'Nova política fez financiamento no Nordeste crescer 20% no 1º semestre', diz secretário
Segundo Alfredo Santos, nova política teve efeitos positivos e impulsionou empréstimos habitacionais na Região
Entrevista com
Alfredo Santos
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Alfredo Santos
30 de agosto de 2021 | 05h00
BRASÍLIA. Mesmo com um Orçamento restrito para tocar o programa Casa Verde e Amarela, o secretário nacional de Habitação, Alfredo Santos, avalia ao Estadão/Broadcast que o primeiro ano da nova política produziu efeitos positivos ao impulsionar financiamentos habitacionais na Região Nordeste, antes com menor participação no programa. Segundo o secretário, a redução dos juros colocou o crédito habitacional ao alcance de 1 milhão de famílias, e uma nova mudança nos subsídios pode ampliar a mais 650 mil. A falta de Orçamento para avançar nas demais frentes, porém, segue sendo um limitador. Confira os principais trechos da entrevista:
Os dados são bastante positivos, considerando que a MP (medida provisória que criou o Casa Verde e Amarela) foi em agosto de 2020 e transformada em lei em janeiro deste ano. Nesse período, avanços aconteceram. O primeiro é justamente a produção habitacional financiada. Uma das nossas propostas era ampliar a participação do programa nas regiões Norte e Nordeste. Fizemos alterações operacionais, a mais relevante delas a redução da taxa de juros, em especial no Norte Nordeste. Comparando o primeiro semestre de 2021 com o de 2020, teve evolução de 12% na contratação. No Nordeste, este número supera 20%. Isso é reflexo da política.
Durante os últimos seis meses, junto com o Ministério da Economia, a gente vem preparando uma proposta de alteração na curva dos subsídios, que complementa a capacidade de pagamento do trabalhador. Percebemos que o programa estava indo muito bem para vendas (a famílias que ganham) acima de R$ 2 mil, e a performance não estava tão boa abaixo disso. A proposta ao Conselho Curador (do FGTS) altera essa curva, melhorando a capacidade de compra das famílias. Ao mesmo tempo, considerando o incremento de custos que ocorreu na construção civil em geral, estamos propondo atualização de valores para que se mantenha a atratividade do mercado. Isso fecha o ciclo de melhorias na parte (de moradia) financiada.
Conforme aumenta o valor do subsídio, isso vai permitir que as famílias tenham menos compromisso com a entrada no valor do imóvel, que hoje é o grande dificultador. O número que nós temos é que aquela redução da taxa de juros à época abriu a possibilidade de ao redor de um milhão de famílias acessarem o programa. Se o conselho entender que nossa proposta é adequada, com alteração na curva de subsídios colocamos mais 600 mil, 650 mil famílias. Agora, não adianta se não tiver, para o mercado, um ajuste no valor de enquadramento das unidades. Desde 2017 não tem alteração. Com esse aumento absurdo de custo, começa a ficar tão apertado que as empresas podem parar de operar porque não têm margem.
Isso. Mas não é que nós estamos aumentando o valor do imóvel. Nós estamos aumentando o valor que o imóvel pode se enquadrar no programa. O valor máximo hoje que o imóvel pode valer em Brasília, São Paulo e Rio é R$ 240 mil. Com a mudança, será X. Para enquadrar, pode custar um pouco mais.
Ainda não posso dizer, porque estou fazendo uma proposta. É o Conselho que define.
O programa foi lançado em agosto de 2020, com a PLOA (proposta orçamentária) de 2021 finalizada. Estava bastante claro que nós não teríamos Orçamento da União para lançar o programa. Trabalhamos internamente para viabilizar ainda este ano com recursos privados, vindos dos cotistas privados do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS). Tivemos que fazer uma série de aprovações e adequações, e no dia 19 foram aprovadas no conselho curador do FDS as condições de utilização. Essa barreira nós vencemos. De outro lado, temos aproximadamente 2,1 mil municípios que já aderiram. A intenção é no final do mês de setembro lançar o primeiro edital para contratação de regularização fundiária e melhoria habitacional, com recursos privados, e no próximo ano estar mais robusto, com recursos do Orçamento Geral da União.
Tudo é ponto de vista. Do nosso ponto de vista, correu bem. Desde o princípio não tinha recursos orçamentários da União. Então a gente fez toda essa negociação e tivemos que duas vezes fazer alteração legislativa para criar as condições. Considerando a trajetória, a gente andou bem.
Acredito que sim. Quando lançamos, a meta para o primeiro ano eram até 107 mil unidades regularizadas mais 20% de melhorias. É isso que vamos contratar (em 2021). Temos como ideia tomar tração no ano que vem. O Minha Casa, Minha Vida foi lançado em 2009 e começou a virar mesmo política pública no final de 2011 e em 2012, quando começou a pegar tração. De forma objetiva, é viável atingir a meta.
Em 2020, a gente já tinha atingido a meta de 50 mil unidades retomadas. Para este ano, nossa meta é conseguir retomar mais 40 mil. Então seriam 90 mil das 130 mil unidades paralisadas. Tem unidades com complexidade, vamos ter que avaliar a viabilidade econômico-financeira de retomar. Tem um exemplo no Pará, a obra começou, evoluiu até 10%, foi invadida e regrediu. Se fosse retomar a obra hoje, o valor necessário... estamos pensando se vale a pena. É como se fosse começar do zero, com o Orçamento atual.
Estamos na expectativa, e o ministro (Rogério Marinho) tem negociado junto com o governo e o Parlamento para ter recomposição. Todos os envolvidos têm consciência da importância da política.
Ao redor de 280 mil unidades.
Nós estamos trabalhando para isso.
Não diria zerar o estoque, mas pelo menos retomar todas aquelas que podem ser retomadas, isso dá horizonte de quanto preciso de Orçamento. Conforme vai entregando, havendo espaço a gente pode voltar a contratar.
Vai depender da condição orçamentária. Produção habitacional sempre é muito importante, é política prioritária, mas primeiro a responsabilidade. Essa é a demanda do presidente, das obras paralisadas, tem que concluir primeiro.
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