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Nos países do Báltico, crise está longe de passar

Ex-repúblicas soviéticas viram mercados desmoronarem

Por Jamil Chade , TALLINN e ESTÔNIA
Atualização:

Se Alemanha e França conseguem superar a recessão, as notícias não são boas nos três países do Báltico - Estônia, Lituânia e Letônia. Eles apuraram alguns dos maiores recuos do mundo nos seus Produtos Internos Brutos (PIBs). No segundo trimestre, a queda do PIB da Lituânia foi de 12%, da Estônia mais de 3% e na Letônia 1,6%. Sem os pacotes de incentivo como os que contam Alemanha e França, esses países viram seus mercados desmoronarem pela primeira vez desde a introdução do capitalismo em 1991. As ex-repúblicas soviéticas foram até consideradas como os novos tigres emergentes. Entre 2004 e 2007, foram as economias que mais cresceram dentro da União Europeia, com média anual de 10%. Hoje, o desemprego atinge mais de 15% da população da Estônia, pessoas pedindo esmola voltaram às ruas de Tallinn e a projeção é de que os PIBs desses países terminarão o ano com as maiores quedas entre os emergentes. Na Lituânia, a queda do PIB já é de 22,4% no semestre. Na Letônia, a queda prevista é de 18% até o fim do ano. "Aqui, estamos distantes de pensar em qualquer fim da recessão", disse Oksana Voronkova, assessora econômica da prefeitura de Tallinn. A crise é tão grande que espantou os torcedores na quarta-feira da primeira apresentação da seleção do Brasil na região. Com ingressos de US$ 150,00, o jogo virou alvo de um escândalo no país. Para a Europa, o caso dos três países bálticos ilustra a incerteza e a pergunta que muitos analistas se fazem no continente: o fim da recessão na Alemanha e França significará que as economias conseguirão crescer de fato, ou apenas ficarão estagnadas? No Leste Europeu, os PIBs da Hungria, Romênia e República Tcheca também continuam em queda. O certo, por enquanto, é que no resto do mundo, dados reforçam que o pior da crise já pode ter passado. As autoridades americanas anunciaram que a maior economia do mundo e epicentro da crise se contraiu apenas 1% no segundo trimestre, em comparação ao mesmo período de 2008. Nos primeiros três meses, a queda havia sido de 6,4%. Ontem foi a vez da Europa animar os mercados. As bolsas subiram, o euro se valorizou e políticos comemoraram, ainda que de forma discreta. Mas se a recessão pode estar superada nos dois principais pilares da economia europeia, uma recuperação completa dessas economias deve ocorrer apenas em meados de 2010 e, até lá, o desemprego deve continuar a aumentar. Segundo o Banco Central Europeu, 2009 ainda será um ano "fraco" e o crescimento geral da região apenas voltaria a ocorrer em 2010. "A atividade econômica no restante do ano deve se manter fraca", disse em um boletim publicado ontem. "Para o próximo ano, depois de uma fase de estabilização, uma recuperação gradual é esperada." Os mais pessimistas também alertam que o fim dos pacotes e incentivos do Estado vai voltar a criar dificuldades para a Alemanha no início de 2010 e que a taxa de crescimento será modesta ainda por alguns meses.Se os dados começam a ser positivos para alguns, o BCE dá sinais de que não mudará por enquanto suas ações e que mantém sua projeção de uma queda do PIB europeu de 4,6% em 2009.

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