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''Ninguém sabe quantos vão voltar ao trabalho''

Presidente do sindicato dos mineradores teme por mais cortes após o retorno das férias coletivas

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Por Redação
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"É muita decepção. Alegria numa hora e tristeza na outra", lamentou Alessandro Egues, recordando o nascimento do segundo filho, três semanas antes de receber a carta de demissão pelas mãos de um supervisor que alegava "corte de custos no departamento". Ele trabalhava como cozinheiro na Minerações Corumbaenses Reunidas (MCR), empresa do grupo Rio Tinto, e havia acabado de receber um troféu pelos cinco anos de serviços prestados. Egues e um colega da MCR foram os primeiros dos 29 demitidos que passaram pela sede do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Mineração de Corumbá na semana passada. O movimento começou na quarta-feira e se intensificou na sexta, quando 16 ex-empregados da Vale estiveram lá, num entra-e-sai que fomenta temores pessimistas sobre o futuro da cidade. Pelo menos 1,5 mil trabalhadores das mineradoras vão entrar em férias coletivas - os da Vale e da MMX já não vão às minas; os da Rio Tinto param no dia 22. "Estamos com muito medo de demissões, ninguém sabe quando nem quantos vão voltar ao trabalho", diz o presidente do sindicato, Cassiano de Oliveira. Os embarques de minério estão suspensos e os caminhões que ainda circulam no maciço do Urucum, terceira maior reserva de minério de ferro do mundo, trabalham apenas em atividades de manutenção. Já não há mais muito espaço para acumular os estoques, que esperam pela retomada das compras no mercado externo. Os trabalhadores diretos das mineradoras ainda têm alguma esperança: as empresas dizem que vão reavaliar a situação no início do ano e, por enquanto, devem evitar ao máximo a demissão de pessoal especializado, escasso no mercado. "Nos próximos quatro meses dá para ter um cenário mais claro", diz o diretor de operações da MMX, Vítor Feitosa. As empresas terceirizadas não têm tanta margem de manobra. Com a frota parada, a transportadora Flapa teve de demitir 93 de seus 108 funcionários . Outros oito irão embora assim que terminarem a manutenção dos caminhões. A transportadora paulista Júlio Simões ainda busca um meio de transferir ao menos parte de seus 300 empregados para outras operações. "O cálculo é se vale a pena pagar a rescisão ou manter os salários sem ter receita", diz o supervisor administrativo da empresa em Corumbá, Aílton Silva Pereira, que espera retomar as atividades só em março, com possibilidade de recontratação de parte do pessoal. Enquanto falava com o Estado, recebeu o telefonema da mulher de um ex-empregado preocupada com o marido. "É uma situação muito complicada".

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