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Nervosismo toma conta do mercado; Bolsa despenca 3,39%

O sinal de alerta nesta semana é o mercado imobiliário voltado para a população americana com histórico de calote, conhecido como subprime

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais um dia de nervosismo no mercado financeiro. Desta vez ficou mais evidente que a maior preocupação dos investidores é a economia norte-americana. O sinal de alerta nesta semana é o mercado imobiliário voltado para a população americana com histórico de calote, conhecido como subprime. Dados divulgados nesta terça mostraram que as taxas de atrasos em pagamentos no quarto trimestre de 2006 subiram para 14,44% e a taxa de residências entrando em processo de execução de hipoteca atingiu o recorde de 0,54% no período. Para piorar, foi apurado que 4,53% dos 5,97 milhões de empréstimos subprime estavam em processo de execução de hipoteca no fim do quarto trimestre, ante 3,86% no terceiro trimestre. Já entre os empréstimos prime, apenas 0,50% dos 33,32 milhões de empréstimos estavam em processo de execução de hipoteca, ante 0,44% no terceiro trimestre. O fato é que ainda não é possível saber qual a extensão do impacto da crise do mercado imobiliário para a economia real dos Estados Unidos. O que se sabe é que, com a alta dos juros no país, os americanos estão gastando mais para pagar suas hipotecas e isso reduz o poder de consumo. Outra conseqüência é a redução da riqueza dos norte-americanos. Isso porque, com o calote das hipotecas, muitos imóveis serão retomados e voltarão para o mercado, o que reduzirá o preço dos imóveis - um dos investimentos mais usados pelos norte-americanos. Como o comportamento da economia norte-americana é decisivo para todos os países, este cenário provocou perdas nas bolsas do mundo todo. Na Europa, as ações fecharam nas mínimas do dia. O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações das empresas européias, caiu 1%. O índice fechou na mínima. O índice europeu do setor financeiro DJ Stoxx caiu 1,5%. Em Londres, a baixa foi de 1,16%. Em Frankfurt, 1,36%. Em Paris, 1,15%. Em Milão, a baixa foi de 0,81%. Em Madri, as ações caíram 1,16% e em Lisboa, 0,85%. Em Nova York, as bolsas também fecharam em queda. O índice Dow Jones - que mede o desempenho das ações mais negociadas na bolsa de Nova York - fechou em queda de 1,98%. A Nasdaq - bolsa que negocia ações do setor de tecnologia e internet - caiu 2,15%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou a tendência internacional e fechou em queda de 3,39%. Com esse resultado, a bolsa passou a acumular baixas de 2,60% em março e de 3,88% em 2007. O movimento financeiro ficou em R$ 3,981 bilhões. No México, a baixa foi de 2,46%. Na Argentina, o índice Merval recuou 3,76%. No Brasil, o dólar interrompeu cinco quedas consecutivas para fechar em alta e na máxima do dia, cotado a R$ 2,1040 (+0,84%). As cotações renovaram as máximas inclusive após o leilão do Banco Central. O risco Brasil também subiu e às 18h20 estava em 199 pontos-base, sendo 8 pontos acima do fechamento de segunda-feira. Empresa sinalizou problema Na segunda-feira, a New Century Financial Corp. anunciou que teve suas linhas de crédito cortadas no mercado financeiro. A New Century é a segunda maior financiadora de empréstimos hipotecários dos Estados Unidos a clientes com passado de crédito duvidoso. À frente dela está apenas o banco HSBC. Como outras geradoras de financiamento hipotecário, a New Century depende dos recursos de instituições de Wall Street e de bancos comerciais para repassar a seus clientes. Ontem, porém, a empresa notificou a Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) que todos os bancos que mantinham linhas de empréstimos à companhia suspenderam os financiamentos. A New Century disse ainda que não espera realizar os pagamentos demandados por seus credores, o que poderá levá-la para a Corte de Falências ou até diretamente para uma liquidação. As ações da empresa foram suspensas do pregão da Bolsa de Nova York. A agência de classificação de risco Standard & Poor´s (S&P) rebaixou o rating (classificação) da New Century para CC, de CCC. A nota continua em observação com perspectiva negativa. "A mudança no rating reflete a inabilidade da New Century em continuar a originar novos empréstimos, em conseqüência de sua capacidade severamente comprimida de financiamento", disse o analista de crédito da S&P Adom Rosengarten. Essa situação é, em grande parte, resultado das restrições aos cedentes de empréstimos da companhia no acesso aos financiamentos, afirmou a S&P. Além disso, a agência lembrou que a companhia está diante de uma chamada de margem (pedido de garantia) sobre empréstimos de US$ 150 milhões, a qual cumpriu com apenas US$ 80 milhões. De acordo com a S&P, não há informação disponível relacionada à habilidade da companhia de cumprir com os restantes US$ 70 milhões. "Não está claro como a empresa superará essa situação estressante no que diz respeito à sua reputação e sustentabilidade financeira", observou a agência. Também ontem, o Countrywide Financial, que também atua no setor, informou que o volume de empréstimos subprime realizados em fevereiro caíram, depois de apertar os critérios de empréstimos como resposta ao aumento no número de calotes nesses financiamentos. Histórico Os temores com as empresas especializadas no segmento subprime começaram a surgir com a desaceleração do mercado imobiliário americano. Segundo a revista Economist, quase três dúzias de bancos quebraram ou foram vendidos nos últimos meses por causa de empréstimos não recebidos. A edição do último fim de semana da revista traz uma reportagem que analisa a questão. O jornal The New York Times também publicou reportagem sobre o tema, que termina citando um estudo realizado por dois professores da Drexel University´s LeBow College of Business. Segundo eles, "a redução dos recursos para títulos ancorados em hipotecas para residências pode machucar a economia dos EUA".

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