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No foco da Mandi, o ‘agronegócio ético’

Fundo criado por Antonio Moreira Salles e Julio Benetti investe em startups de agricultura e alimentos com modelo sustentável

Por Renée Pereira e Cátia Luz
Atualização:

Foi nos bancos da Universidade de Stanford, na Califórnia, berço da inovação e tecnologia dos Estados Unidos, que surgiram as primeiras ideias para montar um negócio voltado ao mundo do agronegócio sustentável. Antonio Moreira Salles, filho de Pedro Moreira Salles (copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco), e o engenheiro Julio Benetti se conheceram num MBA da universidade em 2015 e, no ano passado, decidiram criar o fundo Mandi Ventures, focado em investimentos em agtechs e foodtechs, com apelo ambiental.

Antonio Moreira Salles, sócio daMandi Ventures Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

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A captação de recursos ocorreu em meados de 2019, mas os primeiros aportes vieram quase um ano depois. Em meio à pandemia do coronavírus, o fundo escolheu a startup brasileira Gaivota, que tem o objetivo de digitalizar a agricultura, para fazer sua estreia. Em agosto, se juntou a gigantes como BlackRock e Lupa Systems, de James Murdoch, para aportar US$ 250 milhões na empresa americana Farmers Business Network (FBN), um marketplace que oferece informações e produtos para ajudar o produtor rural.

Moreira Salles e Benetti não têm pressa para investir e contam, segundo eles, com “investidores pacientes” – a maioria deles ligada ao próprio setor, no Brasil e no exterior. “Não vamos investir só porque tem big data ou é digital, mas em função do quanto isso representa uma vantagem”, diz Moreira Salles. “Olhamos a biotecnologia, dentro ou fora da porteira. Pode ser uma empresa de foodtech, mas também pode ser alguma solução para papel e celulose, ou para logística, que é um grande problema no Brasil.”

Com o olhar voltado para o mercado global e para negócios que possam ganhar escala, os dois investidores rodaram no ano passado a Europa, visitando uma série de fazendas. Alugaram um carro e pegaram a estrada para entender como funcionava o setor por lá.

Atualmente, quatro profissionais, com experiências diferentes, ajudam na busca por novas empresas, entre eles um engenheiro e um biólogo.

Com a pandemia, a prospecção passou a ser totalmente digital. “Muita coisa mudou com o coronavírus, e o mais óbvio é a adoção digital para ‘n’ situações. Para nós, isso é bom, pois é o que estamos olhando”, diz Moreira Salles, formado em administração de empresas no Ibmec do Rio de Janeiro.

Julio Benetti, sócio daMandiVentures Foto: Julio Benetti/ARQUIVO/ESTADÃO

Tradição no agronegócio

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O interesse pelo agronegócio vem do berço. As famílias dos dois empresários têm tradição no setor, com a produção de grãos, café e laranja. Mas, ao investir, a preocupação de Salles e Benetti é aliar agricultura e alimentação aos novos tempos, marcados por uma maior consciência ambiental da população e dos investidores. “As gerações mais novas têm perfil diferente de consumo, se preocupam mais com a origem e com a sustentabilidade do produto”, afirma Benetti.

Desde os tempos de Stanford, os dois já discutiam sobre os rumos do agronegócio e da sustentabilidade para alimentar uma população crescente. Foi essa questão que norteou a criação da Mandi Ventures. O fundo tem o objetivo de ajudar as empresas a repensar a produção de alimentos de uma forma mais sustentável e eficiente. “A grande tese do fundo é ajudar na valorização do produto e na recuperação das margens do produtor, que são muito baixas” diz Benetti.

Salles completa que há também uma mudança de geração no campo, com pessoas que tiveram mais acesso a informações e à educação, e que agora tentam implementar nas fazendas o que aprenderam. “É uma geração que quer adaptar novas tecnologias para o campo.” E a Mandi está de olho nessas soluções. Antes de criar a gestora, Moreira Salles já investia como “anjo” em outros negócios, como o Quinto Andar – startup que atua com aluguéis de imóveis e que virou unicórnio (nome dado a empresas que superam US$ 1 bilhão em valor de mercado) no ano passado.

Mas, aos poucos, começou a focar seus investimentos em startups ligadas ao agronegócio. Em 2015, depois de uma experiência no mercado financeiro na Inglaterra, ele desembarcou em Stanford para fazer um MBA de dois anos. Foi ali que conheceu Benetti, o engenheiro formado na Unicamp, em Campinas.

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Após os estudos, cada um seguiu um caminho. Benetti passou a se dedicar 100% a uma startup focada em automação industrial no Vale do Silício, na Califórnia. “No começo eram no máximo 30 pessoas e uma dúzia de clientes. Quando saí, a empresa, chamada Samsara, já tinha 1,5 mil funcionários e milhares de clientes. Foi uma experiência muito boa.” Enquanto isso, Moreira Salles passou uma temporada em Israel trabalhando com startups, atuou no fundo de private equity General Atlantic na China e na Inglaterra, até reencontrar Benetti, que havia ido para a Europa levar os serviços da Samsara.

Com o reencontro, eles decidiram retomar a ideia do fundo. “Nosso objetivo sempre foi olhar negócios em diferentes estágios na agricultura, dentro e fora da fazenda, e com foco em produtos mais éticos e mais saudáveis”, reforça Benetti, que toca a Mandi da Europa. 

“Antes da pandemia, era estranho ‘tirar meu sócio da mochila’ nas reuniões com investidores e startups. Agora, com todo mundo trabalhando de forma virtual, virou normal”, brinca Moreira Salles. E, assim, remotamente, a dupla continua à caça de empresas, e não descarta um novo investimento já nos próximos meses. 

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