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Nova ajuda do FMI pode ser necessária, diz ex-secretário

Por Agencia Estado
Atualização:

Para o ex-secretário-adjunto do Tesouro para Assuntos Internacionais Edwin Ted Truman, a opção de uma eventual nova ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao Brasil não deve ser descartada, apesar da afirmação que o secretário do Tesouro, Paul O´Neill, fez na última sexta-feira, deixando clara sua oposição a tal assistência - que o País não pediu. O´Neill não repetiu a desastrada declaração na nota bem mais positiva que divulgou na mesma noite para "clarificar" seus comentários iniciais, depois de ouvir os protestos de Brasília e as críticas de vários setores da administração, que foram surpreendidos por sua declaração. Truman disse que, a despeito de O´Neill ter declarado sua oposição pessoal a um eventual novo crédito do FMI ao Brasil, ele suspeita que "essa opção continua a existir". Fontes da administração Bush disseram que a declaração de retificação que O´Neill fez representa a política oficial dos EUA. Elas indicaram que a administração, que anda às voltas com a perda de confiança dos americanos no mercado acionário, por causa de uma sucessão de escândalos com empresas, está consciente sobre as implicações regionais e globais de um agravamento da crise brasileira. "Se os fundamentos da economia brasileira estão bem, o que é provavelmente um exagero, e se a causa da crise é, de fato, apenas política, como estão todos dizendo, então estamos diante de um caso perfeito para justificar mais assistência do FMI", se ela se fizer necessária, disse Truman. Em sua opinião, o argumento usado por O´Neill sobre a natureza da crise de confiança que o Brasil atravessa deveria tê-lo levado à conclusão oposta à que chegou ou, pelo menos, a evitar abrir mão de uma opção de política que não foi sequer cogitada. Antes de tornar-se secretário-adjunto do Tesouro, nos três anos finais da administração Clinton, Truman foi, durante 20 anos, diretor do Departamento Internacional do Federal Reserve (o banco central dos EUA). Nessas duas posições, ele participou das negociações de todas as crises financeiras internacionais a partir da quebra do México, em agosto de 1982. Truman está hoje no Instituto de Economia Internacional. O experiente economista vê dois tipos de repercussão negativa para os interesses dos EUA na turbulência dos mercados em relação ao Brasil. "O maior problema é que as pessoas (em posições de poder), ao redor do mundo, que são favoráveis a maiores restrições à assistência internacional e têm opiniões extremadas sobre o papel do FMI, podem querer usar essa situação para fechar o Fundo em nome de dar uma lição ao sistema financeiro internacional", disse Truman. Ele afirmou que, embora os EUA levem a fama, esse tipo de posição é mais facilmente encontrável em outros governos do Grupo dos 7, particularmente na Alemanha e no Canadá, do que na administração americana. Outra preocupação, que Truman compartilha, foi manifestada nesta segunda-feira por mais de um analista. "Essa crise não se justifica", disse um deles, nesta segunda, depois de participar de uma teleconferência com dois diretores do Banco Central, Ilan Goldfajn e Luiz Fernando Figueiredo. "Eles têm razão quando apontam para as diferenças fundamentais que existem entre a situação atual e crises financeiras anteriores: o Brasil tem um sistema cambial efetivo e em pleno funcionamento, um sistema bancário saudável, a maior parte da dívida é interna, o governo tem uma posição fiscal forte e capacidade de aumentar a receita", disse. "O perigo da situação é que, se o mercado se convencer de que a dívida é o problema, como está acontecendo, e ajudar a realizar sua própria profecia, arrastando o Brasil a uma crise, os brasileiros terão razão em ficar desencantados com o mercado."

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