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A Noruega é um retrato do futuro dos carros?

Apenas 8% dos carros vendidos no país em 2021 funcionavam exclusivamente com combustíveis convencionais como gasolina ou diesel

Por Shira Ovide
Atualização:

No ano passado, a Noruega alcançou um marco. Apenas 8% dos carros vendidos no país funcionavam exclusivamente com combustíveis convencionais como gasolina ou diesel. Dois terços dos veículos novos vendidos eram elétricos e a maioria deles era de modelos híbridos para gasolina e eletricidade.

Há anos a Noruega tem sido o líder mundial na diminuição do uso dos veículos tradicionais, graças aos benefícios governamentais que tornaram os modelos elétricos muito mais acessíveis e ofereceram vantagens extras, como permitir que os proprietários de carros elétricos não paguem algumas taxas de estacionamento e pedágios em estradas.

Carro elétrico em exibição em Oslo; apenas 8% dos carros vendidos na Noruega em 2021 funcionavam exclusivamente com combustíveis convencionais como gasolina ou diesel Foto: Victoria Klesty/Reuters - 10.nov.2021

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Mesmo assim, os entusiastas dos veículos elétricos estão impressionados com a velocidade com que o motor de combustão interna se tornou uma espécie em extinção na Noruega.

“A rapidez com que as coisas mudaram surpreendeu a maioria das pessoas”, disse Christina Bu, secretária-geral da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos.

Em 2015, os carros elétricos representavam cerca de 20% das vendas de veículos novos e agora são “o novo normal”, disse Christina. A organização norueguesa é como a Associação Automobilística Americana (AAA) para os motoristas de modelos elétricos.

Os americanos talvez enxerguem os noruegueses como defensores ferrenhos do meio ambiente que estavam ansiosos para abandonar os carros a gasolina. Mas Christina e outros especialistas em transporte me disseram que os noruegueses começaram com muito do mesmo ceticismo dos americanos em relação aos veículos elétricos.

Isso mudou por causa das políticas governamentais que foram ganhando pouco a pouco as batalhas mais fáceis e de um número crescente de carros elétricos atraentes. Com o tempo, essa combinação ajudou a fazer com que mais noruegueses acreditassem que os carros elétricos eram para eles. Christina escreveu recentemente que, se a Noruega podia fazer isso, os Estados Unidos e outros países também podem.

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O transporte é a maior fonte de emissões de gases do efeito estufa nos EUA, e os cientistas do clima disseram que deixar de usar veículos com motor a combustão é essencial para evitar os piores efeitos do aquecimento do planeta. As vendas de carros elétricos nos EUA estão aumentando rapidamente, em cerca de 3% dos veículos de passeio novos; mas as porcentagens são muito menores do que na maioria dos outros países ricos.

Então, o que a Noruega fez direito? Christina disse que as políticas do país se concentraram primeiro no que era mais fácil: incentivar as pessoas que estavam considerando comprar um carro novo a escolher um modelo elétrico.

Os noruegueses que compravam carros novos elétricos não tinham que pagar os altíssimos impostos do país sobre a venda de veículos novos. Isso tornou os modelos elétricos uma escolha óbvia para muitas pessoas, e não prejudicou aquelas que já possuíam carros convencionais ou compravam automóveis usados.

Christina também disse que a Noruega não ficou de mãos atadas frente às objeções plausíveis em relação aos veículos elétricos – Onde vamos carregá-los? Os subsídios aos carros elétricos são um benefício do governo para os ricos? Em outras palavras, a Noruega não deixou o ótimo ser inimigo do bom.

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Nem todos os países têm um sistema tributário compatível com os incentivos para a compra de veículos elétricos. (Os impostos sobre a gasolina também são muito altos na Noruega.) Mas Christina sugeriu que, para que isso funcionasse nos EUA, o país poderia impor impostos mais altos sobre os carros novos mais poluentes e usar esse dinheiro para subsidiar a compra de veículos elétricos.

O governo federal dos EUA e muitos estados já oferecem incentivos fiscais para alguns modelos elétricos. Não se costuma cobrar mais impostos daqueles automóveis que consomem mais gasolina, em parte porque os americanos não gostam de usar impostos mais altos para desencorajar comportamentos.

Os subsídios para carros elétricos não são suficientes por si só para aumentar a compra de veículos elétricos, embora tenham ajudado a dar um empurrãozinho na Noruega. Conforme mais carros novos elétricos chegavam às estradas, tornava-se mais interessante construir mais lugares para carregá-los. As montadoras começaram a dedicar mais de seu marketing aos veículos elétricos e lançaram mais modelos com uma variedade de preços e recursos. Isso está começando a acontecer nos EUA.

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Essas não são opções de política fáceis na Noruega ou em qualquer outro lugar, disse Anders Hartmann, da Asplan Viak, empresa norueguesa de consultoria em engenharia e planejamento.

Permitir que os motoristas de veículos elétricos não pagassem as taxas de estacionamento ou de pedágio foi possível quando poucos deles estavam nas estradas, Hartmann me disse, mas alguns governos locais informaram recentemente que estavam perdendo o dinheiro que usavam para financiar o transporte público. O Legislativo da Noruega tem debatido a respeito da redução dos incentivos fiscais para veículos elétricos, mas trata-se de uma tarefa difícil devido à popularidade deles.

Christina me disse que a maior mudança na Noruega é que a maioria das pessoas passou a acreditar que os carros elétricos eram para elas.

“O que realmente me surpreendeu foi a mudança de mentalidade”, disse ela.

O pai dela era uma daquelas pessoas que diziam que nunca comprariam um carro elétrico, disse Christina. Agora, seus pais também têm um modelo elétrico. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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