Publicidade

Natal deve ser marcado por preço alto, busca por pechincha e falta de produtos

Pesquisa mostra que brasileiros vão deixar as compras para a última hora de olho em promoções e, assim, tentar driblar a disparada de preços, principalmente de alimentos

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

O vendedor Jairo de Jesus, de 38 anos, decidiu se arriscar. De máscara, ele está disposto a enfrentar uma aglomeração no supermercado e até a correr o risco de não encontrar algum produto que procura porque pretende deixar para comprar alimentos e parte das bebidas da ceia de Natal no momento mais próximo da data. “Tem sempre aquele precinho da última hora”, diz.

A expectativa do vendedor é conseguir alguma promoção num ano de um Natal marcado por inflação em alta, sobretudo dos alimentos, e falta de alguns produtos – de cerveja a eletrodomésticos, ainda em função da recuperação da indústria diante do tombo na produção provocado pela paralisação das atividades por causa da pandemia.

O vendedor Jairo de Jesus vai comemorar com a família e economizar. Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão

PUBLICIDADE

Os planos de Jesus para o Natal deste ano são de uma comemoração modesta, só ele, a mulher e o casal de filhos pequenos. Ele pretende gastar com as compras bem menos do que em anos anteriores, quando a festa incluía parentes, amigos e vários presentes. “Este ano, vou concentrar os gastos na comida, nos presentes para a mulher e filhos, e desembolsar menos.”

O vendedor que faz parte de um grupo privilegiado – manteve o emprego e a renda nos últimos meses – não é o único que está cauteloso nos gastos. Ele é um dos 9,3 milhões de brasileiros que pretendem ir às compras na última semana antes do Natal, aponta pesquisa nacional da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com a Offer Wise Pesquisas, obtida com exclusividade pelo Estadão

A enquete, que consultou cerca de mil pessoas na segunda quinzena de outubro, mostra que a parcela dos que planejam comprar na semana do Natal é praticamente a mesma de 2019, cerca de 10% dos entrevistados. A diferença está no peso do principal motivo para postergar as compras. Neste ano, mais da metade (61,2%) vai usar essa estratégia para encontrar alguma promoção e economizar. Em 2019, eram 47,7%. 

Além de deixar as compras para a última hora em busca de pechinchas, a pesquisa mostra que a intenção de gasto médio com alimentos e bebidas no Natal diminuiu 10% este ano ante 2019. A expectativa de desembolso é de R$ 225.

Gastar menos especialmente com alimentos e bebidas num ano em que a comida foi a vilã da inflação não será nada fácil para o consumidor. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o Natal de 2020 terá a maior inflação dos últimos cinco anos. Os preços de um grupo de 214 produtos e serviços mais consumidos neste período do ano subiram em 12 meses até novembro 9,4%. É mais que o dobro da inflação geral acumulada no mesmo período pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo, de 4,3%. O cálculo, feito pelo o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, considerou os preços que entram na apuração do índice oficial de inflação do IBGE

Publicidade

Em 2015, a inflação de Natal atingiu 11% e os preços dos alimentos natalinos tinham subido 12,9%. Agora, esses alimentos aumentaram 16% em 12 meses até novembro. Só o peru, um dos ícones da data, ficou 11,21% mais caro no período, segundo a Associação Paulista de Supermercados

Dólar

A disparada de preços dos alimentos ocorre em razão dos aumentos das cotações dos grãos, como soja, arroz, milho, por exemplo, impulsionadas pela maior procura interna e externa por comida. A subida do dólar, que baliza os preços dessas commodities, também jogou mais lenha na fogueira das cotações em reais e estimulou as exportações, reduzindo a oferta doméstica.

A alta do câmbio também inflou os preços em reais de outros itens muito procurados no Natal, como os eletrônicos, que levam boa dose de componentes importados. TVs, som e informática ficaram 14,7% mais caros nos últimos 12 meses. Mas os alimentos estão no topo do ranking dos maiores aumentos, seguidos por joias e bijuterias (15%), bicicletas (10,6%), telefones (6,3%), entre outros. Já vestuário e passagens áreas, registram deflação.

“A armadilha é o preço do alimento”, frisa Bentes. Como não há como escapar do consumo de comida, o brasileiro deixa de comprar outros itens. 

O assessor econômico da Fecomércio/SP, Altamiro Carvalho, concorda com Bentes. “O cobertor é curto.” Na sua opinião, o que deve acontecer no Natal é o que vem ocorrendo desde o início da pandemia: as pessoas vão abrir mão de outras despesas para dar prioridade à compra de alimentos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.