas que solicitaram o benefício citaram a compra de comida como objetivo principal.

Moradores das favelas usarão o dinheiro do novo auxílio emergencial para a compra de alimento, segundo pesquisa Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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"As pessoas estão passando fome na favela. Tanto que 94% dos que solicitaram o auxílio vão usar o dinheiro para comprar comida", diz o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles. O instituto e a Cufa formam o Data Favela, uma iniciativa voltada para pesquisa de dados nas favelas brasileiras, que reúnem mais de 16 milhões de pessoas, entre adultos e crianças.

Para este levantamento, o Data Favela fez 2.871 entrevistas com moradores de favelas com 16 anos ou mais, entre 1.º e 4 de maio. Foram ouvidos moradores de 351 favelas de todas as regiões do País. A margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto porcentual.

Apesar da forte demanda por alimentos, o acesso ao auxílio não alcançará os 9,9 milhões solicitantes. A pesquisa mostrou que 5,8 milhões dos adultos moradores de favelas já estão recebendo ou ainda vão receber o novo auxílio. Entre aqueles que solicitaram, 41% ou cerca de 4,1 milhões de adultos não receberão o dinheiro, porque não se enquadraram nos critérios do governo. "É muita gente. São pessoas que estão mais expostas ao vírus, porque têm de ir para a rua atrás do sustento", avalia Meirelles.

Pelas regras do novo auxílio, têm direito aos pagamentos os trabalhadores informais ou beneficiários do Bolsa Família, com renda mensal familiar de até três salários mínimos ou renda familiar por pessoa abaixo de meio salário mínimo. Também é preciso ter recebido o auxílio emergencial em 2020. Os critérios adotados em 2021 foram mais restritivos.

Pessoas que moram sozinhas receberão R$ 150; famílias com mais de uma pessoa, R$ 250; mulheres chefes de famílias, R$ 375. Os valores são menores que os pagos em 2020, quando as parcelas iniciais foram de R$ 600. Mães chefes de família recebiam R$ 1,2 mil.

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"A situação nas favelas é desafiadora. O novo auxílio demorou a chegar, o valor é insuficiente e alcança um número menor de famílias", alerta Preto Zezé, presidente da Cufa.

Em Brasília, o lançamento do novo auxílio emergencial foi negociado nos primeiros meses de 2021 entre o governo de Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional. No governo, uma das principais preocupações era a de que os valores do benefício não pressionassem ainda mais as contas públicas, já deterioradas em meio à pandemia.

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