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Nos pátios, estoque para dois meses

Montadoras prevêem fechar ano com vendas de 2,81 milhões de carros, 245 mil a menos que a projeção anterior

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Com um encalhe equivalente a quase dois meses de vendas, a indústria automobilística reviu para baixo suas projeções de vendas e deve encerrar o ano com um mercado total de 2,81 milhões de veículos, 245 mil a menos que o previsto anteriormente. Produção e exportações também ficarão abaixo da meta, o que já se refletiu no nível de emprego. As montadoras demitiram 480 funcionários em novembro, após 22 meses seguidos de contratações. Montadoras e revendas encerraram novembro com 305,6 mil veículos em estoque, o suficiente para 56 dias de vendas. A última vez que atingiram marca semelhante foi em setembro de 2001, com 57 dias. Em outubro, o estoque era para 38 dias de vendas. O normal para as empresas é até 25 dias. As quatro maiores montadoras (Fiat, Ford, GM e VW) realizam feirões neste fim de semana para tentar desovar o estoque, que equivale a R$ 12 bilhões imobilizados nos pátios, segundo cálculo das empresas. Em novembro, as vendas foram 25,7% inferiores às de outubro e 25% menores que as de um ano atrás. A produção ficou abaixo de 200 mil veículos pela primeira vez em dois anos. Saíram das fábricas 194,9 mil unidades, queda de 34,4% em relação a outubro e de 28,6% na comparação com igual mês de 2007. "A freada foi muito forte", lamentou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider. Diante da falta de liquidez no mercado, juros altos e clima de desconfiança por parte do consumidor, a produção para este ano também foi revista para 3,24 milhões de veículos, 185 mil a menos que o projetado. Ainda assim, será o melhor ano da história para o setor. A Anfavea esperava um aumento de 24,2% nas vendas (para 3,06 milhões de veículos) e de 15% na produção (para 3,42 milhões de unidades). Na nova conta, os porcentuais ficarão em 14,3% e 8,8%, respectivamente. As exportações devem somar 720 mil veículos, 8,7% a menos que em 2007, ante uma projeção anterior de queda de 1%. Em valores, porém, devem crescer 1,5%, fechando em US$ 13,7 bilhões. Antes, o setor apostava em aumento de 7,4%. Para 2009, Schneider admitiu que, "se o mercado ficar do tamanho deste ano, já estará bom". Até o mês passado, ele falava em crescimento de pelo menos um dígito. Antes da crise, a projeção era de crescer de 5% a 10%. "O mundo dos últimos seis anos, do qual o Brasil tanto se beneficiou, não volta mais", disse o economista Raul Velloso. Nesse período, a indústria automobilística brasileira cresceu em média 10% ao ano. Schneider afirmou que a indústria fará "o máximo para não ter de demitir", mas ressaltou que "quem faz o posto de trabalho, em última instância, é o consumidor". No dia 1º, a Volvo, fabricante de caminhões, anunciou 430 demissões no Paraná. Todas as montadoras estão dando férias coletivas.

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