PUBLICIDADE

No exterior, Brasil é o ''''queridinho''''

Para analistas estrangeiros, apagão da infra-estrutura é preço a pagar pela estabilização macroeconômica

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

O ajuste fiscal, a redução da dívida em dólar, a melhora do perfil do endividamento em real - toda essa "lição de casa" da equipe econômica brasileira - é alvo de elogios rasgados dos analistas estrangeiros e levou o País a ficar bem próximo do almejado status de grau de investimento. Mas, dentro do Brasil, esses elogios parecem piada de mau gosto, considerando que as estradas estão em frangalhos, há ameaça real de falta de energia e o caos aéreo teve um capítulo dramático semana passada. Por que o Brasil queridinho dos investidores é o mesmo Brasil do apagão da infra-estrutura? Para Lisa Schineller, diretora do departamento de rating soberano da agência de classificação de risco Standard & Poor?s, o apagão de infra-estrutura foi o preço que o Brasil pagou pela estabilidade macroeoconômica. Para chegar ao ajuste fiscal tão elogiado, em vez de cortar despesas ou reformar a previdência, o governo acabou cortando gastos mais fáceis, como investimentos. E tampouco avançou com a participação do investimento privado - vide parcerias público-privadas (PPPs) e concessões empacadas. "Quando os países passam por consolidação fiscal, é natural que haja custos", diz Lisa. "A estabilização poderia ter ocorrido sem esses custos, mas, no Brasil, o orçamento é engessado." Hoje, diz, o País tem histórico de comprometimento com políticas macroeconômicas sólidas, regime de metas de inflação e câmbio flutuante. Agora, tem de aperfeiçoar a qualidade do ajuste, o que permitirá mais investimentos do governo e redução da carga tributária - o que eleva o investimento privado. "Ao corrigir essas deficiências nas estradas, portos, energia, aviação, será possível acelerar o crescimento." Arturo Porzecanski, professor de Finanças Internacionais na American University, é mais ácido. "O que um país precisa para agradar ao investidor estrangeiro é administrar o orçamento, não se encher de dívida em dólar e manter o juro alto - o Brasil merece 10 em políticas de estabilidade e zero em promoção de crescimento." Para ele, "o governo foi conservador na economia, chegou perto do grau de investimento, mas sacrificou o crescimento ao não lidar com gargalos de infra-estrutura." Walter Molano, economista-chefe da BCP Securities, contemporiza. "É como se o Brasil tivesse recebido um aumento de 15% no salário e tivesse de comprar móveis novos, trocar encanamento e refazer o jardim. Não dá." Segundo ele, só nos últimos anos os preços das commodities tiveram impulso e o Brasil passou a crescer mais, o que possibilitaria investimentos em infra-estrutura. "O Brasil está melhorando, mas não vai virar Luxemburgo do dia para a noite."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.