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Nem Natal contém queda do emprego no comércio

Pesquisa do IBGE mostra que taxa total de desemprego subiu de 7,5% para 7,6% em novembro, mês em que normalmente aumentam as contratações

Por Jacqueline Farid
Atualização:

O mercado de trabalho sentiu o impacto da crise econômica em novembro. A taxa de desemprego apurada pelo IBGE nas seis principais regiões metropolitanas do País subiu para 7,6%. Em outubro, era 7,5%. A pequena alta ganha dimensão por ocorrer no final do ano, quando tradicionalmente há aumento no emprego por conta dos trabalhadores temporários. O número de ocupados caiu 0,4% ante o mês anterior, a primeira queda em sete anos apurada em novembro. Apesar de admitir uma piora no mercado em relação a outubro, o gerente da pesquisa mensal de emprego, Cimar Azeredo, disse que ainda não é possível vincular o desempenho de novembro, aquém do esperado, à crise. Mas economistas não hesitaram em afirmar que a crise internacional já afetou a geração de emprego e aumentou o número de demissões no País. Para Ariadne Vitoriano, da Tendências Consultoria, "a deterioração do mercado de trabalho na margem reflete provavelmente os primeiros efeitos da crise externa sobre a atividade econômica". A perspectiva, segundo ela, é que esses efeitos sejam aprofundados nos próximos meses, já que há uma defasagem entre a atividade econômica e o mercado de trabalho. A economista-chefe da Arkhe DTVM, Inês Filipa, avalia que os resultados da pesquisa de emprego de novembro mostram a economia doméstica absorveu muito rapidamente o pico da crise internacional. Para os analistas de mercado de trabalho da LCA Consultores, os dados de novembro revelam que "os efeitos da desaceleração do nível de atividade econômica sobre o mercado de trabalho tem sido mais rápidos do que o esperado". A avaliação é que os resultados "aumentam a percepção de que os efeitos deletérios da crise financeira internacional sobre o mercado de trabalho podem apresentar defasagem abaixo da inicialmente esperada". Azeredo explicou que o mês de janeiro será crucial para avaliar os efeitos da crise no mercado de trabalho metropolitano. "Não tenho como associar esse desempenho (de novembro) diretamente à crise. O mês que vai mostrar de fato se a crise vai afetar o mercado de trabalho será janeiro, quando saberemos se houve contratação ou dispensa dos temporários contratados no final do ano", disse. Enquanto janeiro não vem, os dados de novembro trouxeram uma preocupante queda no número de ocupados, com o fechamento de 95 mil vagas em relação a outubro, um comportamento inédito na série histórica da pesquisa, iniciada em 2002. É a primeira vez em sete anos que há uma queda no número de ocupados em novembro, mês em que tradicionalmente são contratados empregados temporários para o final do ano. COMÉRCIO Nem mesmo o Natal conteve a queda da ocupação no comércio em novembro. O setor, responsável pela maior parte das tradicionais contratações temporárias de final de ano, reduziu o número de ocupados em 0,6% em relação a outubro. Entre os segmentos que aumentaram o emprego em novembro ante outubro, destacam-se a indústria (1,5%) e a construção (0,7%). Segundo Azeredo, o segmento de construção foi o grande destaque da pesquisa, já que elevou o número de empregados em 7,9% em novembro ante igual mês de 2007, o equivalente à geração de 120 mil postos de trabalho. Destes, 82 mil foram gerados em São Paulo. Azeredo observou também que, mesmo com o desempenho pior do mercado de trabalho em novembro em relação a outubro, os dados de 2008 ainda mostram o emprego mais aquecido do que no ano passado. Em novembro, ante igual mês de 2007, o número de ocupados aumentou 2,9% (criação de 611 mil postos de trabalho). O rendimento médio real dos trabalhadores subiu 0,9% ante outubro e 4% ante novembro de 2007. "A situação do mercado de trabalho é favorável, com rendimento em alta e taxa de desemprego estável. O grande impasse hoje é que a gente tinha expectativa de que o mercado ia melhorar em novembro e isso não ocorreu. Mas o mercado está sólido", disse Azeredo.

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