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Mercado internacional acende sinal de alerta para produtores

Coronavírus e acordo entre China e Estados Unidos aumentaram a instabilidade no setor

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

Se no ano passado a preocupação dos produtores de soja estava dentro da porteira, com a quebra da safra, causada pela falta de chuvas, e perda na produtividade, neste ano ela está exatamente do lado oposto. O risco de uma menor demanda internacional pelo produto devido à eclosão do surto de coronavírus na China e ao acordo comercial entre Estados Unidos e China fez acender o sinal alerta em relação ao comportamento dos preços recebidos pelos produtores nos próximos meses diante de uma supersafra.

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A safra de soja que começa a ser colhida este mês no Centro-Sul do País é estimada pelo governo em 122,2 milhões de toneladas. É 6,3% maior do que a produção do ano passado. Previsões do mercado, no entanto, indicam que a safra deste ano pode chegar a 123,5 milhões de toneladas ou até mais, segundo Luiz Fernando Gutierrez, economista da consultoria Safras & Mercado. “O cenário da porteira para fora hoje está mais turbulento do que no ano passado, há muitas variáveis para acompanhar de perto”, afirma Anderson Alves Bertoletti, superintendente de negócios da cooperativa Cocamar, na região de Maringá, no norte do Paraná.

Na semana passada, ele fez mais de 60 reuniões com produtores para ouvi-los e levar as informações de mercado. “Coronavírus está no radar, os produtores estão curiosos para saber o que ele pode causar”, conta.

Apesar de os preços recebidos terem recuado, os produtores estão, por enquanto, em situação confortável. Na quinta-feira, dia 6 de fevereiro, o preço recebido pela saca de soja de 60 quilos na região de Maringá era de R$ 76,50. Em meados de janeiro a saca valia R$ 79,5. Segundo Bertoletti, esse recuo está atrelado ao fator coronavírus, que afetou preços da commodity na bolsa de Chicago, e também à chegada da safra, quando aumenta a oferta de produto.

Em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, a cotação da saca de soja varia entre R$ 77 e R$ 79. “Esse preço hoje está bom”, diz o presidente da cooperativa Comigo, Antônio Chavaglia. Esse preço cobre com folga o custo de produção, mas o risco é que ele caia mais no curto prazo.

Gutierrez, da Safras & Mercado, aponta que um diferencial da comercialização da soja neste ano que pode atenuar o risco de perda de rentabilidade dos agricultores: a venda recorde antecipada do grão. No Paraná, por exemplo, cerca de 40% dos produtores venderam antecipadamente. Na região de Rio Verde (GO), essa fatia é de 60%, diz Chavaglia.

Boa parte dos produtores da região de Maringá (PR) que venderam antecipadamente o produto chegaram a embolsar R$ 80 por saca. “Quem vendeu antecipadamente se deu bem”, diz Gutierrez.

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Outro fator que também atenua o risco de receber hoje menos em reais pela soja é câmbio. Entre 15 de janeiro e 6 de fevereiro, a cotação em dólar da soja na Bolsa de Chicago caiu 4,5%. No mesmo período, o preço recuou menos em reais: 3,7%. E o dólar subiu 2,65% nesse intervalo. A queda no preço em reais não é tão forte porque foi compensada, em parte, pelo câmbio, explica Bertoletti. 

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