Publicidade

Nova conversibilidade seria analisada na Argentina

Por Agencia Estado
Atualização:

Pressionado pela alta da inflação, a escalada do dólar e a desconfiança persistente da população na moeda nacional, o peso, o governo do presidente Eduardo Duhalde estaria analisando um eventual retorno a um velho amor dos argentinos, neste caso, uma forma de conversibilidade econômica. A Argentina abandonou o sistema de conversibilidade no início deste ano, após uma década de paridade um a um entre o peso e o dólar. A nova conversibilidade, no entanto, não teria a mesma paridade. A nova relação entre a moeda americana e a argentina seria de US$ 1,00 para uma faixa entre 3,00 pesos e 4,00 pesos. Esta seria a paridade possível com as exauridas reservas internacionais do Banco Central, atualmente em US$ 10 bilhões. Extra-oficialmente comenta-se que a equipe econômica de Duhalde teria chegado à conclusão de que o estabelecimento de um câmbio fixo na Argentina seria impossível sem uma conversibilidade, o que permitiria que os argentinos pudessem trocar quando quisessem pesos por dólares. Além disso, com a conversibilidade, o governo poderia atender uma das novas exigências do FMI, a de criar uma barreira para a escalada da inflação. No entanto, dentro do ministério da Economia também existiria o temor de que uma nova conversibilidade possa implicar uma dolarização forçada, já que os argentinos ? altamente desconfiados do governo - correriam aos bancos para trocar seus pesos por dólares. Uma das sugestões que o governo Duhalde analisa é a do economista Aldo Abram e a equipe da consultora Exante. Segundo Abram, é preciso estabilizar o dólar com o menor tipo de câmbio possível, utilizando a menor quantidade de reservas. Abram afirma que, desta forma, poderiam sobrar reservas em quantidade suficiente para realizar a reestruturação financeira do país. Mas, oficialmente, o ministério da Economia desmente que esteja sendo analisada a possibilidade de uma nova conversibilidade. A city financeira de Buenos Aires esteve coalhada de pessoas que desejavam adquirir dólares. Os temores de uma nova disparada da moeda americana e os rumores de uma nova conversibilidade levaram milhares de portenhos ao centro da cidade, onde fizeram filas de até dois quarteirões na frente dos bancos e das casas de câmbio. Outro fator que causou instabilidade foi o anúncio de que o acordo com o FMI poderia demorar mais do que estava previsto. Em fevereiro, o governo prometeu que o acordo estaria pronto em março. De lá para cá, o acordo sempre foi atrasado um mês atrás do outro. Nesta sexta-feira, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, afirmou que o acordo poderia estar pronto para ?fins de junho ou meados de julho?. Ao contrário dos intensos rumores dos últimos dias, que indicavam que o Banco Central deixaria de intervir no mercado cambial, Lavagna disse que isso estava descartado. Nos bancos, o dólar teve uma cotação de 3,60 pesos, enquanto nas casas de câmbio a cotação chegou a 3,73 pesos. Coincidentemente à análise de um eventual retorno para uma nova forma de conversibilidade econômica, o ?pai? da defunta paridade um a um entre o peso e o dólar, recuperou a liberdade. Nesta sexta, o ex?ministro da Economia, Domingo Cavallo, saiu da prisão, onde esteve desde o dia 3 de abril. ?Mingo? (diminutivo de Domingo) para os amigos, ou ?El maldito pelado? (O maldito careca) para grande parte da população, havia sido acusado pelo juiz federal Julio Speroni de ser cúmplice direto do contrabando de armas para a Croácia e o Equador, entre 1991 e 1995. No entanto, nesta sexta, a Câmara de Justiça Penal e Econômica, determinou que não havia provas da cumplicidade de Cavallo e ordenou sua imediata liberação. Na semana passada, 30 economistas da Sorbonne enviaram uma carta ao presidente Duhalde pedindo a liberdade de Cavallo. O ex?ministro é amigo do atual presidente Eduardo Duhalde. O presidente, desde que chegou ao poder, em janeiro deste ano, nunca efetuou um ataque direto contra Cavallo, preferindo criticar de forma mais genérica o ?modelo econômico?. Pouco antes da prisão de Cavallo em abril, circularam fortes rumores de que Duhalde estava consultando o ex?ministro sobre uma nova forma de conversibilidade. O retorno de ?Mingo? ao comando do ministério da Economia é algo totalmente descartado. No entanto, na Casa Rosada, a sede do governo, haveria certa intenção de que Cavallo ? que ainda possui relativo prestígio no exterior ? pudesse assessorar Duhalde de maneira informal sobre a conversibilidade. Cavallo é uma das pessoas mais impopulares na Argentina. Nesta sexta, ao meio-dia, quando foi divulgada a informação de que estaria livre em poucas horas, centenas de correntistas furiosos com o ?corralito? (semicongelamento de depósitos bancários), protestaram pelo centro da cidade. Cavallo foi criador do corralito, em vigência há seis meses. Outra coincidência é que o ex?presidente Carlos Menem (1989-99) desembarcará neste domingo nos Estados Unidos, onde pretende conseguir apoio de setores políticos e financeiros para seu projeto de dolarização da economia argentina. ?El Turco?, como é conhecido, é inimigo político de Duhalde e Cavallo. Além disso, o atual presidente e o polêmico ex?ministro sempre se opuseram à dolarização da economia. Uma multidão protestou na frente do edifício onde Cavallo reside, pedindo que o ex?ministro seja colocado novamente atrás das grades. Os governadores de algumas províncias controladas pelo maior partido de oposição, a União Cívica Radical (UCR), se preparavam nesta sexta, no início da noite, para assinar a carta de intenções do acordo de ajuste fiscal de 60% de seus déficits fiscais. As províncias que assinariam seriam as de Chaco, Entre Ríos e Mendoza. Este ajuste é uma das várias exigências que o FMI estipula para a Argentina, como forma de liberar a ajuda financeira que o país precisa. Enquanto isso, outro grupo de governadores, do partido do governo, o Justicialista (Peronista), analisavam a possibilidade de ir à Washington e negociar diretamente com o Fundo um ?abrandamento? do ajuste. Os governadores argumentam que o ajuste causaria demissões em massa no funcionalismo público, fato que poderia ser um estopim para novos conflitos sociais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.