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''''Nossas exportações crescem acima da média mundial''''

Por Milton da Rocha Filho e Paula Puliti
Atualização:

O Brasil já teve uma política industrial anunciada no primeiro governo Lula, que contemplava quatro setores, que, segundo os próprios industriais, parece não ter dado grandes resultados. Quais serão as diferenças entre a primeira versão e a segunda? O sr. acha que desta vez a política industrial vai sair do papel? Discordo de que a política industrial no primeiro mandato do presidente Lula não tenha saído do papel, pois houve medidas importantes. Entre elas a Lei da Inovação estabeleceu marcos regulatórios importantes para a inovação, como a possibilidade de cooperação entre universidades, centros de pesquisa e as empresas; e a promulgação da ?Lei do Bem?, que concedeu incentivos fiscais para que as empresas possam investir em atividades inovadoras. Mas os resultados de medidas como essas são de longo prazo. Quanto tempo é necessário para que apareçam os resultados? Desenvolver a indústria é um processo demorado, que passa pela construção de capacitação tecnológica e de competitividade em áreas nas quais não éramos competitivos. Além disso, é bom lembrar que por mais de três décadas nosso debate econômico foi pautado pela inflação e pelas questões macroeconômicas e de sustentabilidade do nosso balanço de pagamentos. O atual governo teve o mérito de mudar a agenda política em relação ao desenvolvimento industrial do Brasil. O documento lançado em 2004 era de diretrizes e as novas medidas para a política industrial pretendem aprofundá-las e potencializá-las. O comportamento da balança comercial tem sido pautado pelos preços internacionais das commodities e pelo aumento das importações. Esse comportamento é sustentável por quanto tempo? É um equívoco achar que apenas o preço das commodities explica todo nosso bom desempenho comercial nos últimos anos. Claro, é um fator importante, mas não o único, e a prova é que as exportações de manufaturados também estão crescendo. Também explica esse desempenho o elevado crescimento mundial e a emergência da China como grande importadora. Mas esses não são os únicos fatores a explicar o aumento de nossas exportações, que crescem acima das exportações mundiais. Entre 2003 e 2006, elas aumentaram 88%, ante um crescimento de 59% das exportações mundiais. A implicação disso é que, nesse período, nossa participação nas exportações mundiais passou de 0,97% para 1,15%. Como o sr. vê o comportamento das exportações de manufaturados? As vendas de manufaturados vão continuar a cair? As exportações de manufaturados estão crescendo. O que aconteceu nos últimos dois anos (2006 e 2007) é que a taxa de crescimento das vendas externas de manufaturados foi menor do que nos dois anos anteriores. Em 2004, as exportações brasileiras cresceram 32% e as exportações de manufaturados cresceram 33,5%. Em 2005, novamente as exportações de manufaturados cresceram mais que as exportações totais: 23% ante 22,6% das exportações totais. Desde 2006, as exportações de manufaturados têm crescido pouco menos do que as exportações totais, mas continuam aumentando (cresceram 14,7% em 2006 e 12,3% até outubro deste ano). O menor crescimento relativo às exportações totais não ocorre porque as exportações de manufaturados crescem pouco, mas porque as commodities têm tido um excelente desempenho, fruto da conjuntura internacional favorável para esses produtos. Claro que a valorização cambial não é inócua e impacta as exportações, especialmente em alguns tipos de produtos. O sr. poderia dar exemplos? Alguns setores são mais afetados. Em produtos nos quais competimos apenas em preço, os impactos são maiores do que em produtos nos quais a tecnologia, a marca e a diferenciação de produto são fatores competitivos importantes.Por isso, setores intensivos em mão-de-obra tendem a ser mais prejudicados pelo câmbio do que o conjunto da indústria. Entretanto, o governo e o ministério devem atuar para ampliar nossas exportações, independentemente do nível do câmbio. O que o sr. destaca como a principal mudança na nossa balança comercial nos últimos anos? Produtos, países? Nos últimos anos, o grau de abertura de nossa economia tem aumentado de forma expressiva. Há 10 anos, os fluxos de comércio representavam cerca de 13% do PIB brasileiro, hoje, são mais de 21%, uma mudança significativa, que mostra um novo patamar da inserção externa do País. Nosso atual saldo comercial também nos dá mais tranqüilidade para enfrentar cenários internacionais adversos do que há uma década. Também temos mantido a tendência de diversificar nossos mercados de destino. Por fim, também chamaria a atenção para as mudanças das estratégias empresariais. O mercado internacional parece estar se tornando um elemento fundamental na definição das estratégias das empresas brasileiras. O sr. pode avaliar o impacto da TV digital na balança comercial do setor elétrico e eletrônico? Ainda é muito cedo para avaliarmos esse impacto. Mas podemos prever que ela provocará um ligeiro aumento do tradicional déficit comercial do setor de componentes eletrônicos, porque estamos importando peças para a fabricação dos aparelhos de TV e conversores para o sinal digital - e ainda teremos que fazê-lo por algum tempo. No que cabe ao ministério, o comportamento da balança do setor elétrico e eletrônico como um todo e da TV digital em particular deverá ser influenciado pela segunda fase da política industrial, a ser anunciada brevemente. Há quatro anos, na primeira fase dessa política, foram adotadas medidas para incentivar a fabricação de componentes eletrônicos no Brasil. Agora, haverá ainda mais incentivos para desenvolvermos esses componentes, na linha do que já comentei: aumentarmos a produção no Brasil de bens e serviços de maior valor agregado e mais intensivos em tecnologia. O superávit da balança comercial em 2008 pode repetir 2007? A previsão do Banco Central e da Secretaria de Comércio Exterior do ministério é que, em 2008, o superávit se reduzirá um pouco, pelas taxas de maior crescimento nas importações do que nas exportações. Entretanto, essa redução será gradual.

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