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Nos EUA, em 2009, filantropia chegou a US$ 303 bilhões

Tradição e sistema de tributação estimulam doações; para especialista, porém, volume doado está 'aquém' do real potencial

Por Denise Chrispim Marin CORRESPONENTE/ WASHINGTON
Atualização:

O desafio bem-sucedido dos bilionários Bill Gates e Warren Buffet de convencer seus pares a doar metade de suas fortunas para a benemerência em uma época de vacas magras provocou surpresa até mesmo em uma sociedade na qual a filantropia é um consagrado business. Nos primeiros apelos da dupla biliardária, durante jantares organizados desde 2009, pelo menos 40 afortunados aderiram à causa do Compromisso de Dar, como foi batizada a iniciativa. As adoções por cinco deles corresponderam a US$ 2,4 bilhões.A proposta de instigar a doação de metade do patrimônio, em vida ou depois da morte, entre os americanos mais ricos surpreendeu por ter sido lançada em um momento em que a atividade econômica apontava recuperação muito modesta, depois da queda de 1,7%, em 2009. Segundo Paul Brest, presidente da Fundação William e Flora Hewlett e autor do livro "Money Well Spent" (Dinheiro Bem Gasto), o movimento liderado pelo dono da Microsoft e pelo consagrado megainvestidor foi motivado por suas convicções pessoais. Mas, completou Brest, terá feito um bem danado a seus negócios. "Doar é um grande negócio. Melhora a imagem de empresários diante dos funcionários e da sociedade, traz o reconhecimento da comunidade aos doadores individuais e ainda garante dedução de imposto", afirmou. Gates é o segundo homem mais rico do mundo, com um patrimônio de US$ 53 bilhões, segundo ranking da revista Forbes. Presidente do conglomerado americano Berkshire Hathaway, Buffett possui uma fortuna um pouco menor, de US$ 47 bilhões, da qual uma fatia de 85% será destinada à Fundação Bill & Melinda Gates depois de sua morte. Ambos já eram conhecidos como filantropos nos EUA. Agora, essa imagem está consolidada mundo afora."Mas, mesmo com o esforço de Gates e Buffett, as doações continuarão muito aquém do total que poderiam alcançar."A cifra "aquém" de seu potencial foi de nada menos que US$ 303,8 bilhões no ano passado, quando a recessão americana provocou uma queda no total de doações de 3,6%, em relação a 2008, segundo a Given USA Foundation. O valor foi equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Áustria, da Grécia ou das Filipinas. Mas, nas contas de Brest, esse montante representou apenas 8,6% dos gastos públicos do governo federal americano em 2009 e, portanto, poderia ter sido mais graúdo. Neste ano, as expectativas são de crescimento desse valor, graças também à empreitada de Gates e de Buffet.Salvação. A tradição de doar está tão entranhada na sociedade americana quanto a de gerar riqueza. Ambas estão visceralmente ligadas. A raiz vem da cultura religiosa protestante, segundo a qual a salvação depende das obras - sobretudo, as de caridade. O exemplo mais claro está no feroz modelo tributação do país Regido pelo Internal Revenue Service (IRS), a Receita Federal americana. O sistema dos Estados Unidos favorece as doações - desde a contribuição para a paróquia local, até a injeção de volumes milionários em fundações e universidades. A grosso modo, ao estimular um volume de doações de US$ 303,8 bilhões, o IRS deixou de arrecadar cerca de US$ 53 bilhões.De acordo com as regras do IRS, o contribuinte pode deduzir até 50% do valor doado na base de cálculo do seu Income Tax (o Imposto de Renda federal dos EUA) se sua renda anual individual for superior a US$ 83,4 mil (R$ 141,8 mil). Os requisitos são: o total doado deve ser superior a 20% da renda do contribuinte, e os beneficiários têm de passar pelo crivo do IRS. Ou seja, todo contribuinte americano com renda anual maior que US$ 83,4 mil tem razões para doar mais de US$ 16,7 mil.Na outra ponta, esse sistema estimulou a criação de entidades receptoras, geralmente geridas de acordo com padrões éticos e de eficácia, e a formação de profissionais especializados na coleta de recursos e na administração desses "negócios". De acordo com a Given USA Foundation, 1,238 milhão de entidades de caridade estão registradas no IRS, além de mais 350 mil congregações religiosas. Todas estão isentas de tributação. Em 2009, 70,6 mil organizações pediram o registro no IRS. Apenas 472 não o conseguiram. Doadores. Nos EUA, há cerca de 75 milhões de doadores individuais - o equivalente a 24% da população do país. No ano passado, esse grupo foi injetou US$ 227,41 bilhões. Houve ainda mais de 1 milhão de empresas e 77 mil fundações entre os doadores de recursos para entidades de caridade. As doações empresariais alcançaram US$ 14,1 bilhões, com crescimento de 5,5% em relação a 2008. As fundações doaram US$ 38,4 bilhões - uma queda de 8,9%. Os alvos favoritos são as entidades religiosas, que em 2009 receberam US$ 100,9 bilhões, um terço do total doado no país. Muitos filantroposNos EUA, existem 75 milhões de doadores individuais, número equivalente quase a um quarto da população do país. Em 2009, esse grupo doou cerca de US$ 227, 41 bilhões

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