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No ritmo atual, obra fica pronta em 2036

Apenas 345 km de grade (termo empregado para designar a instalação de trilhos e dormentes), dos 1.728 km previstos, estão prontos

Por Sergio Torres/ENVIADOS ESPECIAIS SALGUEIRO(PE)
Atualização:

Muito aquém do esperado após seis anos de obra, o avanço dos trilhos é o principal indicativo de que algo não vai bem na construção da Transnordestina. Apenas 345 km de grade (termo empregado para designar a instalação de trilhos e dormentes), dos 1.728 km previstos, estão prontos. A se manter o avanço até agora registrado, de 57,5 km/ano, a ferrovia só estará pronta em 2036.

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O ritmo de expansão diária da ferrovia é de 800 metros, embora o projeto original previsse 2,5 km vencidos a cada 24 horas. Com esse avanço, e não o anual, a perspectiva é um pouco melhor, pois os 1.383 km que faltam seriam completados em agosto de 2017. Isso se nenhum contratempo surgir até lá e o trabalho for realizado todos os dias, até mesmo sábados, domingos e feriados. Assim, a presidente Dilma Rousseff só poderia inaugurar a Transnordestina se disputar com sucesso a eleição de 2014.

A lentidão da obra não se deve apenas a obstáculos inesperados, uma das bases da argumentação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na tentativa de conseguir mais dinheiro. A redução de pessoal nos últimos 12 meses influi na evolução dos trabalhos.

Há um ano havia 13.900 operários na obra, de acordo com levantamento do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem em Geral do Estado de Caerá. Hoje, são 4.700, segundo a própria Transnordestina Logística S/A (TLSA), controlada pela CSN e responsável pela construção.

O projeto definiu Salgueiro, no sertão de Pernambuco, como ponto de partida da obra, pela equivalência de distâncias em relação às três frentes programadas. Até o porto de Suape, no município pernambucano de Ipojuca, são 522 km. Até Pecém, porto na cidade de São Gonçalo do Amarante (Ceará), são 608 km. Até Eliseu Martins, município no sul do Piauí, onde a viagem até o litoral deverá começar, são 598 km.

A frente de obras do Piauí está bem longe da divisa do Estado. O trabalho parou na altura de Parnamirim, ainda em Pernambuco. Foram percorridos até agora 73 km. Faltam 525 km, justamente no trecho fundamental da ferrovia. Sem a ligação com o Piauí, não haverá como escoar a soja produzida no cerrado. Ou seja, a Transnordestina perde importância. 

A grade no Ceará avançou 124 km dos 608 km previstos. A obra está semiparalisada em Missão Velha, município já no território cearense. Para que os trilhos e dormentes (a chamada superestrutura) sejam instalados é necessário que a infraestrutura (terraplanagem, aterros, bueiros, viadutos e pontes) esteja bem adiante, o que não ocorre.

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A frente que mais avança é a pernambucana, com 148 km até a cidade de Flores. Nela estão concentrados os maiores contingentes de operários, equipados com maquinários modernos, que permitem a colocação de dormentes de concretos e trilhos de ferro de forma mecanizada.

No primeiro semestre, o avanço da ferrovia chegou a 1,6 km por dia, evolução interrompida a partir do início das demissões. O presidente do Sintepav-CE, Raimundo Gomes, reclama que os operários são os mais prejudicados pela falta de entendimento entre a TLSA, a construtora Odebrecht (contratada há três anos para tocar a obra) e o governo.

Outro problema que atrapalha a obra é a morosidade nas desapropriações, a cargo dos Estados. O Piauí é o mais atrasado dos três Estados. Cerca de 400 pequenas propriedades terão que ser desapropriadas, mas parte dos proprietários não consegue provar documentalmente a posse da terra, o que impede o ressarcimento.

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