
22 de maio de 2016 | 06h00
Falta ainda ocupar outros cargos cobiçados pela classe política, entre eles a presidência, diretoria e subsidiárias do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste, Eletrobrás e geradoras a ela ligadas e as pertencentes ao Grupo Petrobrás – sobretudo a BR Distribuidora, cuja privatização tem sido cogitada. Além disso, os ministros políticos do governo se preparam para indicar candidatos para cargos de terceiro e quarto escalões da administração direta espalhados pelo Brasil. São os que mais atraem parlamentares – do alto e do baixo cleros –, pois funcionam como plataformas seguras na busca de apoio político em seus Estados e para financiar suas campanhas eleitorais. Por fim, há as agências reguladoras que nasceram com a marca de funções estritamente técnicas, portanto fora da barganha política, e que Michel Temer se comprometeu a cumprir.
Foi esse amplo leque de funções públicas (do primeiro ao quinto escalões) que os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff lotearam com fartura entre políticos e seus partidos, não no espírito de uma gestão séria de governo de coalizão, mas com o nefasto método do toma lá dá cá, em que os cargos foram postos a serviço do PT e partidos aliados em troca de apoio político no Congresso e nas eleições. Foi assim que proliferou e se alastrou a corrupção País afora, não sobraram nem as agências reguladoras. A Operação Lava Jato teve o mérito de desnudar os esquemas corruptos dentro da Petrobrás e da Eletrobrás, ligando empreiteiras a dirigentes de partidos. Mas falta a Polícia Federal e o Ministério Público investigarem todo o resto, sobretudo os maiores fundos de pensão de estatais, por onde passaram inúmeros negócios fraudulentos, cujo prejuízo sobrou para os pensionistas pagarem.
Na entrevista em que anunciou ter aceitado a presidência da Petrobrás, Pedro Parente fez uma declaração que soou como alívio e esperança para funcionários que tentam agir com correção, conduta técnica e profissional e são obrigados a atender telefonemas de governadores, prefeitos, parlamentares com seus pedidos e demandas que só trazem prejuízo ao erário.
“Vou ser claro e taxativo em relação a esse ponto: não haverá indicação política, o que vai facilitar muito a vida do conselho de administração e a minha vida porque, se esse fosse o caso, o que não será, certamente elas não seriam aceitas.” Mais claro impossível, finalmente Parente conseguiu aquilo em que seus antecessores fracassaram: blindar a Petrobrás. O próximo passo é substituir as notícias policiais por outras que mostrem o progresso em construção na empresa.
As ruas torcem para que essa blindagem técnica se estenda por toda a administração pública. Será o grande teste de confiança nos deputados e senadores que viraram ministros (sobretudo os envolvidos na Lava Jato) e que terão agora a responsabilidade de nomear para funções de segundo a quarto escalões. Não se trata de proibir indicações políticas dos partidos, mas escolher quem tem competência técnica e sirva aos interesses do País, não do partido que o indicou.
*É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO
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