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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Nem tudo vai mal

Por mais ferrada que esteja, a economia está bem melhor agora do que nas crises dos anos 80

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Atualização:

A crise está braba, não há como negar, há mais de 12 milhões de desempregados, a dívida pública vai para 90% do PIB, o Tesouro está na raspa do tacho, a maioria dos Estados e municípios está quebrada. Pode não haver consolo para isso, mas também não se pode olhar só para o que há de ruim. Por mais ferrada que esteja, a economia está bem melhor agora do que nas crises dos anos 80.

O comportamento da inflação é o primeiro fator positivo, bem ao contrário do que acontecia naqueles tempos, quando chegou às alturas dos 80% – ao mês. A evolução do IPCA vai baixando dos quase 11% ao ano onde esteve entre dezembro de 2015 e março deste ano e se encaminha mais rapidamente do que o esperado para a meta de 4,5% ao ano. Os números de novembro já acusaram uma inflação mais baixa, de 6,99% em 12 meses, e podem fechar o ano abaixo do teto da meta, abaixo dos 6,5%. Bastará para isso que a inflação de dezembro não chegue a 0,46%. Além disso, aumenta a probabilidade de que em 2017 convirja para os 4,5%. Inflação na meta é fator que contribui para dar previsibilidade para o setor produtivo, o que não é pouca coisa. 

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As contas externas também não preocupam. Não há corridas desvairadas ao dólar, como nas crises do passado. A economia conta com US$ 370 bilhões em reservas, o equivalente a cerca de trinta e três meses de importação. E o déficit em Transações Correntes pode ficar zerado ainda no primeiro semestre de 2017.

Nesta crise também não há nenhum banco quebrando, como aconteceu tão frequentemente nos anos 80. Ninguém mais se lembra do Proer, o salva-vidas criado para tirar bancos do precipício, nem da aflição dos correntistas a cada intervenção do Banco Central. Hoje, ninguém perde o sono porque teme pelo futuro de suas aplicações.

Temos, sim, uma baita crise política. Mas, afinal, não era pior quando as pressões da sociedade eram estacadas pelas botas do regime militar?

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E afora isso, o País conta com duas alavancas de crescimento econômico que, nessas horas de aflição, vêm sendo pouco mencionadas. A primeira delas é o agro. O desempenho do setor é impressionante, apesar de eventuais estragos causados por estiagens. O setor do aço ou as montadoras de veículos, por exemplo, temem pelo futuro dos seus negócios em consequência da atuação da China. Com o agronegócio acontece o contrário. Há ainda 400 milhões de chineses que aos poucos são empurrados para o mercado de consumo, ávidos por comida. O mercado de commodities estará sujeito a pauladas, mas a cada ano aumentará a demanda por alimentos. Pena que a agricultura pese pouco no PIB, não mais do que 5%. Mas é importante propulsor da economia a partir do interior.

A outra alavanca é o pré-sal. Nem mesmo a roubalheira que espoliou a Petrobrás conseguiu afogar o enorme potencial petrolífero do País. Basta remover os entulhos ideológicos que paralisaram o setor nos últimos sete anos e voltar aos leilões de área para que um grande número de postos de trabalho volte a se abrir no País. De quebra, o aumento da produção aumentará o pagamento de royalties e ajudará a tirar o atraso dos Estados.

Enfim, a crise é braba, mas nem de longe mostra a gravidade do que se viu nos anos 80, quando País enfrentava o chicote do FMI. 

CONFIRA: 

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O gráfico mostra a evolução do juro primário real nos dois últimos anos. Juro real é o que já vem descontado da inflação. No momento, o juro nominal é de 13,75% ao ano e o real é superior a 6% ao ano, elevado demais tanto para as empresas como para as pessoas físicas tão endividadas. Os próximos movimentos do Copom serão dados na direção da redução substancial dos juros reais. Se tudo der certo, em pouco mais de um ano, cairão para a altura dos 4%. Se isso se confirmar, desafogam-se os devedores, principalmente o Tesouro, o maior deles, com um passivo de R$ 3 trilhões.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Correções

Ao contrário do que estava escrito no terceiro parágrafo, as reservas de US$ 370 bilhões correspondem a cerca de trinta e três meses de importação e não apenas três.  

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