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No comando, em alto e bom som

Estudo aponta que à medida que uma pessoa conquista poder, sua voz muda, a entonação fica mais firme, a voz varia em volume e é menos tensa

Por Matt Richtel
Atualização:

A ciência não provou o tropo segundo o qual o poder muda tudo. Mas sugere, pelo menos que muda as cordas vocais. À medida que uma pessoa conquista poder sua voz muda, a entonação fica mais firme, a voz varia em volume e é menos tensa. O som do poder é característico, criando hierarquias que podem ser medidas por meio das ondas sonoras. Esta é a conclusão de uma pesquisa publicada no ano passado na revista Psychological Science, que deu mais peso à noção de que o poder de um orador não decorre só das palavras, mas também da acústica. Fundamentalmente, não tem a ver com altura da voz; simplesmente aumentar o volume pode ser na verdade sinal de fraqueza. "A maneira mais fácil de exercer autoridade é falar mais alto. Mas isso significa gritar, o que pode repelir as pessoas, disse Adam Galinsky, professor da Columbia Business School que elaborou o estudo juntamente com pesquisadores da Universidade estadual de San Diego. "Não é o volume, mas a capacidade de controlá-lo". As conclusões do estudo se basearam em dois experimentos. No primeiro, 161 alunos dos primeiros anos de faculdade (homens e mulheres) tiveram de ler Rainbow Passage, um texto clássico usado para medir a articulação da voz. As leituras permitiram aos estudiosos estabelecerem a acústica básica dos alunos que participaram do estudo usando seis medidas padrão envolvendo tonalidade, altura da voz e ressonância. Os alunos foram divididos em dois grupos. Alguns foram instruídos a se imaginar pertencendo ao alto escalão, tendo uma posição num local de trabalho e também um momento em que se sentiram poderosos. Do outro lado, foi pedido aos alunos para se imaginarem numa situação de poder menor e mergulharem na experiência. Depois os membros de cada grupo leram um segundo trecho, sobre negociação, que começou assim: "Estou satisfeito com nossa reunião hoje e na expectativa da nossa negociação", prosseguindo a partir dali. Usando um software sofisticado para apreender o que o ouvido não conseguiria, os estudiosos mediram mudanças significativas no padrão de voz dos indivíduos de ambos os grupos. A entonação da voz dos que pertenciam ao grupo do alto escalão era mais firme, mais controlada, mas eles também conseguiam variar o volume da sua voz - como se estivessem tocando algumas notas num um piano, mas tocando essas notas mais ou menos altas. Galinsky associa o controle vocal a um esquiador realizando uma descida difícil, girando e se movendo a diferentes velocidades como o terreno exige. A voz dos indivíduos do menor escalão, pelo contrário, soava menos estável, era mais tensa, similar à de um adolescente. "O estresse transparece" disse Galinzky. Num segundo experimento, outro grupo de pessoas objeto do estudo ouviram gravações e identificaram corretamente 72% do tempo quais eram os oradores do mais alto escalão. Ou seja, não é preciso um computador para intuir quem tem poder. De maneira que você pode mudar sua voz mesmo não tendo o nível hierárquico para apoiar cordas vocais mais poderosas? "Há um grande debate na literatura", disse Galinsky, especialista em poder e negociações. "Você conseguiria fingir até chegar a esse nível?" Ele acredita que sim. E como evidência citou um exemplo real. Os pesquisadores mediram a voz de Margaret Thatcher usando clipes de áudio de aparições da ex-ministra antes e depois de ela ter aulas de treinamento de voz. "Descobrimos exatamente o mesmo efeito", afirmou ele, ou seja a voz dela, depois do treinamento, ficou mais firme em termos de entonação e mais variada em volume. Tente fazer um experimento, disse ele : antes de entrar numa negociação ou entrevista, pense num momento em que você teve poder e realmente o reviva em sua mente. O seu corpo reagirá se você teve realmente algum poder. E você vai descobrir que sua voz se mostrará à altura da ocasião. 

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