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Nos EUA, xenofobia chega à TV

Organização que representa 500 mil trabalhadores faz campanha nacional com o mote ?só contrate americanos?

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

"No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam o emprego, mas, apesar dos milhões de desempregados, nosso governo continua trazendo 1,5 milhão de trabalhadores estrangeiros por ano para pegar empregos americanos. Será que o seu pode ser o próximo?" Essa propaganda está sendo veiculada nas TVs americanas, bancada pela Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano, entidade que reúne 13 associações de classe com mais de 500 mil membros. Com o desemprego projetado para ultrapassar os 8% neste ano, organizações protecionistas como a coalizão estão apostando tudo no lobby do "hire American" (contrate americanos) para a aprovação de leis que restrinjam a entrada de trabalhadores estrangeiros legais e apertem o cerco aos ilegais que estão no país. Na semana passada, esses grupos contra trabalhadores estrangeiros comemoraram uma vitória: o pacote de estímulo aprovado pelo Congresso inclui uma medida que dificulta a contratação de funcionários estrangeiros com visto H-1B (de mão de obra especializada) pelos bancos que estão recebendo recursos do programa de resgate. Mas isso é só o começo, alertam especialistas. Segundo Bob Sakaniwa, diretor da Associação Americana de Advogados de Imigração, há uma série de propostas para restringir e dificultar a concessão de diversos tipos de visto de trabalho para estrangeiros, inclusive uma proposta de moratória. "Este Senado está mais aberto à inclusão de emendas, o que, em tempos de recessão, é perigoso porque podem surgir muitas emendas contra trabalhador estrangeiro - como a do H-1B, que foi aprovada, e a do E-Verify, que não foi", diz. O E-Verify é um mecanismo que obrigaria todas as empresas a verificarem se seus empregados estão nos EUA legalmente e, caso contrário, demiti-los, sob risco de serem punidas. A medida era uma das emendas propostas no pacote de estímulo, mas não passou. Mesmo assim, continua tramitando no Congresso. Ira Mehlman, diretor de Mídia da Federação Americana para Reforma da Imigração, pede o endurecimento das regras para entrada de trabalhadores estrangeiros. "Há um nível de 20% de fraudes nos vistos H-1B, estrangeiros fraudadores pegando muitos empregos em computação que deveriam ir para americanos", diz Mehlman. Ele, como muitos outros, defende a implementação do E-Verify. "Mais de 15% dos empregados em construção são ilegais. Para quem você acha que vão todos esses empregos de infraestrutura do pacote de estímulo?", diz Mehlman. A Coalizão diz que a "importação de trabalhadores estrangeiros" leva a uma discriminação contra trabalhadores americanos mais velhos e rouba oportunidade de muitos estudantes americanos, que teriam acesso a esses empregos, não fossem os estrangeiros. Rick Oltman, porta-voz da Coalizão, não revela o custo da campanha de mídia, mas diz que ela vai permanecer no ar por vários meses. "Não queremos que a porteira se abra ainda mais, mas as elites políticas estão nas mãos das grandes empresas, que querem a mão de obra barata. Precisamos aumentar a fiscalização para os estrangeiros entenderem que não têm mais emprego aqui, e voltarem para casa." As estimativas oficiais são de que os Estados Unidos têm hoje cerca de 12 milhões de imigrantes, entre legais e ilegais. Mas entidades anti-imigração estimam que o número chegue a pelo menos 20 milhões de imigrantes. As cláusulas de hire American estão causando o mesmo tipo de crítica que as emendas buy American que entraram no pacote de estímulo. A lei assinada por Obama determina que todo "ferro, aço e produtos manufaturados" usados em projetos do pacote seja produzido nos EUA ou a países signatários do Acordo de Compras Governamentais, como Canadá e União Europeia, e o México, que é parte do Nafta.O Brasil não é signatário e continua vetado. A lei foi denunciada como "protecionista" por vários governos e o Brasil pode acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC). As restrições ao H-1B atingiriam muitos brasileiros que entram no país com esse visto. Segundo os últimos dados da Secretaria de Segurança nacional, foram 2.688 em 2006. Os campeões são Índia (123.567), China (26.258) e Canadá (13.412).

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