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Negociadores da OMC vêem acordo só em alguns anos

Negociações agrícolas são retomadas sem o menor sinal de confiança e reuniões bilaterais são prioridade

Por Jamil Chade
Atualização:

Sem um acordo no radar e com um discurso distante das declarações otimistas de chefes de Estado, os negociadores na Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra já começam a trabalhar com a possibilidade de que um entendimento seja obtido apenas em ''''alguns anos''''. Ontem, as negociações agrícolas da entidade foram retomadas, sem o menor sinal de confiança. Diante de um passividade considerada inquietante por alguns diplomatas, embaixadores e negociadores já se preparam para manter o processo em estado vegetativo até que condições políticas mais propícias apareçam, principalmente nos Estados Unidos. ''''Hoje, com o que existe nas negociações e com o cenário que vemos pela frente, dificilmente haverá um acordo'''', disse um alto representante da diplomacia francesa. O clima é de tanta resignação que poucos ontem se atreveram a discursar na reunião de abertura do processo. O Brasil sugeriu que os encontros previstos para hoje entre os 151 países fossem suspensos, dando espaço para reuniões bilaterais. Hoje, o Brasil se encontrará com os Estados Unidos para tentar aproximar posições no setor agrícola. O primeiro tema será acesso ao mercado aos países ricos, entre eles a ampliação de cotas para produtos como açúcar, soja e carnes. O mediador das negociações agrícolas, Crawford Falconer, quer que a agenda seja seguida pelo debate sobre as barreiras existentes nos países emergentes para a importação de bens agrícolas, assunto delicado para a Índia. Mas o principal obstáculo é mesmo a falta de capacidade dos Estados Unidos em fazer qualquer oferta nova de liberalização. Sem uma autorização do Congresso americano para que a Casa Branca negocie acordos comerciais, com uma nova lei agrícola que permitirá a distribuição de bilhões de dólares em subsídios e com as eleições presidenciais se aproximando, Washington não tem condições de ceder. Os países emergentes e a Europa insistem que os americanos precisam reduzir de forma drástica seus subsídios agrícolas. O embaixador brasileiro na OMC, Clodoaldo Hugueney, admite que o objetivo é continuar negociando e revendo cada tema para que, mesmo sem acordo, pelo menos seja criada uma base para o futuro. Hugueney afirmou que o G-20 (grupo de países emergentes) concordou em manter a negociações nessas bases após reunião ontem em Genebra. Uma última tentativa de acordo deve ser feita em outubro, antes de o processo eleitoral americano ganhar força.

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